Uma Carta enviada ao Papa foi publicada na “Folha de São Paulo” (30 set 07), de autoria de Carlos Alberto Roma, ex-postulante franciscano, em nome de 110 leigos católicos.Apresentamos alguns pontos dessa Carta, e em seguida um comentário sobre cada ponto. A Carta diz:
“Cresce a nossa insatisfação, enquanto leigos católicos, com a insensibilidade da hierarquia da nossa igreja que está no Vaticano. A questão de fundo é a explícita falta de coragem para dar os passos necessários para colocar a Igreja no século 21, especialmente se abrindo para os leigos.”“Somos 110 leigos. Após refletirmos sobre a prática e a coragem de Jesus diante da religião de seu tempo, tendo como texto de aprofundamento o livro “Com Jesus na Contramão”, de frei Carlos Mesters, decidimos redigir uma carta ao papa Bento 16 e toda a Cúria romana: “Estamos cada vez mais motivados em servir a Deus por meio da nossa Igreja. No entanto, estamos sofrendo muito, pois os sucessivos padres que atuam em nossa paróquia têm enfrentado um problema grave: por mais que motivem, a juventude atual não se sente entusiasmada a entrar no seminário para servir como sacerdote.”
“Com a grande falta de padres, confirmada em pesquisas realizadas em todos os países do mundo, nos perguntamos: por que não reconhecer o sacerdócio casado, o sacerdócio feminino e reconduzir os padres casados ao serviço da Igreja?”.“Os tempos atuais conclamam a que façamos corajosa revisão e mudemos nossos paradigmas. Solicitamos que Sua Santidade crie uma comissão, também composta por leigas e leigos, para aprofundar e solucionar urgentemente quatro questões:
1) Implantação de dois modelos de sacerdócio: a) celibatário e b) casado, com normas canônicas específicas para cada estado.
2) Implantação do sacerdócio feminino, com duas modalidades: a) celibatária e b) casada, com normas canônicas específicas para cada estado. 3) Reintegração, no serviço da igreja, dos sacerdotes já casados, ainda vocacionados.
4) Rever a situação dos cristãos casados em segunda união e sua participação na eucaristia. .” “A hierarquia de nossa Igreja Católica vai continuar indiferente? Ou vai abrir-se ao Espírito Santo e dar um passo à frente? Não podemos adiar ainda mais esse debate. Falta-nos, quem sabe, “vontade eclesial” ou “decisão política”?”A Carta convida os leigos a entrar neste debate, pelo site:
www.softline.com.br/leigoscatolicosnacontramao.
Comentários:
Atendendo ao convite deste grupo de leigos, para entrar neste debate, coloco alguns pontos:
1 – É muito estranho que um grupo de leigos fale de “insatisfação com a hierarquia da Igreja que está no Vaticano”. Ora, esta hierarquia é formada de Cardeais, Arcebispos, Bispos e Sacerdotes que formam a Cúria Romana, escolhidos pelo Papa, especialmente os Prefeitos das Congregações e os Presidentes dos Pontifícios Conselhos. Portanto, manifestar insatisfação com o Vaticano, é manifestar falta de confiança no Papa. O bom católico jamais pode agir assim.
É grave a acusação de que “falta coragem” na Hierarquia para “colocar a Igreja no século 21”. É uma acusação que cai também sobre o Papa. O grupo confunde falta de coragem com fidelidade do Papa e dos seus auxiliares com Jesus Cristo; na verdade, o Papa atual, bem como João Paulo II, mostraram ao mundo muita coragem em manter o que não pode ser mudado por ser a vontade de Deus. Eles não aceitam trocar o que foi legado pela Sagrada Tradição da Igreja e seu Magistério pelo que hoje se chama “politicamente correto” (aquilo que agrada o povo), mesmo com tanta contestação da mídia e desses grupos católicos adversos.
É preciso lembrar que o atual Papa foi por 25 anos o “Prefeito da Congregação da Fé”, auxiliar de confiança de João Paulo II, e enfrentou muitas criticas sem jamais deixar de cumprir sua missão árdua e fundamental de auxiliar o Papa a “guardar o bom depósito da fé”.
Embora “humilde servo da vinha do Senhor”, o então Cardeal Ratzinger nunca foi covarde ou omisso; e agora, como Papa, tem mostrado a mesma disposição ao conduzir o Rebanho de Cristo. Não podemos esquecer que ele foi eleito Papa em uma das eleições mais rápidas que já houve em um Conclave. Logo, essas acusações contra o Papa e seus assessores, caem também sobre os Cardeais que o elegeram Papa. Será que os Cardeais da Igreja são também medrosos?
2 – A Carta desse grupo de leigos propõe, mais uma vez, o sacerdócio casado, o sacerdócio feminino e reconduzir os padres casados ao serviço da Igreja. Ora, é preciso dizer que mais uma vez o Vaticano analisou esses pontos no Sínodo dos Bispos realizado em Roma sobre a Eucaristia em 2005; após o qual o Papa publicou a exortação apostólica “Sacramentum Caritatis”. Nela o Papa diz que confirmou o pedido dos Bispos que participaram do Sínodo recomendando a manutenção do celibato sacerdotal. O sacerdócio feminino nem passou pela análise dos Padres sinodais, por ser um assunto encerrado na Igreja Católica. O Papa escreveu:
“Os padres sinodais quiseram sublinhar como o sacerdócio ministerial requer, através da ordenação, a plena configuração a Cristo. Embora respeitando a prática e tradição oriental diferente, é necessário reiterar o sentido profundo do celibato sacerdotal, justamente considerado uma riqueza inestimável e confirmado também pela prática oriental de escolher os bispos apenas de entre aqueles que vivem no celibato, indício da grande honra em que ela tem a opção do celibato feita por numerosos presbíteros.” Sobre o sacerdócio feminino, o Papa João Paulo II disse na Encíclica Ordinatio Sacerdotalis, de 1994, o seguinte:
“Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja.” (grifo meu)
Esta definição do Papa João Paulo II foi considerada pela Congregação da Fé, respondendo a uma consulta, como tendo força dogmática, isto é, a Igreja não pode mais alterar esta posição.
3 – Sobre a proibição dos casados em segunda união, o Papa João Paulo II já havia dito na “Familiaris Consortio”: “A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio.” O Papa Bento XVI confirmou esta mesma posição.
4 – Se este grupo acha que não há vocações sacerdotais por causa dos fatores que apontam contra o Vaticano, é preciso dizer que graças a Deus as vocações sacerdotais e religiosas estão crescendo e muitos Seminários que estavam vazios, agora estão repletos de vocacionados ao sacerdócio. Especialmente os Seminários ligados ás Comunidades de vida e de aliança, têm recebido abundantes vocações. O que me parece é que os jovens não querem mais procurar Seminários e Congregações que não lhes ofereçam uma espiritualidade sadia, onde de fato se valorize a oração, a Palavra de Deus, a Eucaristia e a Confissão, o jejum e a meditação, e a fidelidade a Cristo e a Igreja. O que começa ficar claro é que os jovens vocacionados ao sacerdócio e à vida religiosa aspiram hoje o que pediu João Paulo II: “Uma nova evangelização”, com novo ardor (o fogo do Espírito Santo), novos métodos (evangelização pela mídia, etc.) e nova expressão (vida em comunidade).O que afasta os jovens dos Seminários não é o celibato e nem as normas da Igreja, e sim, a falta de ardor religioso. As comunidades de vida e de aliança estão repletas de jovens que querem o sacerdócio.
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br