Neste ano, tive a oportunidade de conhecer a cidade de Ávila, na Espanha, cidade de Santa Teresa de Jesus.
Ávila está celebrando um momento histórico: o jubileu de 500 anos do nascimento de Santa Teresa.
Nesta pequena cidade, fui visitar o que eu mais queria: o primeiro Carmelo que Santa Teresa reformou; o de São José. Começou em uma simples casa de pedra. Ela deixou seu Carmelo original porque havia falta de espiritualidade, e eram divididos em duas classes, pois as irmãs que eram de famílias nobres viviam no luxo, enquanto as mais simples eram renegadas.
Pude ver esse primeiro Carmelo, a sua Igreja, e as irmãs enclausuradas que vivem ali. É incrível como parece que Santa Teresa vive naquele lugar. Deus me deu a graça de ali estar no dia de Nossa Senhora do Carmo, a protetora do Carmelo (16/07/15). E para completar esse dia de tanta graça, pude chegar bem próximo de duas relíquias desta grande santa – seu coração e seu braço – eles estão incorruptos. Essas relíquias estão dentro de belos relicários muito bem protegidas à sete chaves devido a tentativa de roubos anteriores.
O braço que restou de seu corpo certamente significa que Deus quis deixar uma lembrança do grande trabalho que santa Teresa realizou para a reforma dos carmelos femininos dos seus tempos que estavam relaxados nos costumes. Por toda a Espanha ela estabeleceu conventos carmelitas reformados.
Por tudo o que conhecemos de sua vida, podemos dizer que a relíquia do coração pode significar o grande amor que ela tinha por Deus, pela Igreja, pela salvação das almas e pelo reino de Deus que a levou a trabalhar durante toda a sua vida pela renovação dos carmelos.
O coração e o braço tiveram um significado especial na vida de Santa Teresa, e também devem ter na nossa. E é justamente sobre isso que iremos meditar.
São Tomás de Aquino disse que “a obra principal do cristianismo” é a união da vida contemplativa com a vida ativa (S.Th. 3º p. 67, a. 2.ad Ium).
Mas o mais importante é a vida interior, a contemplação. Podemos compará-las, respectivamente, com o coração e os braços. Ambas são fundamentais, mas o coração é mais importante porque ele vive sem os braços, mas os braços não vivem sem ele.
É o coração que manda o sangue para o braço; sem isso ele morre. Assim a ação, sem a contemplação ela morre, ou então não produz. São Tomás dizia que: pela contemplação a alma se alimenta; pelo apostolado, dá-se (S. Th. 2º 2al, q188, a.6).
Os momentos diante do Sacrário e as comunhões espirituais frequentes, são a verdadeira causa da fecundidade da ação das pessoas que desempenham cargos, diz o Pe. Jean Baptiste Chautard. Ao mesmo tempo essa prática é a salva guarda das suas almas e a causa dos seus progressos na virtude.
É o que nos garante nada querer realizar além das nossas forças, habitua-nos a ver, em tudo, a vontade de Deus; só trabalhar nas obras que Deus deseja de nós, e só por amor d’Ele; oferecer a Deus o nosso trabalho renovando o propósito de trabalhar só para Ele e por Ele. É isso que São Paulo disse aos Colossenses:
“Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai” (Col 3,17).
“Tudo o que fizerdes, fazei de bom coração, como para o Senhor e não para os homens, certos de que recebereis como recompensa, a herança das mãos do Senhor. Servi a Cristo Senhor” (Col 3,23).
Isto se chama “reta intenção”, sem a qual, o que nós fazemos não tem valor para Deus. Muitas vezes nossas de boas ações praticadas perdem os méritos porque falta esta “reta intenção”. Só agiremos assim se tivermos muita contemplação e vida interior, porque somos vaidosos e queremos aparecer, se exibir, e se destacar.
A ação para ser fecunda, carece da contemplação, porque, é por meio dela que a alma colhe no Coração de Jesus as graças que vai distribuir na ação. Sem a contemplação, vamos à ação de mãos vazias, como um bombeiro que vai apagar um incêndio, mas percebe que está sem água.
É na medida em que a alma se alimenta do amor de Jesus que ela é também capaz de inflamar as outras almas nesse mesmo amor. Por isso, os santos levaram tantas almas a Cristo, porque viviam a contemplação na ação, como Santa Teresa.
“Deus só abençoa as obras que pela prática da vida interior, aproximam os homens de Deus”, diz J. B. Chautard.
Que a exemplo de Santa Teresa de Ávila e por meio de sua intercessão possamos alcançar sempre alimento para a nossa vida espiritual na doutrina Celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade.
Prof. Felipe Aquino