O que o Natal exige de nós?

É tão importante a celebração do Natal de Jesus, que se prolonga por oito dias em sua Oitava, para que possamos desfrutar de tão grandes graças. Como disse São Leão Magno: “Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade”.

Mas agora precisamos assumir as suas consequências para que esta Solenidade prolongada continue a dar em nós os seus frutos de santidade.

Em seus Sermões de Natal, Santo Agostinho recordava:

“Estarias morto para sempre, se Ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te.”

Esta libertação do pecado, da morte e do demônio, que Jesus veio nos trazer, exige de nós um ato de vontade que corresponda a este amor de Deus por nós, sem limites.

São Leão Magno pregava a seus fiéis, em seus Sermões de Natal:

“Nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida.”

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O Salvador nasceu! Como devemos acolhê-lo em nossa vida?

Quando termina o tempo do Natal?

O Natal não se resume a um dia!

E o Santo doutor aponta-nos as exigências do Natal:

“Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que Cabeça e de que Corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus. Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo”.

O mistério da Encarnação é a manifestação do “grande amor com que Deus nos amou” (Ef 2,4). Será que Deus poderia nos ter concedido alguma coisa mais sublime do que o próprio Filho feito homem para nos salvar?

Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja (†1380), disse que “Deus enxertou a sua divindade na árvore morta da nossa humanidade, pela Encarnação do Verbo”. A humanidade descaída no pecado original é o tronco selvagem onde Deus enxertou a boa planta divina para dar frutos de santidade.

Santa Ângela de Foligno, exprimia seu amor ao Verbo humanado, dizendo: “Ver e compreender que Tu nasceste para mim, enche-me de grande alegria”.

São Basílio Magno (†369), doutor da Igreja, mostrou a profundidade do mistério da Encarnação:

“Deus assume a carne precisamente para destruir a morte nela escondida. Como os antídotos a um veneno, quando são ingeridos, anulam os seus efeitos, e como as trevas de uma casa se dissipam à luz do sol, assim a morte que predominava sobre a natureza humana foi destruída pela presença de Deus. E como o gelo que permanece sólido na água, enquanto dura a noite e reinam as trevas, mas derrete-se imediatamente ao calor do sol, assim a morte que reinara até à vinda de Cristo, logo que surgiu a graça de Deus Salvador e despontou o sol da justiça, “foi engolida pela vitória” (1Cor 15, 54), pois não podia coexistir com a Vida” (Homilia sobre o Nascimento de Cristo).

Qual deve ser a nossa resposta a tanto amor? São João da Cruz, Doutor da Igreja (†1591), amigo de Santa Teresa, responde: “Amor só se paga com amor!”.

Mas que amor é esse que Deus espera de nós? A resposta está nas Sagradas Escrituras: fazer a vontade de Deus! Deus quer a nossa santificação, e a Igreja existe para isso. E o edifício da santidade cristã se levanta na vontade divina revelada nas Escrituras e no ensinamento da Igreja, especialmente nos Mandamentos de Deus.

Somente Deus pode nos santificar, pois Ele conhece o que mais convém à nossa santificação. O único caminho que infalivelmente nos conduz à santidade é o indicado por Deus. Aceitar a sua santa vontade é trilhar o caminho da perfeição.

O Papa Bento XV afirmou: “A santidade consiste própria e exclusivamente na conformidade do querer de Deus, manifestado no exato cumprimento dos deveres do próprio estado” (AAS, 1920, p. 173). Cumprindo bem nossos deveres profissionais, familiares e religiosos, estaremos trilhando o caminho da santidade que o Natal nos aponta.

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Santa Teresa de Ávila ensinava às suas monjas:

“Claro está que a suma perfeição não consiste em regalos interiores, nem em grandes arroubamentos, nem em visões, nem em espírito de profecia, mas tem ter a nossa vontade tão conforme com a de Deus, que não entendamos querer Ele alguma coisa sem que a queiramos com toda a vontade, e tomemos com a mesma alegria, tanto o saboroso como o amargo, como quer Sua Majestade” (Fundações A, 1,2).

Quem celebra o Natal decidiu viver como cristão, seguidor de Cristo, ser “luz e sal da terra”, pelo caminho da santidade. São Leão Magno perguntava a seus ouvintes: “De que vale carregar o nome de cristão se não imitar a Jesus Cristo?”

Nada melhor do que contemplar as figuras santas do Presépio, para termos os exemplos de como imitar a Jesus: a pureza, a humildade, a disposição para fazer a vontade de Deus e o abandono tranquilo da vida nas mãos da Providencia divina que Maria e José viveram.

Prof. Felipe Aquino


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino