Dizer que “Vida de Deus existe em todas as religiões”, é lançar joio no trigo puro do Senhor; é um convite terrível para que os católicos se liguem a outras religiões, já que em todas elas existe “Vida de Deus”. No mínimo essa afirmação dá à Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo um sentido relativo; algo dispensável.
Se todas as religiões são boas, se em todas elas está a “Vida de Deus”, então, todos os deuses são verdadeiros e todos os credos dessas religiões são válidos e a morte de Cristo foi em vão, o trabalho de evangelização da Igreja é inútil; os mártires morreram e morrem hoje em vão.Desta forma se nivela Jesus Cristo com Buda, Maomé, Massaharu Tanigushi, Alan Kardec, etc. Se é assim, então, para que 2000 de lutas da Igreja contra as heresias, os 21 Concílios ecumênicos para vencer o arianismo, o pelagianismo, o nestorianismo, o macedonismo, o monofisismo, o monoteletismo, o iconoclasmo, o jansenismo, o protestantismo e outras heresias?
Será que tudo isso foi em vão? Uma perda de tempo da Igreja e dos seus santos Padres, santos e doutores? Não, ao aprovar o Catecismo em 1992, na “Constituição Fidei depósitum” o Papa disse: “Guardar o depósito da fé é a missão que o Senhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre em todos os tempos”. A Igreja sabe que se o sagrado “depósito” (1Tm 6,20) , a “sã doutrina” (1Tm 1, 10; Tt 2, 1), for corrompido, tudo estará perdido. Para São Paulo, a salvação está na verdade e esta está na Igreja. “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade!” (1Tm 2, 4); mas, “A Igreja é a coluna e fundamento da verdade” (1Tm 3,15). S. Paulo fala do perigo das “doutrinas estranhas” (1 Tm 1,3); dos “falsos doutores” (1 Tm 4, 1-2).
Evangelizar é levar o Evangelho da salvação a todos os povos. A ordem do Senhor é esta: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,19-20).
E sabemos que não há salvação fora de Jesus Cristo e da Igreja Católica. São Pedro diz claro:
“Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos”. (At 4, 12). São Pedro explica-nos que essa salvação eterna foi conquistada “não por bens perecíveis, como a prata e o ouro… mas pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imolado” ( I Pe 1,18).
“Carregou os nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados” (1 Pe 2,24).
Jesus não disse: eu sou “um” caminho, como se houvesse muitos, não. Ele disse: eu sou “o” Caminho, “a” Vida, “a” Verdade. Fora de Jesus Cristo não há vida eterna. O nosso Catecismo diz no seu §846 que:
“Fora da Igreja não há salvação”. “Como entender esta afirmação, com frequência repetida pelos Padres da Igreja? Formulada de maneira positiva, ela significa que toda salvação vem de Cristo-Cabeça através da Igreja que é o seu Corpo: Apoiado na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição, [o Concílio] ensina que esta Igreja peregrina é necessária para a salvação. O único mediador e caminho da salvação é Cristo, que se nos torna presente no seu Corpo, que é a Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do batismo, ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo batismo, como que por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar, ou então perseverar (LG 14)”.
Fora da Igreja Católica, há sementes de verdade e de bem, que devem ser reconhecidas, como disse o Concílio Vaticano II, mas não a verdade plena, e nem a “plenitude dos meios da salvação”, que só existe na Igreja Católica (Unitatis Redintegratio, 3).
No Consistório dos Cardeais, em Roma, de 4 a 6 de abril de 1991, o Cardeal Josef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, fez um alerta importante: apresentou uma nova teoria nascida em alguns ambientes teológicos que distingue entre o Cristo cósmico Logos e Jesus Cristo histórico. O Cristo Logos cósmico “estaria presente em todas as religiões do mundo”, não só no Cristianismo, ao passo que o Cristo histórico só no Cristianismo. Isto leva à conclusão de que não se deveria fazer um esforço missionário de evangelização e catequese dos povos não católicos, mas apenas cuidar da promoção temporal e econômica de todos os povos.
A tese é muito perigosa, pois anula o conceito de verdade e relativiza todas as mensagens religiosas, colocando no mesmo plano o politeísmo, o panteísmo e o monoteísmo, como se todas as religiões fossem boas e igualmente verdadeiras.
Eis um resumo das colocações do Cardeal sobre este perigo:
“As conseqüências sobre a missão são simplesmente devastadoras. A finalidade da evangelização é desviada e reduzida, a necessidade da fé em Jesus Cristo, do batismo e da Igreja, é posta em dúvida. “Neste contexto do pluralismo religioso – exclama um teólogo indiano – ainda tem sentido proclamar Cristo como o único Nome em que todos os homens encontram a salvação a chamar a fazerem-se discípulos mediante o batismo e a entrar na Igreja”?
A evangelização no sentido global, em que o “novo ponto focal” é a construção do Reino, ou seja, da nova humanidade, consistiria só no diálogo, na inculturação e na libertação. Estranha mas significativamente, é omitido o anúncio ou proclamação; antes, ela é classificada como propaganda ou proselitismo. A evangelização é reduzida ao diálogo de tipo social ou à promoção econômico-social e à “libertação” das raças com todos os meios, incluída a violência. Sobre a conversão, um teólogo indiano escreve: “A conversão religiosa é o resultado do jacobinismo ocidental e da sua intolerância… A conversão nasce do sentido de superioridade de uma religião a respeito de outra, enquanto nenhuma religião tem o monopólio da verdade”.
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O abandono das estações missionárias, das pregações do Evangelho e da catequese, por parte dos missionários, do clero, das religiosas, e a fuga para obras sociais, como também o contínuo falar em sentido redutivo dos “valores do Reino” (justiça, paz) é um fenômeno difundido na Ásia e propagandeado por alguns centros missionários, também noutros continentes.”
Note que este Jesus histórico teria outras manifestações paralelas e equivalentes. Assim, o objetivo do catolicismo não seria reunir todos os povos na Igreja fundada por Jesus Cristo, e entregue a Pedro e seus sucessores (cf. Lumen Gentium nº 14; Decreto Ad. Gentes nº 7), mas apenas reunir todos os homens, de qualquer religião, no Reino de Deus. Mas este Reino não seria caracterizado por uma única crença religiosa, um Credo católico, mas, por amor, justiça, paz, bem estar da humanidade, ecologia, libertação dos homens…; logo, o zelo missionário seria condenável como proselitismo e intolerância, e a evangelização se reduziria à promoção econômico-social e à libertação das raças.
Prof. Felipe Aquino