Pode-se dizer que há “três forças” com as quais podemos conquistar a virtude da fortaleza. Não só com uma ou duas delas, mas com as três.
1. A força do Ideal
Só pode ter a virtude cristã da fortaleza – ser corajoso para lançar-se, e ser firme para aguentar – aquele que possui um motivo poderoso, um ideal pelo qual valha a pena viver e morrer.
Numa sala da sede central do Opus Dei em Roma, São Josemaria Escrivá mandou colocar, como sanefa junto ao teto, a seguinte frase várias vezes repetida: “Vale a pena, vale a pena…”. Um visitante perguntou-lhe por que estava tão repetida, e ele respondeu:
«Porque mesmo assim há alguns que não se apercebem disso».
Uma vida sem ideal é triste, facilmente se decompõe e afunda na moleza. Nietzsche dizia (e desta vez acertou): «quando se tem algum “porquê”, qualquer “como” se pode suportar». É penoso ver tanta gente sem “porquê”.
Nós, os cristãos, «temos um tesouro de vida e de amor que não pode enganar» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n.265). O Amor, com maiúscula, esse é o grande ideal do cristão.
Aquele que o conhece, que o assume, e que ganha entusiasmo por ele, renova suas forças, cria asas como de águia, corre e não se afadiga, anda, anda e nunca se cansa (Is 40, 31).
Quem conhece Cristo, quem se enamorou dele e dele fez seu ideal (pois isso é ser cristão), entende por experiência estas palavras do Cântico dos Cânticos: O amor é forte como a morte…, suas chamas são chamas de fogo, labaredas divinas. Águas torrenciais não puderam extinguir o amor (Ct 8, 6-7).
Como diz o Papa Francisco: «Precisamos nos deter em oração para pedir a Jesus que volte a cativar-nos» (Evangelii Gaudium, n. 264).
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2. A segurança da fé
«Alguns passam pela vida como por um túnel, e não compreendem o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé» (Caminho, 575).
Queremos ver ao vivo esse “esplendor, segurança e calor” da fé? Ouçamos as experiências de São Paulo, exemplo impressionante de fortaleza.
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?… Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores pela virtude do que nos amou! (Rm 8, 35.37).
Será que era um otimista por natureza? Não. Ele conhecia bem a sua fraqueza. Na mesma carta aos Romanos, falava dela: Quem me livrará deste corpo de morte? (Rom 7, 4). E também
escreveu aos coríntios, contando-lhes a sua incapacidade de superar uma dificuldade – tudo indica que era uma doença –que o limitava e, às vezes, o prostrava, atrapalhando o seu trabalho. Sentindo-se incapaz de vencer esse mal, dirigiu a Cristo uma oração cheia de humildade e de fé: Por três vezes pedi ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele disse-me: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente” (2 Cor 12, 8-9). Depois disso, São Paulo escrevia: Alegro-me nas minhas fraquezas…, pois, quando me sinto fraco, então é que sou forte (Ibidem,12, 10). E, com o coração cheio de confiança em Deus, desafiava as provações e contrariedades: Tudo posso naquele que me dá força! (Fl 4, 13).
Esta é a grande “fonte” da fortaleza cristã: a confiança total em Deus – porque Tu és, ó Deus, a minha fortaleza (Sl 42 [43],2) –, manifestada na oração cheia de fé e constância, e na luta esforçada por corresponder à ajuda divina. Essa luta é precisamente a terceira força para ganhar fortaleza.
3. A têmpera do sacrifício
A virtude humana da fortaleza – como todas as virtudes morais – consolida-se e cresce com o nosso esforço repetido. Já víamos que o Catecismo frisa que «as virtudes morais são adquiridas humanamente…, por atos deliberados,… com todas as forças sensíveis e espirituais» (nn. 1803, 1804, 1810). Quando lutamos com fé e amor, a graça do Espírito Santo as sobrenaturaliza (cf. Caps. 9 e 10).
A luta por fazer «atos deliberados» da virtude da fortaleza exige necessariamente o sacrifício, a mortificação da moleza e das outras fraquezas.
Mais uma vez, é preciso repetir: «Onde não há mortificação, não há virtude» (Caminho, n. 180).
Se queremos ser fortes, contemos em primeiro lugar com a fortaleza de Deus, e depois descubramos – com generosidade, sem medo – as mortificações concretas de que precisamos para vencer a moleza de caráter e a falta de espírito de sacrifício.
Podem servir de orientação os seguintes pensamentos de Caminho:
– «Acostuma-te a dizer que não» (n. 5). Naturalmente trata- se agora do “não” que dizemos às tentações da facilidade e da covardia.
– «Vontade. – Energia. – Exemplo. – O que é preciso fazer, faz-se… Sem hesitar… Sem contemplações» (n. 11). Ou seja, sem concessões nem desculpas, por mais “razoáveis” que pareçam.
– «As tuas grandes covardias de agora são – é evidente – paralelas às tuas pequenas covardias diárias. “Não pudeste” vencer nas coisas grandes, porque “não quiseste” vencer nas coisas pequenas» (n. 828).
– «Vontade. É uma característica muito importante. Não desprezes as pequenas coisas, porque, através do contínuo exercício de negar e negares-te a ti próprio nessas coisas – que nunca são futilidades nem ninharias –, fortalecerás, virilizarás, com a graça de Deus, a tua vontade, para seres, em primeiro lugar, inteiro senhor de ti mesmo. – E depois, guia, chefe, líder!
– que prendas, que empurres, que arrastes, com o teu exemplo e com a tua palavra e com a tua ciência e com o teu império» (n. 19).
Retirado do livro: “A Conquista das Virtudes”. Padre Francisco Faus. Ed. Cléofas.