“Quando chegaram a Jesus, tendo visto que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saíram sangue e água”. (João 19,34)
Os grandes Santos Padres meditaram profundamente sobre este fato e nos deixaram profundos ensinamentos; além de nela encontrarem grande consolo. A carne do peito sagado do nosso Redentor foi rasgada pelo soldado Longuinho, mostrando-nos a imensa misericórdia divina, e o amor de Cristo por nós.
A Igreja consagrou a devoção ao Coração de Jesus no culto divino, recomendado por grandes papas, como Leão XIII, Pio XI, Pio XII, Paulo VI. Esta devoção é uma adoração à Pessoa divina de Jesus, manso e humilde de coração. Assim como os olhos veem e os ouvidos ouvem, o coração ama. “E mesmo que a mãe esquecesse o filho, jamais vos esquecerei!” (Is 49,15).
A Igreja nos ensina que deste Coração aberto pela lança saiu sangue e água, símbolos do Batismo e da Eucaristia, da Igreja. Esposa de Cristo, que “nasce do lado aberto do novo Adão, como Eva nasceu do lado aberto do primeiro” (S. Ambrósio).
O sangue e a água que escorreram do lado transpassado de Jesus crucificado são tipos dos sacramentos da vida nova: desde então é possível “nascer da água e do Espírito” para entrar no Reino de Deus (Jo 3,5). Santo Ambrósio, que batizou Santo Agostinho, dizia: “Vê, quando és batizado, donde vem o Batismo, se não da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Lá está todo o mistério: Ele sofreu por ti.É nele que és redimido, é nele que és salvo e, por tua vez, te tornas salvador” (Santo Ambrósio, Sacramentos 2,2,6).
Nas suas visões, Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), ouviu Jesus lhe dizer: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou até Se esgotar e consumir para lhes testemunhar seu amor, e que, como retribuição, da maior parte só recebe ingratidões… Ao menos tu, filha minha, chora pelos que me ofendem, geme pelos que não querem orar, imola-te pelos que renegam e blasfemam contra o meu santo nome”.
O pecado de cada homem e de toda a humanidade ferem a Majestade Infinita de Deus; então, não bastava uma reparação de valor humano para reparar a Justiça Divina. Não havia um homem sequer que pudesse oferecer à Justiça Divina uma reparação suficiente, infinita. Então, o Filho de Deus se fez homem, se ofereceu para reparar diante dessa Justiça todo o pecado da humanidade. A Carta aos Hebreus explica isso: “Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Sl 39,7ss).
Jesus assumiu sobre si, diante da Justiça divina, toda a culpa da humanidade, e ofereceu a Deus o valor infinito do Seu Sacrifício para que todos sejam perdoados. Por isso, no mesmo dia da Ressurreição, no domingo, instituiu o Sacramento da Confissão: “A quem vocês perdoarem os pecados, os pecados serão perdoados” (Jo 20,22ss). Com Sua morte e Ressurreição Ele nos arrancou dos braços do demônio e nos levou para o Reino de Deus.
Passando pelo sofrimento mais terrível que um homem pode passar (agonia mortal no Horto das Oliveiras, flagelação, coroação de espinhos, crucificação…) Jesus deu um sentido ao sofrimento que é fruto do pecado, e “fez do sofrimento matéria prima da salvação” (Michel Quoist). Agora, tem sentido sofrer na fé; pois todo sofrimento unido ao de Cristo é redentor da humanidade.
O cirurgião francês Piérre Barbet, estudou durante vinte e cinco anos, cientificamente, a Paixão de Cristo e a narrou no seu livro “A Paixão de Cristo segundo o cirurgião” (Ed. Cléofas), e ali ele mostra o sofrimento indescritível de Jesus. Ao narrar a crucificação de Jesus, Dr. Piérre, diz:
“Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego; quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas.”
Tudo pela nossa salvação! ‘Amor só se paga com amor” (S. João da Cruz)
Prof. Felipe Aquino