Gosto muito da natureza, porque Deus nos fala e nos ensina através dela; por isso, cultivo uma pequena horta no quintal de minha casa. E cada vez que eu vou ali cuidar dela, aprendo muitas lições espirituais, de modo suave e silencioso, como Deus sabe fazer.
Aprendi que para plantar uma mudinha de couve, alface ou espinafre, a terra precisa estar bem preparada, fofa, umedecida, estercada… senão a plantinha não cresce. No jardim de nossa alma é a mesma coisa; a semente da Palavra de Deus não cresce se o chão estiver duro, seco, sem nutrientes… Jesus disse que este é o chão, à beira do caminho, onde a boa semente que o semeador lançou cai, mas logo é comida pelas aves do céu. O Mal a leva.
É preciso preparar a terra antes de lançar a semente, senão a perdemos. É preciso preparar as almas, com orações, cantos, acolhida, compreensão… antes de lançar a boa semente.
Aprendi que a erva daninha é que mata a planta, ou então o pulgão que devora as suas folhas. Bem, diz um provérbio chinês que “não é a erva daninha que mata a planta, mas a preguiça do agricultor”. Então, entendi que o pior de tudo para a nossa vida espiritual é a preguiça e a impaciência. Elas não deixam a gente retirar as ervas do pecado no jardim da nossa alma; e ela vai sendo comida pelo mal.
A preguiça não nos deixa meditar todos os dias a santa Palavra; a rezar com devoção e sem pressa; a ler uma boa meditação em um bom livro todo dia… A impaciência nos impede de crescer nas virtudes, e permite o vicio crescer na alma.
Aprendi com minha horta que é preciso molhá-la todos os dias; que não basta molhá-la bastante, mas só uma vez por semana, senão a plantinha fica raquítica. No jardim da alma acontece o mesmo. A plantinha da fé precisa ser regada todo dia com a água dos sacramentos, da oração, a meditação…
Observei um dia, que quando a terra está boa, há muitas minhocas nela; sim, minhocas. Não tenha medo, são inofensivas. Elas fazem caminhos na terra que permitem entrar de maneira melhor a água, o oxigênio e o nitrogênio, que são nutrientes essenciais da planta. Em nossa vida espiritual há as saudáveis “minhocas” que abrem caminho em nossa alma para a graça de Deus entrar. Os retiros, os bons livros, o diretor espiritual, a Confissão, a Eucaristia, as pessoas que nos ajudam, as intercessões dos irmãos… Procure essas boas “minhocas” espirituais.
Aprendi também que não se pode arrancar a erva daninha da terra de qualquer jeito, porque senão a arrancamos da terra sem a raiz, e ela logo volta a brotar. Então é preciso paciência e perseverança; molhar muito bem a terra e puxá-la devagarinho até sentir que ela vai sair junto com a raiz. Talvez seja preciso parar de puxar, e molhar mais a terra. Não podemos querer arrancar o pecado da alma de alguém, sem tirar junto a sua raiz. Não basta arrancar o efeito do mal, é preciso arrancar a raiz; e para isso a graça de Deus precisa ter molhado bem a natureza humana.
Aprendi também que é preciso deixar o Sol bater nas plantas, senão não acontece a fotossíntese que as faz crescer, no entanto, elas não podem tomar sol demais, especialmente nas horas mais quentes; é preciso protegê-las de alguma forma. O jardim da alma precisa receber também o Sol da graça e da penitência, mas tudo deve ser feito com harmonia, equilíbrio e boa orientação. Uma leitura inadequada pode ser perigosa, um conselho contra o que ensina a Igreja pode ser venenoso; um jejum severo demais pode desanimar…
Aprendi ainda que cada planta precisa de um cuidado próprio, diferente das outras; então, o agricultor tem de estar atento, observar o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. Cada alma tem a sua delicadeza própria; o que é bom para uma pode não ser para outra.
Quantas lições aprendi com minha hortinha. Entendi porquê os monges gostam tanto de cultivar a terra; e porquê Santo Agostinho tirava um tempo todos os dias para por nela as suas mãos.
Deus nos ensina de maneira suave pela natureza. Experimente. Abra o coração!
Prof. Felipe Aquino
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