Os Evangelhos são de fato históricos?

O Catecismo da Igreja afirma com segurança: “A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles, até ao dia que foi elevado” (§ 126; Dei Verbum 19).

Como já vimos há mais de 5000 manuscritos (cópias) do texto original grego do Novo Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. São 81 papiros; 266 códices maiúsculos; 2754 códices minúsculos e 2135 lecionários. Os papiros são os mais antigos testemunhos do texto do Novo Testamento. Estão nos EUA, na Itália, Áustria, Paris, Londres, Moscou, Alemanha… e datam do dos séculos II a VI. Existem 76 papiros do texto original do Novo Testamento. Acham-se ainda em Leningrado (p11, p68), no Cairo (p15, p16), em Oxford (p19), em Cambridge (p27), em Heidelberg (p40), em Nova York (p59, p60, p61), em Gênova (p72, p74, p75),… Desses papiros alguns são do ano 200. É, por exemplo, do ano 200 aproximadamente, o papiro 67, guardado em Barcelona.

O valor de tais testemunhas ainda se torna mais evidente se considera o estado de conservação das obras dos autores clássicos. Destas se possui às vezes um só manuscrito (ao passo que dos Evangelhos existem mais de cinco mil). Além disso, o autor que melhor se pode conhecer é Virgílio († 19 a. C.); no entanto há  um intervalo de 350 anos entre a morte deste poeta e o mais antigo manuscrito do mesmo hoje conservado. Para Tito Lívio († 17 d. C.), o intervalo corresponde é de 500 anos; para Horácio († 18 a. C.), é de 900 anos; para Júlio César (†  44 a. C.) e Cornélio Nepos († 32 a. C.), 1200 anos; para Platão († 347 a. C.) e Tucídides (†  395 a. C.), 1300 anos; para Eurípides (†  407/6 a. C.), 1600 anos!

Vemos, então, que a transmissão desses clássicos antigos, gregos e latinos, tão usados pela humanidade, com total credibilidade, tiveram uma transmissão muito mais precária do que o Novo Testamento, com os seus mais de 5000 manuscritos, muito mais próximos de seus originais. Se a humanidade não põe em dúvida a autenticidade desses textos latinos e gregos, então, jamais poderá questionar a autenticidade do Novo Testamento.

As fontes dos primeiros séculos confirmam a autenticidade do Novo Testamento. Vejamos apenas uns poucos exemplos. Atente bem para as datas.

Evangelho de Mateus – No ano 130, Bispo Pápias, de Hierápolis na Frígia, região da Ásia Menor, que foi uma das primeiras a ser evangelizada pelos Apóstolos, fala do Evangelho de São Mateus dizendo: “Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pode” (Eusébio, História da Igreja III, 39,16).

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Quem escreveu essas palavras foi o bispo Eusébio, de Cesaréia na Palestina, quando por volta do ano 300 escreveu a primeira história da Igreja. Ele dá o testemunho histórico de Pápias. Note que Pápias nasceu no primeiro século, isto é, no tempo dos próprios Apóstolos; S. João ainda era vivo. Portanto este testemunho é inequívoco.

Outro testemunho importante sobre o Evangelho de Mateus é dado por Santo Irineu (†200), do segundo século. Ele foi discípulo do grande bispo S. Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de S. João evangelista. S. Irineu na sua obra contra os hereges gnósticos, também fala do Evangelho de Mateus, dizendo: “Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja.” (Adv. Haereses II, 1,1).

Evangelho de São Marcos – É também o Bispo de Hierápolis, Pápias (†130) que dá o primeiro testemunho do Evangelho de Marcos, conforme escreve Eusébio: “Marcos, intérprete de Pedro, escreveu com exatidão, mas sem ordem, tudo aquilo que recordava das palavras e das ações do Senhor; não tinha ouvido nem seguido o Senhor, mas, mais tarde, Pedro. Ora, como Pedro ensinava, adaptando-se às várias necessidades dos ouvintes, sem se preocupar em oferecer composição ordenada das sentenças do Senhor, Marcos não nos enganou escrevendo conforme recordava; tinha somente esta preocupação, nada negligenciar do que tinha ouvido, e nada dizer de falso” (Eusébio, História da Igreja, III, 39,15).

Evangelho de São Lucas – O Prólogo do Evangelho de S. Lucas, usado comumente no século II, dava testemunho deste Evangelho, ao dizer: “Lucas foi sírio de Antioquia, de profissão médica, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até a confissão (martírio) deste, servindo irrepreensivelmente o Senhor. Nunca teve esposa nem filhos; com oitenta e quatro anos morreu na Bitínia, cheio do Espírito Santo. Já tendo sido escritos os evangelhos de Mateus, na Bitínia, e de Marcos, na Itália, impelido pelo Espírito Santo, redigiu este Evangelho nas regiões da Acaia, dando a saber logo no início que os outros Evangelhos já haviam sido escritos.”

Evangelho de São João – é Santo Ireneu (†202) que dá o seu testemunho: “Enfim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que reclinou sobre o seu peito, publicou também o Evangelho quando de sua estadia em Éfeso. Ora, todos esses homens legaram a seguinte doutrina: Quem não lhes dá assentimento despreza os que tiveram parte com o Senhor, despreza o próprio Senhor, despreza enfim o Pai; e assim se condena a si mesmo, pois resiste e se opõe à sua salvação – e é o que fazem todos os hereges”. (Contra as heresias)

É por isso que a Igreja, com toda a sua seriedade, e fazendo uso da ciência, depois de examinar todas as coisas, com todo o rigor que lhe é peculiar, não tem dúvida de nos apresentar os Evangelhos como rigorosamente históricos. A Constituição Apostólica Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, diz: “A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos  sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como Autor e nesta sua qualidade foram confiados à Igreja” (DV,11).

Outros estudos mais recentes confirmaram a autenticidade dos Evangelhos, especialmente com as descobertas dos manuscritos de Qumran, na Palestina, próximo do Mar Morto, no ano 1949. Ai foram encontrados cópias da Bíblia, do século primeiro, inclusive pequeno fragmento do Evangelho de S. Marcos; o que mostra que eles foram escritos antes do ano 70, já que foi nesta data que os monges essênios esconderam os textos bíblicos nas grutas.

Prof. Felipe Aquino


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino