D. RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS, Arcebispo de Aparecida do Norte
“É MEU desejo celebrar a quinta Conferência junto ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida”, afirmou o papa Bento XVI ao presidente do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) no dia 15 de outubro de 2005. E acrescentou: “Se Deus me deu essa missão, Ele me dará força para realizá-la”. No dia 13 de maio próximo – daqui a dois meses -, Bento XVI estará em Aparecida, no Estado de São Paulo, para realizar esse desejo e cumprir, em conseqüência, uma importante missão de seu pontificado. Se considerarmos que a quinta Conferência deveria realizar-se em Roma, devido a deliberação anterior de João Paulo 2º que levava em conta o precário estado de saúde em que se encontrava, não deixa de ser uma surpresa agradável a nova decisão de Bento XVI de escolher a América Latina – e, entre os países da região, o Brasil – para a primeira viagem intercontinental do seu pontificado. A escolha é, sobretudo, uma demonstração da importância da América Latina, especialmente do Brasil, para o futuro da Igreja Católica. Dois dos antecessores de Bento XVI na cátedra de São Pedro já haviam cumprido semelhante missão. Em 1968, Paulo 6º, na primeira viagem de um papa à América Latina, foi à Colômbia para, de lá, inaugurar a segunda Conferência, que se realizou na cidade de Medellín. João Paulo 2º, logo no início do seu pontificado, em 1979, em sua primeira viagem ao exterior, veio à América Latina para abrir, na cidade de Puebla, no México, a terceira conferência. Mais tarde, em 1992, ele próprio inaugurou,
em Santo Domingo, na República Dominicana, a 4ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho. Essas conferências são uma modalidade própria de reunião dos bispos da América Latina e do Caribe, realizadas com a aprovação do papa. Nelas, os bispos exercem colegialmente o ministério. São reuniões que ocorrem quando situações novas exigem reflexão e tomada de posição conjunta diante de novos desafios pastorais. A propósito, muitos são os desafios que a quinta conferência terá de enfrentar: o pluralismo religioso marcado por um forte proselitismo, o fenômeno da globalização e o anseio dos países do continente de formar uma comunidade de nações, a pobreza em que vive grande parte da população latino-americana, a crise da família, a crise na relação entre homem e ambiente, a violência diária e indiscriminada reinante na região. Diante desses e de outros desafios, o tema escolhido para a quinta conferência -“Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos n’Ele tenham vida. Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) – indica que, à luz da fé e da opção por Jesus Cristo, a proposta original da Igreja para conseguir a transformação que desejamos para a sociedade não acontecerá tão somente com a mudança das estruturas sociais, mas, paralelamente, e sobretudo, com a renovação interior das pessoas, que, no fiel seguimento de Jesus Cristo, se tornarão capazes de testemunhar, na vida familiar, profissional, social e política, os valores do Evangelho, que são valores autenticamente humanos, fermento de uma nova sociedade.
DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS , 70, arcebispo de Aparecida (SP), será o anfitrião do papa no Brasil. Foi secretário-geral do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) de 1991 a 1995 e secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) entre 1995 e 1998 e entre 1999 e 2003.