“Tudo é possível ao que crê” (Mc 9,23)

“O Senhor está convosco assim como vós estais com Ele. Se vós o procurais, ele se manifestará a vós, mas se vós o abandonais, ele vos abandonará” (2 Cr 15,2)

A primeira providência diante do sofrimento da alma é fazer o mesmo que fazemos com o corpo: um diagnóstico para saber a causa do sofrimento. Embora seja mais difícil encontrar a causa do sofrimento do espírito, no entanto, esta causa existe, e é preciso encontrá-la, mesmo que demore. Sem este diagnóstico o “espinho na alma” não poderá ser removido.

O sofrimento da alma é um misto de causa psíquica e espiritual; natural e sobrenatural; por isso, ambas as dimensões precisam ser tratadas. Na natureza não há recompensas ou castigos. Há apenas consequências. Sempre há uma razão natural atrás de nossas alegrias e tristezas. Você sempre sabe por que está alegre. Saiba que há sempre uma razão pela qual você pode estar triste, mesmo que você não tenha consciência do motivo, ele existe e deve ser encontrado.

Então, em primeiro lugar, é preciso investigar “de onde vem o mal” que o atinge; às vezes é fácil saber, mas outras vezes não; é preciso fazer como o médico quando você vai se consultar: ele faz uma “anamnese”, isto é, uma busca dentro de você para encontrar “a causa” de sua doença. Antes disso, ele não consegue prescrever o remédio ou o tratamento que você precisa.

Da mesma forma a alma precisa ser auscultada, sondada, porque em algum de seus labirintos ela pode estar escondendo a razão do mal que o atinge.

Seja qual for o tipo de sofrimento que nos amargura, é preciso logo verificar a sua origem: é de ordem financeira, social, familiar, religiosa, profissional?…

Se for necessário busque um amigo maduro para lhe ajudar nesta expedição interior que nem sempre é fácil.

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Às vezes você pode achar a causa lendo um bom livro, consultando um psicólogo, um padre, um amigo experiente, meditando a Palavra de Deus. Não se isole nesta hora e não seja teimoso, peça a ajuda de alguém se você está meio perdido e não consegue se encontrar. A Bíblia diz que quem encontrou um amigo achou um tesouro.

Não tenha medo de entrar no labirinto de sua alma para procurar onde está o “bicho morto” que está infectando o ambiente. Não tenha medo de olhar para dentro de você, com Deus, sem esconder nada, procurando a causa do seu sofrimento e de sua angústia. É preciso achar o “bicho morto” para retirá-lo do porão da sua alma; só assim o mau cheiro vai desaparecer.

Peça a Deus essa luz para ver o seu interior com humildade e com coragem, sem fugir da realidade, mesmo que ela o assuste. Segure nas mãos de Deus e caminhe neste vale da morte; o salmista diz que você nada temerá porque o Senhor vai com você.

Muitas vezes a gente faz com a vida o que faz com a gaveta; vai entulhando-a de papéis e coisas velhas sem resolver os problemas; depois, não sabemos nem mais o que colocamos ali de tanta quinquilharia.

De vez em quando você tira a gaveta do armário, leva para fora e faz a faxina, não é verdade? Então, faça a mesma coisa com a sua alma. Separe o que é bom do que não presta; fique só com o que é bom; e conserte o que é bom, mas que pode estar estragado.

Tenho observado que as pessoas que lutam contra as amarguras da alma, não se libertam delas enquanto não encontram a sua causa real, que pode estar no presente ou no passado. Se estiver no presente é mais fácil de ver, mas quando está no passado, em experiências amargas vividas e não resolvidas, então, isso pode ter deixado um trauma na alma, uma marca no inconsciente.

Portanto, precisamos ter a coragem de olhar para dentro de nós sem medo; muitos temem essa “volta ao passado” com medo da triste experiência que foi gerada, mas há que se entender que não é um ato de masoquismo onde se busca o sofrimento, não, mas uma ação deliberada para encontrar o “bicho morto” que infesta a alma, e jogá-lo fora de vez.

Desde os sábios gregos, antes de Cristo, especialmente Aristóteles, já se tinha como grande sabedoria o lema: “Conhece-te a ti mesmo”. Esse autoconhecimento é salutar; quando você se conhece e está ciente de suas fraquezas, físicas, morais, espirituais, psicológicas, afetivas, etc., então, se cuida melhor, evita certas ocasiões porque sabe que não está preparado para enfrentá-las.

Conhecer as próprias fraquezas é uma fortaleza interior, porque isso nos protege de se expôr aos perigos, nos faz humildes de verdade.

Não tenha, portanto, medo de se conhecer, de aceitar a sua realidade nua e crua, por mais escura que possa lhe parecer; somente a partir daí é que você poderá começar a tratar de você mesmo e buscar a cura interior que precisa em Deus.

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Peça a Deus em suas orações que lhe mostre o interior de sua alma; peça ao Espírito Santo de Deus que desça ao profundo da sua alma e o ajude ver a sua realidade. Nas meditações da Bíblia ou de um bom livro, nas pregações que você ouve; não tenha medo de dizer: “isto é para mim”; “eu trago esse problema na alma”. Assuma isso sem medo e sem exagero; sem fazer disso um cavalo de batalha; e então, comece a buscar a cura que você precisa. Em primeiro lugar na oração: peça a Deus que o ajude a vencer esse problema, que ponha no seu caminho alguém que o ajude a discernir o que fazer.

Sem meditação a pessoa não cresce. Alguém disse que o verdadeiro analfabeto não é aquele que não sabe ler, mas aquele que sabe ler, mas não lê, não medita. Disso vai nascer a luz; e você poderá colocar todo o seu mal diante de Deus, na frente do Sacrário onde Jesus o espera para curar, diante do Sacerdote em uma boa Confissão, diante da Palavra de Deus, diante da Virgem Maria sua Mãe.

Lembre-se do que Jesus disse: “Tudo é possível ao que crê” (Mc 9,23).

Retirado do livro: “O Socorro de Deus para as Aflições da Alma”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino