CARA DE FAMÍLIA

Meu pai me disse que a vida não tem nada de marcada…E que o destino não é nada levando a gente na vida…E toda vez que eu paro e olho pra esse velho companheiro…Vejo quem deu pra essas paredes essa cara de família…Deixa eu ver a mão machucada…Te levanta deixa essa cama…Estou tão triste quero falar-te…Fica  calmo filho não chora…E não sabem dar valor pra essa coisas…Ter um lar é um tesouro…Meu Deus como seria bom…Seria bem melhor se fosse sempre assim…Só hoje pude ver o que isso fez pra mim…Seria bem melhor pra cada um…E assim pra todos nós… A letra do Grecco é proposital. Lá se vão 32 anos sem Sr. Adolpho Andrade. Sapateiro caprichoso e querido pela comunidade. Fazia questão de estampar na frente da sapataria a placa preta com letras amarelas. SAPATARIA SÃO CRISPIM. Vivi minha infância ouvindo o “vaco..vaco” da escova lustrando os sapatos que fazia.  O “tein..tein” do martelo afundando as taxinhas no salto novo que trocava para os clientes. O interessante é que cada movimento do pai, observado atentamente pelos olhos desse filho aqui, era formação humana. Ganhava o necessário para nos sustentar. Me estimulava nos estudos e na vida cristã. Ainda lembro das quintas-feiras santas em que todos os anos ele era um dos apóstolos que tinham os pés lavados na celebração. Fazia questão de me tirar do futebol com os amigos para irmos a missa todos os domingos.  Ainda lembro o vazio no coração, quando o Senhor o levou, no dia 15 de abril de 1978.  A chuva molhava o telhado lajota e a terra do quintal de nossa “meia-água”, quando fui sozinho em casa e olhei seus sapatos, a bicicleta Phillips barra dupla. Foi montado nela que viveu boa parte da vida indo e vindo da sapataria. Como doia saber que não iria mais vê-lo pedalando a vida como um pai digno e que sempre fez questão de dar a nossa família uma cara digna de ser imitada por muitos lares em plena discórdia. Louvo ao Pai do céu pela chance que me deu de poder conviver os ricos 12 anos ao lado de meu pai de sangue. Foi ele quem me mostrou a importância de ser de Deus e não se enganar com as coisas desse mundo.  Os olhos marejados de um filho saudoso, não querem expressar tristeza e sim a saudade de quem ensinou seu filho a ser um homem de verdade, onde a honestidade, o trabalho, a oração e a amizade serão para sempe os maiores tesouros deixados por um pai sem riquezas materiais, mas um milhonário espiritual que deu a nós uma Cara de Família.

Deus abençoe!!!

Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.