O Ateísmo de Sartre

    Por: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho Professor do Seminário de Mariana (MG) –  21/07/2008    

Jean Paul Sartre, escritor, dramaturgo francês, é um filósofo mais conhecido pela sua obra literária. Daí a sua influência. A negação de Deus é a essência mesma de seu sistema. Para Sartre, que Deus não exista é de tal evidência, que não há utilidade de examinar e de refutar o que tradicionalmente sobre Ele se inculcou. Deixou exarada esta sentença: “O existencialismo não é de modo algum um ateísmo no sentido de que se esforça por demonstrar que Deus não existe. Ele declara antes: ainda que se Deus existisse, em nada se alteraria a questão; esse é o nosso ponto de vista”.  

O ateísmo não é tema de discussão. É um pressuposto, um ponto de partida, um dado primeiro. Herdeiro de uma herança atéia já constituída, Sartre se meteu a desembaraçar os ateísmos precedentes de qualquer resquício de religiosidade. Eis suas palavras textuais: “O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem, ou como diz Heidegger, a realidade humana”.  

Sartre é uma versão francesa da fenomenologia e do existencialismo alemão. Ele é o Heidegger francês, embora tenha sofrido também funda influição de Husserl. Deus não é para ele senão uma miragem do psiquismo. O homem fiando-se em Deus, se perde. Da liberdade se deduz que Deus não existe. O existencialismo é um testemunho de clarividência e coragem, segundo ele. Além disto, Sartre intenta demonstrar, através de suas representações românticas teatrais, que a hipótese Deus não é de nenhuma maneira requerida para a compreensão e a realização da existência, tanto individual quanto coletiva. Portanto, que Deus exista, tanto não acrescenta nada à condição concreta do homem.  

Em “O Diabo e o Bom Deus”, ele relata, entretanto, mais radicalmente a antinomia Deus-homem: “se Deus existe, o homem é um nada; se o homem  existe, Deus não existe”, é o que ele coloca nos lábios de Goetz, dilemática personagem que quer estruturar-se na insurreição contra Deus. Este deve ser negado em nome do livre arbítrio. Deus é um obstáculo à promoção humana. A não aceitação de Deus se torna o fulcro necessário da afirmação do homem. Há que se escolher entre Deus e o homem. Não há meio termo. O homem, doutrina Sartre, só se libertará na negação do Absurdo. É que o homem não seria livre, se houvera uma ordem universal dos valores absolutos. Segundo ele, ontologicamente, o homem é  uma fuga do ser. A realidade humana é existência pura. A consciência procura se conquistar, possuir-se absolutamente, ser ela mesma, eliminar o nada que a constitui. Ela aspira à totalidade acabada, à densidade infinda do ser em si completo, que se fundamentaria em si mesmo. Esta meta definitiva ela quereria atingi-lo continuando existir por si, isto é, numa ascensão ininterrupta. Toda a luta humana, porém, é uma “paixão inútil”, um sofrimento vão. O homem sabe que a morte é irremediável. Enquanto consciência e liberdade desaparecerá um dia, sem deixar rastros. Toda a trama da historia da humanidade não é senão uma batalha para a abolição de sua radical contingência, sua total finitude. Daí o aparecimento da idéia de algo sólido, eterno, infinito.  

O homem é, pois, projeto de si ou projeto de Deus. Deus não é outra coisa que a visão fantástica e enganosa da ambição inatingível do homem. Deus é o álibi dos que têm medo da natureza e da vida. O homem e o mundo espargem atrás de si a sombra de Deus, a imaginária cicatriz de uma ferida, que é desastrosa. Um Deus transcendente é, pois, para ele a ilusão da consciência infeliz.  No livro “La Nausée” ele chega a afirmar que Deus não existe, porque o contingente do qual temos experiência, se bata sem o concurso de um Ser necessário!    


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino