Maria Aparecida, 48 anos, foi violentada em março de 1975. Ela mesma se prontificou para contar sua história, pois é intransigentemente contrária ao aborto. O estupro que resultou em gravidez teve para ela conseqüências gravíssimas: a perda do noivo (que não aceitou a criança), a incompreensão dos parentes, surras diárias de sua mãe (que não acreditava que a gravidez resultasse de um estupro), e um parto por cesariana. Seu filho Renato está agora cursando a faculdade.
– O que a senhora sentiu quando o filho nasceu?
Maria Aparecida: Eu não vi, porque fiquei na UTI. Mas quando eu voltei e vi o meu filho… Nossa! Eu senti a pessoa mais feliz do mundo! Não me lembrei de problema nenhum!
– A senhora se arrepende de não ter abortado?
Maria Aparecida: Nunca!
– Se a senhora tivesse abortado, o que estaria sentindo hoje?
Maria Aparecida: Muito mal. Consciência pesada. Remorsos.
– A senhora acha que qualquer mulher estuprada sentiria remorsos?
Maria Aparecida: Sim. Pelo resto da vida! Eu tenho certeza. Pois eu tenho remorso só de ter pensado em abortar!
– Quando a senhora olha para o seu filho, pensa no estupro?
Maria Aparecida: Não. O preço por ter um filho de estupro é altíssimo. Mas o preço da consciência pesada é muito maior. Eu tenho certeza que quem aborta vive sempre com um martelinho na mente batendo, para que nunca esqueça que é criminosa.
– Criminosa, mesmo em caso de estupro?
Maria Aparecida: Mesmo em caso de estupro. De qualquer maneira.
– A mulher que sofre estupro não tem o direito de abortar?
Maria Aparecida: Não.
– Por que não?
Maria Aparecida: Porque a criança que está no ventre dela não tem culpa de nada.
– O que a senhora sente quando olha para o seu filho?
Maria Aparecida: Eu sinto amor demais! E não suportaria agora pensar que ele não existiria, quando visse uma pessoa da idade dele. Valeu a pena e está valendo. Olha! Se você sofre demais para conseguir uma coisa, é muito mais amor. Porque esse filho é o que mais deu dilema.
[Maria Aparecida foi entrevistada em sua casa no dia 16/02/97]
Diz o Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz:
“Os Juizados de Menores estão com filas enormes de casais à espera de uma criança para adoção. Em último caso, será muito pedir à vítima de estupro que deixe a criança nascer e depois doe a quem quiser adotá-la? Será que a “solução” é matar?
Oferecer à mulher violentada a possibilidade de abortar é, além de tudo, um enorme desserviço prestado a ela. No estado de profundo abalo emocional, ela não é capaz de decidir retamente, e poderá facilmente aceitar o aborto que lhe propõem. Posteriormente, ela sofrerá traumatismos psíquicos, diante dos quais o trauma do estupro é irrisório. Cito palavras da mesma senhora Maria Aparecida citada acima:
Se é verdade que eu já presenciei várias vezes a alegria imensa de uma mãe pela presença do filho fruto de um estupro, a ponto de aliviar ou mesmo curar o trauma da violência, também é verdade que nunca vi o caso de um aborto trazer alívio psicológico para uma mulher. As conseqüências do aborto são tão gravosas, que chegam a constituir um quadro clínico, que os médicos chamam “síndrome pós-aborto”.
Como sacerdote, acostumado a ouvir confissões de moças e senhoras, posso dizer que não conheço algo que arruíne tão horrivelmente a psiqué de uma mulher quanto a lembrança de ter praticado um aborto.” (Pe. Luiz Carlos Lodi)
Entrevistas com outras vítimas de estupro podem ser encontradas na página:
http://www.providaanapolis.org.br/estupro.htm