É a vontade de Deus que nos santifica

A obediência da fé (Rm 1,5)

Os santos ensinam, com unanimidade, que o caminho da santidade é “fazer a vontade de Deus”. Isto nos santifica porque nos conforma com Jesus, o modelo da santidade, que, acima de tudo queria fazer a vontade de Deus em todo tempo.

A Encarnação foi a maneira que Jesus encontrou para, como Homem, fazer perfeitamente a vontade de Deus, que Adão não quis fazer, e assim anular o seu pecado.
A vontade de Deus nem sempre não coincide com a nossa. E aí está o primeiro passo para amar a Jesus: abdicar do que nós queremos, para fazer o que Ele quer. É o que São Paulo chamava de “a obediência da fé” (Rm 1,5), sem o quê é “impossível agradar a Deus” (Hb 11,6), já que o “justo vive pela fé” (Hab 2,4; Rm 1,17).
O profeta Isaías disse: “Meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor, mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 8-9).

A lógica de Deus é diferente da nossa porque Ele vê todas as coisas, perfeitamente, enquanto a nossa visão é míope e limitada. É como se olhássemos a vida como um belo tapete persa, só que pelo lado do avesso.
Não podemos duvidar de que a vontade de Deus para nós “seja a melhor possível”, mesmo que seja incompreensível no momento.

O que mais agrada a Deus é trocarmos, consciente e livremente, a nossa vontade pela d’Ele, porque Isto é prova de muita fé, concreta. Quando damos esse passo, Ele substitui a nossa miséria pelo seu poder. Portanto, é preciso a cada dia, a cada passo, em cada acontecimento da vida, fazer esse exercício contínuo de aceitar a vontade do Senhor, que sabe o que faz.

São Bernardo, doutor da Igreja (†1153) disse: “Se os homens fizessem guerra à vontade própria, ninguém se condenaria”.  Este é o segredo para se abandonar aos desígnios de Deus: ele é Pai, ele nos ama, ele quer só o nosso bem, por mais adversas e incompreensíveis que sejam a situação que vivemos. Ele está no leme do barco da nossa vida. É preciso confiar!

Deus é o maquinista do trem da nossa vida, por isso não precisamos nos preocupar com a nossa sorte. O salmista diz: “Confia ao Senhor a tua sorte, espera Nele: Ele agirá” (Sl 36,5). “Mas eu Senhor, em vós confio… meu destino está em vossas mãos” (Sl 30,15-16)
Santo Afonso de Ligório (†1787), doutor da Igreja, resumia tudo dizendo: “Fazer o que Deus quer, e querer o que Deus faz”.

São Paulo insistia nisso; dar graças a Deus em  tudo é o que alegra ao Senhor, pois é o melhor testemunho de fé que lhe damos. Esta atitude consciente elimina a tristeza da nossa vida, arranca de nós o mau humor, a impaciência, a grosseria com os outros e a perigosa lamentação. É nessa perspectiva que S. Paulo dizia: “Ficai sempre alegres, orai sem cessar. Por tudo dar graças” (1Tes 5,16). Não seremos felizes de verdade e não teremos paz duradoura, sustentada, enquanto não nos rendermos à santa e perfeita vontade de Deus.

“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!…  O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com nada; mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela oração e pela súplica, em ação de graças. Então a paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Fil. 4, 4-7).
O santo vive na paz e na perene alegria, embora caminhando sobre brasas muitas vezes. São João Bosco dizia que “um santo triste é um triste santo”, e o seu discípulo, São Domingos Sávio, dizia que a santidade consiste em “cumprir bem o próprio dever e ser alegre”.

São Paulo perguntava: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31). E o Apóstolo explicava a razão dessa esperança: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho (…) como não nos dará com Ele todas as coisas“? (8,32).
É nessa mesma fé e esperança que o santo vive; a cada instante repetindo para si mesmo aquela palavra do Senhor: “Não vos preocupeis por vossa vida… Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos?… São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais  de tudo isso” (Mt 6,25-32).
Jesus ensina o que é essencial: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça” (6,33), isto é, fazer a vontade de Deus.

Também conosco será assim; é nos momentos mais difíceis da vida, nas crises de toda espécie, que temos a oportunidade de fazer a vontade de Deus da melhor maneira; especialmente quando Deus nos pede beber o cálice da amargura. O que fazer? Correr, fugir?
A vontade do Pai deve ser perfeitamente realizada na terra como é no céu. Quando isto acontecer, então o Reino dos céus acontecerá na terra plenamente.

Na última Ceia Jesus Cristo disse a seus apóstolos: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Quem não luta para guardar os Mandamentos de Deus, não ama a Deus. É por amor a Jesus que devemos amar os Mandamentos e não pecar. Eles são o caminho da conduta moral que nos leva à perfeição querida por Deus.
Infelizmente, em nossos dias, os homens querem fazer a própria moral e não mais viver a moral que Deus nos deu. É o que nos tem dito o Papa Bento XVI, “a ditadura do relativismo”: cada um faz a moral e a doutrina que quer; como se Deus não existisse e não tivesse revelado suas leis; e quem não aceita esta “nova mentalidade”, é, então, taxado de retrógrado, obscurantista e atrasado. É uma verdadeira ditadura do homem contra Deus. É como se a verdade não existisse e o bem fosse igual ao mal.

Prof. Felipe Aquino

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Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino