O padre Foucauld foi um extraordinário homem de oração, entregue inteiramente a Deus, vivendo uma vida contemplativa nos desertos da África.
Na sua “Oração do abandono”, muito conhecida e rezada no mundo todo, ele deixou-nos uma síntese profunda do que deve ser a alma e a vida do homem voltado para Deus. Vale a pena recordarmos suas palavras e meditarmos na sua oração.
“Meu Pai, entrego-me a Vós!
Fazei de mim o que quiserdes.
Tudo o que quiserdes fazer de mim, eu Vos agradeço.
Estou pronto para tudo, aceito tudo, desde que Vossa vontade se realize em mim e em todas as Vossas criaturas.
Não desejo outra coisa, Senhor!
Deponho minha alma em Vossas mãos, com todo o amor do meu coração
Porque para mim é uma necessidade de amor dar-me e entregar-me em Vossas mãos
com confiança absoluta, porque sois meu Pai!”
Essa grande oração revela uma alma entregue totalmente a Deus porque confia n’Ele como o “meu Pai”.
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O que nos impede de confiar em Deus?
Abandonar-se de verdade em Deus é um dos passos mais difíceis para aqueles que buscam o Senhor. Somos profundamente arraigados em nós mesmos; fincamos em nós as raízes da nossa segurança pessoal. E Deus nos diz sem cessar: “Nada temas, porque estou contigo, não lances olhares desesperados, pois eu sou teu Deus; eu te fortaleço e venho em teu socorro, eu te amparo com minha destra vitoriosa” (Is 41,10).
Como é difícil confiarmos plenamente em Deus! Como é difícil lançarmo-nos no infinito amor e misericórdia do Seu coração!
Por mais que o Senhor manifeste, declare e prove Seu amor por nós, continuamos amarrados em nós mesmos, presos às nossas míseras forças, riquezas, poder, etc., como se isso pudesse, de fato, nos dar segurança e paz. Como nos enganamos! Ainda nos falta a fé. Caminhamos como os inseguros apóstolos do Senhor que, mesmo vendo os milagres de Jesus, ainda continuavam amedrontados e inseguros e sempre ouviam a mesma reprimenda do Senhor: “Como sois medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40).
Com que coragem o padre Foucauld disse ao Senhor: “Aceito tudo! Estou pronto para tudo!”
Quantos de nós estamos prontos para aceitar toda a vontade de Deus na vida? Na maioria das vezes, queremos que seja feita a nossa vontade, que se cumpram os nossos planos, que se estabeleça a nossa lógica.
A fé pressupõe aceitarmos a vontade de Deus; não reagirmos contra ela e nem nos revoltarmos contra seu cumprimento em nossa vida. É preciso sabermos dizer como o santo Jó que na mais profunda miséria, ferido de lepra “desde a planta dos pés até o alto da cabeça” (Jô 2,7b) soube responder com fé quando sua mulher lhe disse: “Amaldiçoa a Deus, e morrer!” (Jô 2,9b). A resposta de Jô é a de um verdadeiro homem de fé: “Falas como uma insensata. Aceitamos a felicidade da mão de Deus; não devemos também aceitar a infelicidade?” (Jô 2, 10a-b). E Jó venceu pela fé; soube abandonar-se em Deus. Foi justificado.
Os grandes homens e mulheres de Deus, de todos os tempos e de todos os lugares, foram aqueles que souberam confiar seu destino e sua sorte nas mãos dEle. São Paulo, na Carta aos Hebreus, afirmou que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6a) e ainda “Meu justo viverá da fé” (Hb 10,38a). E resumindo toda a importância da fé, declarou: “Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados” (Hb 11,2). A partir daí, começou a narrar os grandes feitos de Abel, Enoc, Noé, Abraão, Sara, Isaac, Jacó, José, Moisés, Davi, Sansão, Daniel, etc. São Paulo mostrou o fruto da fé que nos leva a agir abandonados em Deus: “Graças à sua fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, viram se realizar as promessas. Taparam bocas de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, triunfaram de enfermidades, foram corajosos na guerra, e puseram em debandada exércitos estrangeiros” (Hb 11,33-34).
Que nos falte tudo, menos a fé e o abandono de nossa vida em Deus!
Retirado do livro: “Em busca da Perfeição”. Prof. Felipe Aquino.