No 17° domingo do tempo comum (29/7/2018), a Igreja nos faz meditar no Evangelho de São João (6,1-15), onde Jesus faz o Milagre da multiplicação dos pães, como prefiguração da Eucaristia que Ele ia anunciar na manhã do dia seguinte na sinagoga de Cafarnaum. Antes do Evangelho a primeira leitura mostra o milagre do profeta Eliseu que multiplica os pães para matar a fome do povo, e ainda sobram pães. A diferença é que Eliseu com 20 pães saciou 100 pessoas e Jesus, com 5 pães saciou 5.000, sem contar mulheres e crianças.
Para ajudar a fraqueza do povo em aceitar a Eucaristia, Jesus fez antes dois grandes milagres: multiplicou os pães, mostrando o seu poder sobre o pão; e andou sobre as águas do mar da Galileia, para mostrar o poder sobre o seu corpo. Assim, Ele pode transformar o pão no seu corpo, porque é Senhor de ambos.
O Catecismo da Igreja nos ensina no n. 1335, que:
“O Milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua Eucaristia”.
O evangelista narrou com riqueza de detalhes o que ocorreu:
“Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, também chamado de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele operava a favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata [denário] bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”. Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?”. Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens.
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A multiplicação dos pães: milagre ou simples partilha?
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Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte”.
Note que quando o sacerdote consagra o pão e o vinho, ele repete as palavras que o evangelista cita ao Jesus multiplicar os pães: “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os…”.
Antes de tudo o texto mostra a Providência divina que cuida de cada um, seja das misérias da doença, como da fome. A multidão o seguia porque Ele a curava, ensinava e alimentava.
Filipe deixa claro para Jesus que nem mesmo duzentos denários de pão seriam suficientes para alimentar a multidão. Um denário era uma moeda romana de prata, correspondia ao salário diário de um trabalhador. Com um denário seria possível comprar cerca de 8 quilos de pão. Então, 200 denários dariam para comprar 1600 kg de pães, o equivalente a 16.000 pães de 100 gramas cada um. De fato era uma multidão imensa!
Infelizmente alguns teólogos modernos racionalistas querem negar que houve o Milagre da multiplicação dos pães (contra o que ensina a Igreja), e, na linha da teologia da libertação marxista, querem aceitar apenas que houve uma partilha. Houve a partilha, mas depois do Milagre, onde Jesus mostra a Sua divindade. É um risco negar os milagres de Jesus, pois é por eles que Ele se revela Deus. O fato da multidão o aclamar: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”, e querer faze-lo rei, mostra nitidamente a maravilha do Milagre. Os outros textos que narram a multiplicação dos pães (Mt 14, 13-21;Mc 6,32-44; Lc 9,10-17) não deixam a menor dúvida de que houve um estupendo milagre.
Muitas lições podemos aprender com este Milagre.
Jesus quis precisar daqueles 5 pães de cevada e dos dois peixinhos para multiplica-los. Deus é onipotente e pode fazer tudo do nada, nem precisa de nós; mas, perante a sua criatura normalmente livre, não age sem a sua aceitação. O que podemos fazer é sempre pouco, mas Deus aceita esse pouco e até o exige, como condição prévia para a sua intervenção. Por isso é preciso dar a Deus o pouco que temos.
Que maravilha o desprendimento daquele menino, que ofereceu o pouco que tinha, para que Jesus o multiplicasse; ele não encontra muitos imitadores, mesmo entre os cristãos!
Esse milagre nos ensina a caminhar com fé, sem desalento, na obra que Deus nos propõe a fazer; sem cálculos meramente humanos. É preciso começar a trabalhar, o esforço abre caminhos… Deus se incumbe do resto.
Isso tudo viveram os santos. Que maravilha pensar em Madre Teresa de Calcutá, que começou sozinha na assustadora Calcutá, socorrendo miseráveis que morriam à minga! Hoje as Missionárias da Caridade estão em mais de cem países distribuindo amor. Santa Teresa deu a Deus os “cinco pãezinhos” e Jesus os multiplicou abundantemente. Assim foi com Dom Bosco, São Vicente de Paulo, e tantos e santos e santas. Eu vi isso acontecer também com o querido Mons. Jonas Abib na obra da Canção Nova. Ele começou com uma simples máquina de escrever, e hoje a CN está no mundo todo salvando almas.
Outra lição a aprender é que sobraram 12 cestos que o Senhor mandou recolher o que sobrou. Não pode haver o desperdício; não se pode jogar comida no lixo; o alimento é sagrado! Muitos têm fome. E por que não há comida para todos? Não é por falta de alimento; a revolução verde da biotecnologia, aumentou em muito a produção de todos os alimentos: leite, carne, ovos, arroz, feijão, etc. O que falta é amor; é distribuição. Milhões de toneladas de comida vão para o lixo todos os dias.
Quiseram fazer de Jesus o rei o povo. Mas o seu messianismo não é terreno, nacionalista, político. “Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,38). A libertação que Ele veio trazer não é meramente social, mas espiritual. Ele é o Cordeiro de Deus que foi imolado para tirar o pecado do mundo. Paulo VI na Evangelli Nuntiandi disse que a libertação que Jesus veio nos trazer é a libertação do pecado e do demônio. Jesus não acabou com a fome e as doenças do mundo, mas arrancou a causa de todos os males: o pecado.
Por tudo isso o salmista dá glória a Deus no Salmo 144. São João Crisóstomo disse que: “Consagrar-se ao louvor é próprio de um coração filial. Quem louva o Senhor a cada dia, o louvará na vida eterna”.
Prof. Felipe Aquino