A Igreja celebra em 30 de setembro a memória do grande santo e doutor da Igreja S. Jerônimo, que a pedido do Papa Damaso preparou a Bíblia em latim. Foi um trabalho gigantesco que demandou cerca de 30 anos nas grutas de Belém, onde ele fazia esse trabalho. São Jerônimo dizia que quem não conhece os Evangelhos não conhece Jesus.
Jesus conhecia profundamente a Bíblia. Mais do que isso, Jesus amava e se guiava pelas suas palavras. Isso é o suficiente para que todos nós façamos o mesmo.
Na tentação do deserto quando o demônio investiu contra Ele para tentar vencê-lO, Jesus o rebateu com as palavras da Escritura. Quando o tentador pediu que Ele transformasse as pedras em pães parra provar Sua filiação divina, Jesus lhe disse: “O homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8,3c).Quando o tentador exigiu que Ele se jogasse do alto do templo, Jesus respondeu: “Não provocareis o Senhor; vosso Deus” (Dt 6,16a). E quando Satanás tentou fazer com que Ele o adorasse, ouviu mais uma vez a Palavra de Deus: “Temerás o Senhor, teu Deus, prestar-lhe-ás o teu culto e só jurarás pelo seu nome” (Dt 6,13). E o demônio foi vencido… e se afastou.
O fato de Jesus ter-se defendido das tentações, lançando no rosto do Tentador as palavras da Escritura, mostra-nos a importância e eficácia dessa Escritura no caminhar da vida daquele que deseja viver pela fé, a fim de ser feliz e de poder agradar a Deus. Não é sem razão que São Pedro disse: “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal Porque. jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (II Pd 1,20-21).
Toda a Bíblia é a Palavra de Deus aos homens, escrita por pessoas inspiradas pelo próprio Espírito Santo; é a Sua revelação, ensinando-nos tudo o que devemos saber e fazer nesta vida e na outra.
A Bíblia não é um livro de ciência, mas, sim, de fé. Utilizando os mais diversos gêneros literários, ela narra acontecimentos da vida de um povo guiado por Deus, desde quatro mil anos atrás, atravessando os mais variados contextos sociais, políticos, econômicos, etc. Por isso, a Palavra de Deus não pode sempre ser tomada ao “pé da letra”, literalmente, embora muitas vezes o deva ser. “Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (II Cor 3,6c), disse São Paulo.
Portanto, para ler a Bíblia de maneira adequada, exige-se antes de tudo o pré-requisito da fé e da inspiração do Espírito Santo na mente, sem o que a interpretação da Escritura pode ser comprometida. Para aquele que possui a fé sem a qual “é impossível agradar a Deus” (Hb 11 ,6a), a Palavra de Deus é alimento sólido para a vida espiritual, indispensável para aquele que deseja, pela fé, fazer a vontade de Deus e ter luz na própria vida.
Na carta aos hebreus, São Paulo disse que “a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).
Para que a Palavra de Deus seja eficaz em nossa vida, precisamos, pela fé, acreditar nela e colocá-la em prática objetivamente. Em outras palavras, precisamos obedecê-la, pois estaremos obedecendo ao próprio Senhor. Mas nem sempre a Bíblia é fácil de ser interpretada, pelas razões já expostas. É por isso que Jesus confiou a interpretação dela a Igreja Católica, que a faz através do Sagrado Magistério, dirigido pela cátedra de Pedro (o Papa), e da Sagrada Tradição Apostólica, que constitui o acervo sagrado de todo o passado da Igreja e de tudo quanto o Espírito Santo lhe revelou no passado e continua fazendo no presente. (cf. Jo 14, 15.25; 16, 12-13).
A alma da Igreja é o Espírito Santo dado em Pentecostes; por isso a Igreja não erra na interpretação da Bíblia e isso é dogma de fé. Jesus mesmo lhe garantiu isto: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13a).
Embora seja feita de homens, santos e também pecadores, a Igreja Católica tem a garantia de não errar na interpretação dos assuntos da fé. Entretanto, a Igreja não despreza a ciência; muito pelo contrário, a valoriza tremendamente para iluminar a fé.
O Vaticano possui a “Pontifícia Academia de Ciências”; em Jerusalém está a Escola Bíblica que se dedica a estudar exegese, hermenêutica, línguas antigas, geologia, história antiga, paleontologia, arqueologia, e tantas outras ciências, a fim de que cada palavra, cada versículo e cada texto da Bíblia sejam interpretados corretamente.
Quando estive em Israel, eu mesmo encontrei um sacerdote católico estudando nas escavações da sinagoga de Cafarnaum, às margens do lago de Tiberíades.
Tudo isso mostra que a Igreja, embora guiada pelo Espírito Santo, não dispensa a luz da ciência natural. É a fé caminhando junto com a ciência. Tudo isso para que possamos dizer como o salmista, no Salmo 118: “Vossos preceitos são minhas delícias. Meus conselheiros são as vossas leis” (v. 24).
“O único consolo em minha aflição, É que vossa palavra me dá vida” (v. 50)
“Quão saborosas são para mim vossas palavras, mais doces que o mel à minha boca” (v. 103).
“Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho” (v. 105).
“Encontro minha alegria na vossa palavra, Como a de quem encontra um imenso tesouro” (v.162).