Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá nenhuma alegria (Sab 13, 1)
Algumas vezes diante de alguma catástrofe: enchentes, desabamentos, terremotos, etc., ouve-se falar que “foi da vontade de Deus”. “Fazer o quê, Deus quis assim…”
Será que Deus quer o mal? De forma alguma. De jeito nenhum; seria blasfêmia dizer isto. Deus é Perfeitíssimo. Nele não há sombra de mal e de maldade; ele ama a todas as suas criaturas, especialmente o homem e a mulher, que os criou “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26). Ninguém pode desejar o mal, e muito menos enviar o mal a quem ama; e muito menos Deus, que é puro Bem. Santo Irineu (†200) dizia que “o homem é a glória de Deus”; por nós Jesus deu a sua vida, na maior prova de amor que a humanidade já viu.
Então, de onde vem o mal, as catástrofes, etc.?
Em primeiro lugar vem da imperfeição que toda natureza traz em si, seja ela mineral, vegetal, animal ou humana. Só Deus é Perfeito; os seres criados não podem ser perfeitos porque senão seriam Deus, e Deus é o Criador e não a criatura. Da fraqueza da natureza pode vir o mal. A fonte do mal moral é também o pecado, que gera o mal físico, psicológico, etc. São Paulo resume tudo dizendo que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23). Sofremos não somente por causa do “nosso” próprio pecado, mas principalmente por causa dos pecados da humanidade de modo geral. Alguém pode sofrer um acidente e morrer, sem culpa, por causa de outro que dirigia bêbado… E sabemos que o pecado enfraqueceu a natureza humana; o homem foi feito para a imortalidade, mas o pecado o fez experimentar o sofrimento e a morte. “Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá nenhuma alegria” (Sab 13, 1). “Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo.” (Sab 13, 23-23)
A própria natureza se tornou hostil ao homem por causa do seu pecado (Gn 3, 16). Por causa do homem, a criação está submetida “à servidão da corrupção” (Gn 8,20). Mas Deus não poderia impedir todo mal de acontecer? Deus não poderia impedir as enchentes, os desmoronamentos, etc.? É claro que Deus poderia, pois é Onipotente; mas se ele fizesse isso, criaria um mundo artificial, sem leis, e o homem não seria livre e responsável pelos seus atos, “senhor” da Criação. Deus entregou o mundo nas mãos do homem para ele cuidar; e para isto lhe deu inteligência, mãos hábeis, e tudo o mais que ele precisa. Mas infelizmente o homem usa muitas vezes tudo isto para o mal, movido pelo egoísmo, soberba, ganância, inveja, ira… Quanto dinheiro é gasto em guerra, corrupção, drogas, crimes, etc.!? Se todo este dinheiro fosse gasto para o bem, os pobres não teriam suas casas derrubadas pelas enchentes, não morreriam de fome, de doenças curáveis, etc, etc., etc..
Quando houve o terrível “tsunami”, em 26 de dezembro de 2004, muitos perguntaram: “Onde estava Deus?”. A resposta que o Papa deu foi: “Ele estava ali sofrendo com as pessoas”. Deus jamais quis aquilo, foi obra da natureza imperfeita e também decaída pelo pecado do homem; mas hoje se sabe que aquelas 230.000 mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse um bom serviço de sismologia funcionando ali; não havia. Ainda que se afirme que alguns sismólogos em seus departamentos previram a catástrofe, a comunicação com as áreas atingidas não foi possível. Os cientistas americanos poderiam ter avisado às autoridades locais para que toda a área fosse evacuada. O problema foi que naquela região não havia os recursos técnicos para captar o aviso que permitiria evitar a mortandade. A atriz Teresa Amayo, mãe da diplomata carioca Lys Amayo Benedek D’Avola, que também faleceu em consequência do maremoto, foi clara em acusar o descuido dos países ricos para com aquela região. Os abastados são egoístas e não cuidam das regiões pobres deste planeta. Não se pergunte então “onde estava Deus?”. Ele estava chorando…
O homem sabe usar o dinheiro para a guerra e outros males, mas não prevenir os males sobretudo dos fracos. Então, não se pergunte, “onde estava Deus?” Ele estava ali chorando aquelas vítimas porque a humanidade não sabe usar a inteligência e a liberdade que receberam. Ele está gritando a todo instante: “amai-vos uns aos outros como eu os amei”. Mas quem O ouve? A arrogância do homem de hoje, que se caba de sua ciência, foi duramente punida. Gastos astronômicos são feitos com as pesquisas espaciais e se esquece da humanidade que vive nas regiões de perigo.
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Sabemos que o homem vem maltratando o meio ambiente. O efeito estufa é sério. Que não se culpe a Deus depois pelos seus efeitos. Há áreas de risco em muitos lugares, e mesmo quando se pode impedir os estragos, muitas vezes não se faz “por falta de recursos.”
Dia 18 de janeiro de 2005, depois do “tsunami”, a imprensa publicava: “Mundo precisa aprender lições da tsunami, alerta Annan”. Acrescentava: “KOBE, Japão – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, exortou o mundo a aprender com a “tsunami” que atingiu o sul da Ásia e disse que investimentos, feitos agora, limitarão as vítimas e os danos de desastres naturais inevitáveis”. Será que o mundo aprendeu?
Se houvesse uma vontade política das nações, a miséria e a fome poderiam ser varrida da face da terra. Que os homens sejam mais humildes e reconheçam seus crimes, pecados, perversidades, se convertam e, então, sim teremos um mundo mais humano e com menos catástrofes. Mas a Providência divina sabe tirar o bem para os homens inclusive das situações mais dolorosas e trágicas. A maneira como isto acontece é para nós um grande mistério; mas, porque Deus é bom, temos de pensar que não permitiria estes fatos dolorosos e trágicos, se não fosse capaz e não pudesse tirar do mal o bem para os homens. “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus.” (1Ts 5, 17) Deus, sem dúvida – nos garante a fé – em sua ternura paterna, está perto dos inocentes e os salva em seu Reino.
Na outra vida Deus sempre pode socorrer os seus inocentes filhos. Mas também, cada catástrofe, constitui um chamado à “conversão”, é o que Jesus nos ensina diante do acidente da torre de Siloé. “Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo”. (Lc 13, 4-5) Deus não olha como nós só para esta vida; Ele vê muito mais a vida que é eterna. Certamente Ele, nos seus desígnios insondáveis, se permite as catástrofes geradas pela maldade ou imprevidência da loucura humana, é porque sabe fazer delas um meio de salvação.
Prof. Felipe Aquino