“Anda na Minha presença e sê integro!” (Gn 17,1)
Deus escolheu Abraão para, a partir dele, gerar o Seu Povo, de onde um dia nasceria o Salvador da humanidade. Para isso, Deus chamou Abraão da Mesopotâmia, na cidade de Ur na Caldeia, para uma longa viagem até a Palestina, e fez com ele uma Aliança, um pacto.
Abraão tinha noventa anos, o Senhor apareceu-lhe e disse-lhe:“Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro; quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência”. Abraão prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos” (Gn 17,1-4). Foi uma Aliança decisiva para a salvação da humanidade.
Chama a nossa atenção a exigência marcante que Deus fez a Abraão: “Anda na minha presença e sê integro”. São duas exigências fundamentais para aqueles que querem servir a Deus e a quem Deus usa para realizar os seus santos desígnios.
Deus não pode contar com quem não “anda em Sua Presença”, isto é, quem não tem sintonia permanente com Ele, quem não ouve a sua Voz, suas inspirações; quem não medita suas palavras e não faz silêncio para ouvir os Seus chamados no meio da noite. “Anda em minha Presença”.
Deus é onisciente e onipresente, está presente em toda parte, acompanha todos os nossos gestos, palavras e pensamentos. O salmista deixa isso muito claro no Salmo 138, o da onisciência divina:
“Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos. Quando ando e quando repouso, vós me vedes, observais todos os meus passos. A palavra ainda me não chegou à língua, e já, Senhor, a conheceis toda. Vós me cercais por trás e pela frente, e estendeis sobre mim a vossa mão. Conhecimento assim maravilhoso me ultrapassa, ele é tão sublime que não posso atingi-lo. Para onde irei, longe de vosso Espírito? Para onde fugir, apartado de vosso olhar? Se subir até os céus, ali estareis; se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também. Se tomar as asas da aurora, se me fixar nos confins do mar, é ainda vossa mão que lá me levará, e vossa destra que me sustentará… Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe… conheceis até o fundo a minha alma. Nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas” (Sl 138,1-15).
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Precisamos aprender a acolher e a servir
Só pode servir a Deus cumprindo verdadeiramente a Sua vontade, quem ouve a Sua voz, quem caminha com Ele. Só assim é possível ter “vida interior” e apostolado eficaz, pois Deus será a fonte de suas atividades. Disse dom Jean Chautard que “o Deus das obras não deve ser abandonado pelas obras de Deus”.
A vida interior é a própria vida de Jesus em nós, e que age pela fé, esperança e caridade. Jesus quer que eu me dedique ao apostolado, mas Ele quer ser a vida e a alma desse apostolado, para que ele seja eficaz.
É a fé na presença ativa de Jesus em nós que nos dará a verdadeira vida interior, e Jesus será a nossa luz, nosso ideal, conselho, apoio, recurso, médico… vida. “Anda na minha Presença!”.
Caminhando em Sua Presença, Ele se manifestará a nós como se manifestou aos discipulos de Emaus, e nós teremos sede de Sua Presença cada vez mais.
Sem isso os nossos pecados, ainda que veniais, se multiplicam e chegamos até o ponto de não fazer caso deles; e a consequencia é a tibieza. O livro dos Provérbios manda “guardar o coração”: Aplica-te com todo o cuidado possível à guarda do teu coração, porque dele é que procede a vida” (Prov. 4,3). Não deixar o coracão se apartar do Mestre, se perder nas distrações do mundo.
Caminhando na Presença do Senhor perguntaremos: “Que faria Jesus no meu lugar nesta situação?”. “O que Ele quer de mim neste instante?” Então, imitando Jesus em todas as circunstâncias, Ele começa a reinar em nós. Um fruto desta realidade é que a nossa alma possuirá alegria, mesmo no meio das provações, como experimentam os santos.
Só assim eliminaremos a vaidade e o orgulho na vida apostólica, com a certeza de que nada somos e que tudo é graça do Senhor. Assim deixaremos de ser “ladrões da glória de Deus” (Santa Catarina).
Andando com o Senhor, tendo ciência da Sua Presença contínua a nos assistir, guiar, conduzir e prover as nossas necessidades, faremos tudo para ser integros e não decepcioná-lo. Então caminharemos para a perfeição que Jesus pede aos seus discípulos: “Sede perfeitos como o Pai do céu é perfeito”.
Quem quiser ter vida interior e servir a Deus com alegria, deve lutar para ter domínio de si mesmo, na presença do Senhor, para que todas as suas ações sejam para a glória de Deus.
Abraão cumpriu perfeitamente sua missão porque de fato caminhou na fé, na presença do Senhor, na integridade de vida e no serviço de Deus. Imitemos sua conduta e seremos bons servos do Senhor.
Prof. Felipe Aquino