O reitor da Universidade «La Sapienza» de Roma, Dr. Renato Guarini, anunciou que voltará a convidar o Papa Bento XVI para visitar esta Instituição. O reitor diz fará isso «interpretando o desejo da maioria da comunidade acadêmica da Universidade ‘La Sapienza’».
Ainda bem que houve uma rápida e fortíssima reação ao gesto de intolerância e obscurantismo de um grupo de professores e universitários da Universidade “La Sapienza”, a maior da Europa, que boicotaram a presença do Papa na Universidade para proferir a aula inaugural do ano letivo.
Na Aula que o Papa não pôde proferir, um professou leu o discurso que o Papa havia preparado para essa visita. Um longo aplauso acolheu a intervenção que o Papa havia escrito para a ocasião.
No ato, estiveram presentes o ministro italiano de Educação, Fabio Mussi, e o prefeito de Roma, Walter Veltroni.Houve protestos fora e dentro da universidade e infelizmente Dom Enzo Dieci, bispo auxiliar de Roma, foi bloqueado pelos manifestantes no exterior da universidade, e isso o impediu de celebrar a missa na capela universitária.
Mas as repercussões continuam intensas contra o boicote ao Papa. Em resposta à intolerância de professores e universitários um grupo de leigos (alguns deles não-católicos e nem crentes), convidados pelo diretor do jornal «Il Foglio», Giuliano Ferraras, organizou na noite de ontem uma vigília de testemunhos em defesa do direito à palavra do Papa. (zenit.org – 17 janeiro 2008)
Ferrara disse que: «Os professores da universidade de Roma que ocuparam a reitoria e que tornaram inseguro o terreno no qual ainda deveria dar-se uma acolhida digna para uma pessoa como Joseph Ratzinger, cometeram um ato de intolerância». «Cremos que, em princípio, não se pode negar a ninguém o direito à palavra e pensamos sobretudo que Ratzinger é um Papa, um teólogo, um grande intelectual do século XX, que se pôs à disposição para ajudar-nos a raciocinar, e porque nós o ajudamos, como homem de fé, a comunicar sua fé em termos de razão.»
«Em uma universidade como ‘La Sapienza’ ele deveria haver podido desempenhar serenamente sua vocação, deixando uma marca, ainda que a deixará, pois o discurso terá uma ressonância mundial.»
Na vigília, havia professores e autoridades acadêmicas da universidade «La Sapienza», que anunciaram a iniciativa para manifestar seu desacordo com relação à intolerância.
Eugenia Roccella, jornalista e escritora, disse que: «É um mínimo gesto de solidariedade com o Santo Padre». «É um escândalo o que em uma instituição cultural, que deveria educar os jovens nos valores da verdadeira laicidade, da tolerância, da democracia e do respeito recíproco, aconteça algo assim.»
«O Papa foi a todas as partes do mundo, e só na Itália, na universidade, não pode falar. É verdadeiramente a degradação de toda forma cultural».
Lucetta Scaraffia, professora de história contemporânea em «La Sapienza», considera adequada a decisão do Santo Padre de não visitar a universidade por causa dos protestos, «pois não lhe garantiram a possibilidade de falar em condições normais». «Eu quis participar deste encontro para testemunhar que o que aconteceu é gravíssimo e que algo deve ser feito», conclui.
Também um muçulmana saiu em defesa do Papa. Souad Sbai, que vive há 26 anos na Itália, é membro da Consulta Islâmica do Ministério do Interior, presidente de uma associação de mulheres muçulmanas e trabalha no jornal «Al Maghribya», único órgão de imprensa árabe na Itália.
Sbai, em um artigo, no jornal católico «Avvenire», com o título: «Essa intolerância eu conheço bem. Palavra de uma islâmica reformista», diz que, quando a notícia chegou à sede do Centro Cultural Averroes de Roma, na qual se encontrava nesse momento, «tudo parou». Na sede do centro, as amigas e colaboradoras passavam, «incrédulas, de mão e mão aqueles primeiras notícias de agência».
Souad Sbai relata que não lhes parecia possível que «este Papa se tivesse visto obrigado a renunciar à sua intervenção na maior universidade italiana».
«Um homem – acrescenta – que para nossas mulheres de cultura muçulmana é sobretudo o homem da paz e do diálogo, uma figura clemente e generosa que procura o encontro com os diferentes, socorrer os indefesos e oprimidos, defender em qualquer parte do mundo os direitos da pessoa.»
Para Sbai, o mais incrível é que o veto provenha justamente de «uma daquelas universidades do Ocidente às quais nós, mulheres árabes – que nos inspiramos em um pensador como Averroes – contemplamos como uma terra prometida da livre confrontação de conhecimentos e de saberes. Um lugar de esperança e não de intolerância para nós que sabemos bem aonde conduz a intolerância».
Também para as mulheres que ela representa, diz, esse dia foi «uma jornada de tristeza e de vergonha porque se celebrou a afirmação de uma ideologia facciosa e arrogante, de um laicismo oportunista que quer ter as mãos livres na construção de uma sociedade italiana à sua imagem e semelhança».
Uma sociedade, acrescenta a jornalista marroquina, «privada de valores, de conteúdos, de espiritualidade e de impulsos ideais».
A ideologia que impede Bento XVI de tomar a palavra em um ateneu de sua cidade, afirma Souad Sbai, «é a mesma que convida alguns extremistas islâmicos e expoentes da esquerda mais extrema a falar nas universidades».
«Unidos, não por acaso, pela mesma repulsa das grandes verdades da história e a mesma rejeição do pensamento humanístico, assim como do apaixonante debate sobre a relação entre fé e razão que justamente Bento XVI situou no centro do diálogo entre o Islã e o Ocidente.»
Com esta postura, segundo Sbai, ao invés de aceitar o repetido convite do Papa a «ampliar a razão», «restringe-se irracionalmente o horizonte do conhecimento e do debate, em detrimento dos estudantes que estão formando sua bagagem humana e intelectual, e do patrimônio cultural de todo o ateneu».
A jornalista marroquina adverte que «as provas gerais da deriva despótica e não-liberal de um país, ensina-nos a historia, são feitas com freqüência nas salas das universidades».
A esta situação, em um país democrático como a Itália, contrapõe-se o exemplo de alguns países árabes «que tomaram a via das reformas liberais e onde o extremismo islâmico é um perigo bem presente».
Nestes países, assegura, «ninguém pode permitir-se fechar a porta a um convidado a uma universidade». «Se na Itália não é assim – conclui a presidenta das mulheres muçulmanas –, quer dizer que ao que assistimos não é só o dia da tristeza e da vergonha. É o amanhecer da derrota da civilidade de todo um país.»
As palavras dessa sra. Muçulmana, presidente de uma associação de mulheres muçulmanas e jornalista do jornal «Al Maghribya», único órgão de imprensa árabe na Itália, tem um significado muito grande. Os professores e alunos que boicotaram a ida do Papa a La Sapienza fazem exatamente aquilo que condenam todos os dias no passado da Igreja, só que numa época nova, num novo contexto social e moral. Isto aumenta muito o seu erro.
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br