Revolução Sexual II

D. Estevão Bettencourt, osb, publicou em sua revista Pergunte e Responderemos (Edições Lúmen Christi, n. 547, janeiro de 2008) um interessante artigo intitulado “A Revolução Sexual” (pp. 21- 24) que completa bem o artigo que colocamos anteriormente, baseado no do Padre Paulo Ricardo.  D. Estevão mostra em sete itens as raízes desta revolução que aconteceu no século XX.

1 – O Pan-sexualismo de Freud –  Sigmund Freud, nasceu  em 1856 e morreu em Londres em  1939; foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da Psicanálise. Interessou-se inicialmente pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Freud afirmava que o sexo define a pessoa em todas as suas manifestações, mesmo no cultivo das artes.

As práticas religiosas são movidas pelo “eros”, de modo que não é a pessoa que se manifesta pelo sexo, mas é o sexo que se manifesta na pessoa, segundo Freud. Então, para ele, deve-se favorecer a prática sexual e não coibi-la mesmo em idade precoce. Freud era ateu e inimigo da religião. A tese de Freud fez surgir a “educação sexual”, “uso do sexo sem o risco” de engravidar e de se contaminar com doenças sexuais, especialmente hoje a AIDS.

Para Freud, coibir o instinto sexual seria o mesmo que contrair uma neurose. A educação tradicional é vista então como uma grande depressão, causa de neuroses, e a cultura dos deveres como resultado de neurose coletiva.

Leia também: Revolução Sexual I

2 – O existencialismo de Sartre – Jean-Paul Charles Aymard Sartre (nasceu em Paris, em 1905 e morreu em 1980). Foi um filósofo existencialista francês do início do século XX. Sartre difundiu pela literatura e pelo cinema a concepção de que “ se Deus não existe, então tudo é permitido”…, ora, Sartre era ateu, “Deus não existe”, ele dizia; logo, tudo é  permitido. Em conseqüência a experiência sexual foi exaltada como forma privilegiada de educação e comunicação; e todos os “tabus” deveriam ser derrubados. Esta mentalidade foi uma das componentes da Revolução sexual.

3 – O Relatório Kinsey – Alfred Charles Kinsey (nasceu em 1894 e morreu 1956); foi um zoólogo norte-americano. Em 1947, na Universidade de Indiana, fundou o Instituto de Pesquisa sobre Sexo, hoje chamado de Instituto Kinsey para Pesquisa sobre Sexo, Gênero e Reprodução. Kinsey concluiu que os comportamentos sexuais não são mais do que “um mecanismo relativamente simples que se encarrega da realização erótica sempre que os estímulos físicos e psíquicos são suficientes… Logo, se são reações mecânicas da natureza, não há como falar de bem ou mal em termos de sexo, licito e ilícito, normal ou anormal”. Para ele o comportamento sexual de uma pessoa nada tem de moral ou imoral, muito menos religioso. Isto foi uma das raízes da Revolução sexual.

4 – A descoberta dos anticonceptivos – A Pílula anticoncepcional começou a ser propagada em meados do século XX, o que facilitou a realização das relações sexuais antes, fora e dentro do casamento, sem o risco de gravidez, separando os aspectos unitivo e procriativo do ato sexual. Por isso foi condenada pelo Papa Paulo VI na encíclica “Humanae Vitae”, em 1967. A Pílula foi, sem dúvida um dos grandes incentivos à Revolução sexual.

5 – Marxismo e Neo-marxismo  de Karl Marx – Karl Heinrich Marx (nasceu em 1818 e morreu em  Londres em 1883) foi um intelectual alemão, economista. Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento operário que deu origem à revolução russa (bolchevista) de 1917, responsável pelo comunismo. Para ele o mundo seria salvo pela economia e pela política. Era ateu e inimigo da Igreja.

Karl Marx afirmava que a família deveria estar vinculada à produtividade. Até os jogos das crianças deveriam, conforme a escola de Marx, ser concebidos como preparação da atividade produtiva e como educação para o trabalho. A mulher deve entrar no mercado de trabalho e deixar  os filhos aos cuidados das pedagogas, psicólogas, etc. Caso a mulher não possa dar conta dos filhos, deve fazer o aborto. Por isso a Rússia foi o primeiro país da Europa a legalizar o aborto, em 1920. Hoje realiza cerca de 1,5 milhão de abortos por anos; onde só nascem 700 mil crianças por ano.

Para Marx a Revolução Russa (1917) deveria libertar a mulher dos três K: “Kinder, Küche, und Kirche” (filhos, cozinha e Igreja). Nessa linha o homem deveria livrar-se da dependência erótica afetiva que ocorre no matrimônio, libertando-se da dependência dos princípios da moral familiar. Para Marx e para os comunistas, a família era uma realidade filha da Igreja e ambas deveriam ser eliminadas. “Deus é o ópio (droga) do povo”. Lênin se dizia “inimigo pessoal de Deus”.

Herbert Marcuse (1898 – 1979), citado em nosso artigo anterior (Você sabe o que é a revolução sexual?), assimilou essas idéias e as colocou em seu livro “Eros e a Civilização” (Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1955).

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6 – O feminismo de Simone Beauvoir – A procura radical da emancipação da mulher, igualada ao homem no trabalho fora de casa, deu origem aos movimentos feministas radicais, que ensinam que a maternidade não é desejável para a mulher pois a faz escrava do lar.

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, conhecida como Simone de Beauvoir (Paris, 1908 — 1986), foi uma escritora, filósofa existencialista e feminista francesa, que escrevia romances, monografias sobre filosofia, política, sociedade, ensaios, etc. , e que proclamou como direitos da mulher, o recurso ao aborto e á contracepção, a fim de que a mulher possa exercer um papel político-social semelhante ao do homem.

“Conheceu Jean-Paul Sartre na Sorbonne, no ano de 1929, e logo uniu-se estreitamente ao filósofo e a seu círculo, criando entre eles uma relação polêmica (foi uma relação “aberta”, pois o casal tinha experiências amorosas com terceiros) e fecunda, que lhes permitiu compatibilizar suas liberdades individuais com sua vida em conjunto” (Wikipédia).

7 – O Malthusianismo – Thomas Robert Malthus (1766 — 1834) foi um economista britânico. Ele e sua escola propuseram bases teóricas para justificar as políticas anti-natalistas dos Governos. Afirmava que a população do planeta crescem em proporção geométrica enquanto a produção de alimentos em progressão aritmética, e assim propunha um drástico controle da natalidade, prevendo que no ano 2000 haveria uma explosão demográfica. Nada disso aconteceu, e os governos dos paises europeus hoje incentivam a natalidade. Sabe-se que hoje, com a revolução verde da biotecnologia,  a terra tem condições de alimentar 25 bilhões de pessoas caso se faça justa distribuição de recursos. Hoje há apenas 6,2 bilhões de pessoas na terra… O Japão tem 320 pessoas por Km quadrado, enquanto o Brasil, e toda a América Latina,  tem apenas 20.

Uma vez que a tese de Malthus falhou, os neo-malthusianos de hoje apresentam novos argumentos: a carência da falta de água, energia, aumento da poluição e outros catastrofismos para continuar o drástico controle da natalidade, de modo especial dos pobres. Por detrás da campanha anti-natalista está o receio de que as populações pobres possam crescer numericamente e ameaçar o bem estar das potências econômicas. É o desejo dos povos mais fortes de dominar os mais fracos; fala-se de manter o mundo com apenas 2 bilhões de pessoas.

Esses fatores, segundo D. Estevão, promoveram a Revolução sexual dos anos 60 do século XX, e que tanto estrago gera nos dias de hoje. É uma cultura muito arraigada e difundida nas universidades e propagadas pela mídia. Cabe à Igreja, como Cristo, “Sinal de contradição” (Lc 2, 34), remar contra essa maré avassaladora que ameaça a família e a sociedade.

Prof. Felipe Aquino


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino