Podemos dizer que foi um dos mais importantes homens e santos da Igreja, que viveu exatamente quando desabou o Império Romano do Ocidente (476), com a ameaça dos bárbaros de aniquilar a grande civilização Ocidental, herdada da sabedoria greco-romana e enriquecida pelo cristianismo.
Foi contemporâneo de grandes Padres da Igreja como: Papa São Leão Magno (†460), São Jerônimo (†420), São Cirilo de Alexandria (†444), São Máximo de Turim (†465), São Pedro Crisólogo (380-431), São Pedro de Ravena, São João Cassiano (†465), São Paulino de Nola (†431), São Vicente de Lerins (†450), e outros desse século.
A leitura da obra “Hortencius”, do filósofo romano Cícero, o encheu de amor pela sabedoria e pela busca da verdade, que Ele só encontrou em Jesus Cristo. Ele queria uma religião iluminada pela razão. Depois de ser maniqueísta por 9 anos, se converteu ao cristianismo.
Agostinho era filho de Santa Mônica e Patrício, se converteu perto dos seus 30 anos, quando viu o Evangelho aberto em sua mesa, e a voz de uma criança “cantava” em seus ouvidos: “toma e lê”. Agostinho leu:
“A noite avançou, e o dia se aproxima. Portanto, deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz. Como de dia, andemos decentemente, não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne” (Rm 13,12-13). Agostinho caiu num pranto e converteu-se. “Tinhas convertido a ti o meu ser”, comenta ele nas Confissões (VIII, 12,30).
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Depois da conversão, fruto de 20 anos de orações e lágrimas de Santa Mônica, ele deixou Milão, aos 29 anos, onde foi o orador oficial do Imperador romano Valentiniano (383-392), onde ouvia as pregações de Santo Ambrósio, mais para desfrutar de sua retórica do que de sua espiritualidade. Mas a fé o conquistou; voltou para a África, numa vida de penitência. Já tinha o filho Adeodato, sem ser casado, que morreu aos 17 anos. Em Hipona foi ordenado padre e bispo.
Seu trabalho foi importantíssimo porque salvou o que havia de bom na cultura greco-romana, purificadas pelo cristianismo. Ele soube unir a fé e a razão, dizia:
“Deus te livre de supor que Ele odeia em nós precisamente aquela virtude pela qual nos elevou acima dos seres. Não agrada a Deus que a fé nos impeça de procurar e de encontrar as causas. Com toda a tua alma, esforça-te por compreender” (Daniel Rops, História da Igreja de Cristo, Vol. II, p. 41). Sua síntese foi: “creio para compreender, e compreendo para crer”.
O beato Paulo VI disse: “Pode-se dizer que todo o pensamento da antiguidade conflui na sua obra e dela derivam correntes de pensamento que permeiam toda a tradição doutrinal dos séculos sucessivos” (AAS 62, 1970, p. 426).
Ao mesmo tempo era um místico, cuja alma estava sempre na presença de Deus. Para Agostinho a presença de Deus no homem é profunda e misteriosa, mas pode ser reconhecida e descoberta no próprio íntimo: “não saias mas volta para ti; no homem interior habita a verdade; e se achares que a tua natureza é alterável, transcende-te a ti mesmo. Mas recorda-te, quando te transcendes a ti mesmo, transcendes uma alma que raciocina” (De vera religione, 39,72).
Nas “Confissões” ele resume isso: “Criastes-nos para Vós, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós” (I, 1,1). Para Agostinho “estar distante de Deus é estar distante de si mesmo”: sem Deus o homem está alienado de si próprio, e só pode reencontrar-se encontrando-se com Deus. Só em Deus encontra a sua verdadeira identidade.
“Deus estava dentro de mim mais que o meu íntimo e acima da minha parte mais alta […]. Tu estavas diante de mim; e eu, ao contrário, tinha-me afastado de mim mesmo, e não me reencontrava; e muito menos te encontrava a Ti” (Confissões V,2,2).
Daniel Rops, o maior historiador da Igreja, diz que: “Não há problema que o homem, enquanto ser social, possa formular, que o gênio do santo de Hipona não tenha determinado, concretizado e quase sempre, resolvido” (Vol. II. p. 52).
Suas obras foram numerosas. Seu biógrafo, o bispo Possídio, dizia que era impossível alguém assimilar tudo que Agostinho escreveu. Eis algumas de suas obras: Confissões, A Trindade, O Livre arbítrio, Comentários aos Salmos, Solilóquios – a vida feliz, A Graça, Os bens do matrimônio, Cartas a Proba e Juliana, A santa virgindade consagrada, A doutrina cristã, A verdadeira religião – o cuidado devido aos mortos, Comentário ao Gênesis, Contra os Acadêmicos, A Ordem, A grandeza da alma, O Mestre, Explicação de algumas proposições da Carta aos romanos, Explicação da Carta aos gálatas, Explicação da carta aos romanos. (ver Agostinho, Coleção Patrística).
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No final de sua vida, os bárbaros Vândalos tinham dominado o norte da África e Agostinho sofria. O seu biógrafo Possídio disse que:
“As lágrimas eram, mais do que o habitual, o seu pão noite e dia e, tendo já chegado ao extremo da sua vida, mais que os outros arrastava à amargura e ao luto a sua velhice (Vida, 28,6). “De fato, aquele homem de Deus via os massacres e as destruições das cidades; destruídas as casas no campo e os habitantes mortos pelos inimigos ou afugentados e desorientados; as igrejas privadas dos sacerdotes e dos ministros, as virgens sagradas e os religiosos dispersos por toda a parte; entre eles, outros mortos sob as torturas, outros assassinados pela espada, outros feitos prisioneiros, perdida a integridade da alma e do corpo e também a fé, reduzidos em dolorosa e longa escravidão pelos inimigos” (ibid. 28,8).
Possídio disse que Agostinho: “Deixou à Igreja um clero muito numeroso, assim como mosteiros de homens e de mulheres cheios de pessoas dedicadas à continência sob a obediência dos seus superiores, juntamente com as bibliotecas que contêm livros e discursos seus e de outros santos, dos quais se conhece qual foi por graça de Deus o seu mérito e a sua grandeza na Igreja, e nos quais os fiéis sempre o encontram vivo” (Vita, 31,8).
Isto é apenas um pouco do que podemos dizer deste que foi um dos maiores santos da Igreja e que muito trabalhou para eliminar heresias perigosas como o donatismo, arianismo, maniqueísmo e outras.
Prof. Felipe Aquino