É preciso desejar Deus, porque na intensidade de nosso desejo está a grandeza de nossa vida.
Santo Agostinho começa as suas “Confissões” revelando sua grande descoberta:
“A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós.” (Confissões 1,1,1)
A Igreja ensina que “o desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (Cat. n. 27).
O Concílio Vaticano II afirmou que “o aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus… o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador.” (GS, 19,1)
São Paulo expressa isso dizendo que:
“Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora Ele não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,23-28).
O Salmista canta feliz: “Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!” (Sl 105,3). O homem é feito para viver em comunhão com Deus, por isso o convertido Agostinho dizia: “Quando eu estiver inteiramente em Vós, nunca mais haverá dor e provação; repleta de Vós por inteiro, minha vida será verdadeira”. (Confissões, 10,28,39)
São Tomás disse que quanto mais o homem se afasta de Deus, tanto mais experimenta seu nada. Sem Deus a criatura se esvai. Por isso somos levados, pelo amor de Cristo, a levar a luz do Deus vivo àqueles que o desconhecem ou o rejeitam.
A instabilidade do mundo deve despertar sempre mais em nós o desejo de Deus. É preciso este desejo porque o homem é do tamanho de suas aspirações. Estamos constantemente a caminho, à procura do Paraíso perdido.
Richard Gräf escreveu o livro “Bem-aventurados os que têm fome”; fome de Deus. Ele ensina que “cada um de nós se transforma naquilo que ama e que deseja”. Quanto mais a alma se entrega a Cristo, mais experimenta as forças divinas. A estatura que Cristo tiver atingido em nossa vida, diz Graf, será a mesma com ele se apresentará a nós na eternidade.
É preciso ter fome de Deus; Nossa Senhora disse que “O Senhor sacia de bens os famintos” (Lc 1, 53). Diz o Apocalipse que: “Já não terão fome nem sede… porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e conduzirá às fontes da água viva” (Ap 22,17).
Santo Agostinho nos convida: “Atira-te Nele! Não penses que te lances no vácuo. Não julgues assim, pois Ele disse: Encho céus e terra”.
Cristo vive em nós (Gal 2,20) e quer tomar forma em nós (Gal 4,19). Cristo transforma em atos todos os nossos desejos no campo sobrenatural. É preciso desejar Deus, ter fome de Deus, porque na intensidade de nosso desejo está a grandeza de nossa vida. Deus nos dá as graças conforme o nosso desejo. Os desejos valem como atos diante de Deus (cf. Mc 12,41-44; Lc 21,1-4)
O Senhor nos diz: “Quem tiver sede venha a mim e beba” (Jo 7,37). O Salmista clama: “Minha alma tem sede de Deus como a terra sequiosa” (Sl 142,6). Em nós mesmos jorra a fonte de água viva (Jo 7, 38). Então, de nós mesmos, correrão torrentes de água viva que poderão estancar a sede de milhares de almas.
Prof. Felipe Aquino