A “Sagrada Congregação da Fé”, do Vaticano, publicou (03 dez 07), na festa do Padroeiro universal das missões, São Francisco Xavier, um importante documento chamado “Nota Doutrinal sobre alguns aspectos da Evangelização”, onde esclarece pontos importantes sobre o “conceito da missão evangelizadora cristã”, diante da “confusão crescente” gerada pelo ambiente agnóstico e relativista de nosso tempo.
O documento responde de maneira clara a enganos divulgados inclusive dentro da Igreja que defendem que a evangelização seja um atentado contra a liberdade do outro e que sustentam que é desnecessária a promoção da conversão a Cristo. A Congregação da Fé rejeita a tese de que evangelizar é uma intromissão e empobrecimento nas culturas locais e que o aumento de membros na Igreja significa o crescimento de um grupo de poder. É o reflexo do relativismo que toma conta do mundo e que penetra também a Igreja.
A importância da Nota Doutrinal pode ser notada pelo fato dela ter sido apresentada no Escritório de Imprensa da Santa Sé pelos cardeais William Joseph Llevada, Francis Arinze e Ivan Dias, respectivamente prefeitos das Congregações para a Doutrina da Fé; para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e para a Evangelização dos Povos; e o Arcebispo Angelo Amato, Secretário da CDF. Três Congregações do Vaticano participaram de sua elaboração, o que mostra a preocupação da Santa Sé com o problema apontado na evangelização.
Segundo o resumo da Nota, “hoje existe uma ‘confusão crescente’ sobre o mandato missionário da Igreja. Alguns opinam que ‘qualquer tento de convencer a outras pessoas em questões religiosas seja um limite à liberdade’, sugerindo que baste ‘convidar às pessoas a atuar segundo sua consciência’ e ‘ajudar aos seres humanos a ser mais humanos ou mais fiéis à própria religião, para construir comunidades capazes de obrar pela justiça, a liberdade, a paz, a solidariedade’, sem apontar à conversão a Cristo e à fé católica”.
Apontando outro engano atual, o Vaticano constata que “outros sustentam que não se deve promover a conversão a Cristo porque é possível salvar-se ‘sem um conhecimento explícito de Cristo e sem uma incorporação formal à Igreja’”.Na verdade, essa mentalidade evangélica errônea se constitui numa verdadeira traição a Jesus Cristo que mando a Igreja evangelizar “todas as Nações”.
Ao abordar as implicações antropológicas, o Documento observa que “algumas formas de agnosticismo e relativismo negam a capacidade humana de conhecer a verdade, enquanto a liberdade humana não pode desvincular-se de sua referência à verdade”.Esclarece que “o ensino e o diálogo com que se pede a uma pessoa, em plena liberdade, que conheça e ame a Cristo, não é uma ‘intromissão indevida’ na liberdade humana, mas sim uma “oferta legítima e um serviço que pode fazer mais fecundas as relações entre os seres humanos”.
“Com a evangelização, as culturas se enriquecem positivamente com as verdades do Evangelho. Do mesmo modo, com a evangelização, os membros da Igreja Católica se abrem a receber os dons de outras tradições e culturas”.O Documento deixa claro que: “Qualquer tentativa de diálogo que comporte a coação ou uma instigação imprópria, desrespeitosa da dignidade e a liberdade religiosa dos dois atores do diálogo, não pode subsistir na evangelização cristã”.Referindo-se às implicações eclesiológicas, afirma que para a evangelização cristã “a incorporação de novos membros à Igreja não é a extensão de um grupo de poder, mas sim a entrada na amizade com Cristo, que une o céu e a terra, continentes e épocas diferentes”.
O documento “reafirma o importante papel do ecumenismo na missão evangelizadora da Igreja. As divisões dos cristãos podem comprometer seriamente a credibilidade da missão evangelizadora da Igreja”.”Quando a evangelização católica se leva a cabo em um país onde vivem cristãos não católicos os católicos devem cumprir a própria missão emprestando a máxima atenção ao verdadeiro respeito por suas tradições e riquezas espirituais” e “com um sincero espírito de cooperação. A evangelização pode progredir com o diálogo e não com o proselitismo.”Este importantíssimo documento corta na raiz o erro ora propagado de deixar que os não católicos se salvem na própria fé que professam, independente da Igreja católica. Ora, Jesus deixou a salvação ao mundo através da Igreja e de seus Sacramentos.
Deixar de levar esta salvação a todos os povos é traição grave a Jesus Cristo e aos homens. Os que pensam diferente certamente não estão convictos da fé católica e da necessidade da Igreja. Lembro aqui o que diz o nosso Catecismo:
§816 – “A única Igreja de Cristo,… é aquela que nosso Salvador, depois da sua Ressurreição, entregou a Pedro para apascentar e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la… Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste (“subsistit in”) na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele” (LG 8). “Pois somente através da Igreja católica de Cristo, auxílio geral de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens do Novo Testamento ao único Colégio Apostólico à cuja cabeça está Pedro, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus” (UR 3).
§846 – “Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, [o Concílio] ensina que esta Igreja peregrina é necessária para a salvação. O único mediador e caminho da salvação é Cristo, que se nos torna presente no seu Corpo, que é a Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do batismo, ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo batismo, como que por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar, ou então perseverar” (LG 14).
Esses parágrafos deixam claro que a Igreja não é um “apêndice” na história da salvação, mas a sua realização.
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br