O Catecismo da Igreja nos responde:
“O mundo foi criado para a glória de Deus”. Deus criou todas as coisas, explica São Boaventura, “não para aumentar a Sua glória, mas para manifestar a glória e para comunicar a Sua glória”. Deus não tem outra razão para criar a não ser seu amor e sua bondade: “Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram”, disse São Tomás de Aquino (n.293).
Desde sempre se discute se existe um sentido no Universo. Para os que creem é obra de Deus; para os incrédulos é obra do Sr. Acaso, como se fosse um ser poderoso e inteligente, bondoso e amável. Tudo o que existe fora do nada é parte de um plano e de um construtor. “Não existe relógio sem relojoeiro”, já dizia o inimigo da Igreja, Voltaire.
Tudo que tem um fim, opõe-se ao acaso, pois ele é cego. Dizemos que algo acontece “por acaso” quando é o resultado de coincidências acidentais, fortuitas, imprevistas, que não obedecem a um plano, nem a uma meta e nem a uma finalidade. A finalidade implica que existem causas que explicam os efeitos. Quanto mais se sublinha o papel do acaso, menos espaço há para a finalidade.
Hoje sabemos que o universo começou há cerca de 14,3 bilhões de anos, com a grande expansão original (o “big bang”) e a física moderna mostra que o nosso mundo depende de uma série de realidades e equilíbrios: se nos primeiros trilhionésimos de segundo após o início da grande expansão, não houvesse um conjunto de propriedades físico-químicas muito específicas, a vida na Terra e nossa própria existência não se teriam produzido. É o que ficou sendo chamado de “princípio antrópico”. Alguém, Poderoso e Inteligente, guiou esta evolução até nós. A meta, o fim, era o homem, imagem e semelhança do Criador.
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Como Deus guia o mundo e a minha vida?
Deus é culpado do mal que há no mundo?
São Tomás de Aquino [1] disse que “a natureza é, precisamente, o plano de certa arte (a arte divina), impressa nas coisas, pela qual as próprias coisas dirigem-se para um fim determinado: como se o artífice que fabrica um navio pudesse outorgar às madeiras a capacidade de se movimentarem por si próprias para formar a estrutura do navio”.
A natureza é uma manifestação do plano divino, e portanto de um plano sumamente sábio, belo e bondoso. Além do mais, a ação divina não se limita a dirigir de fora a atividade natural: o plano divino está inscrito nas coisas.
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Toda a criação é tão bela e harmoniosa que exige um Artista. Por isso São Paulo disse que ninguém tem motivo para não crer em Deus, pois só Ele pode tirar algo do nada e lhe dar existência. “Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar” (Rom 1,19-20).
Igualmente diz o livro da Sabedoria: “São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras” (Sab 13,1).
Quanto mais a ciência moderna avança, tanto mais exige a realidade de Deus Criador. Não há como explicar o Big Bang (o universo que surge de um átomo singular), do nada; o Cosmo que se expande com uma velocidade fantástica e se amplia num ritmo cada vez maior, e, respire fundo, nunca terá fim essa fuga de 550 milhões de quilômetros por hora. Quem pode ter gerado tudo isso?
É por isso que o Salmista canta: “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia ao outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete” (Sl 18,2-3). Mergulhe na natureza e você mergulhará em Deus.
Por que a Criação nos inebria, e é desconcertante? Por que o infinitamente pequeno das micro partículas da física nos desafiam, e o macro cosmo nos assusta? Por que o universo é uma esbanjar de energia, força, grandeza e poder? Não será para nos revelar a grande infinita de Deus? Sua grandeza e majestade infinitas? Ainda assim, muitos ainda não encontraram o Rosto bendito de Deus refletido em Suas obras. É, sem dúvida, o mais pobre e miserável das criaturas… não conhece o seu Criador, e não sabe porque existe.
(1) Tomás de Aquino, Comentário à Física de Aristóteles, livro 11, capítulo 8, lição 14.
Prof. Felipe Aquino