No outono-inverno de 2009 tive uma experiência difícil de viver e sentir. Morava na maior cidade da América Latina, onde tudo é “mega”. O trânsito tem quase 7 milhões de veículos, os economistas têm o maior centro financeiro do país, a diversidade de culturas é a maior do Brasil, o maior terminal rodoviário da América do Sul, o time de maior torcida brasileira (será que é mesmo o Corinthians?rsrs), o maior Instituto de pesquisa biológica, e tantos outros “mega” títulos, conquistados com muita determinação e empenho por paulistanos e “agregados” a cidade de São Paulo. Ah, ia me esquecendo da imbatível população de quase 20 milhões de pessoas que residem na Grande São Paulo. E aí, começo a explicar o por que da foto da Catedral da Sé. Você sabia que na capital paulista existem 18 mil moradores de rua? Sabia que as escadarias da Catedral da Sé são o refúgio de muita gente nas noites geladas do outono e do inverno paulistano? Como mexia comigo, passar e ver as pessoas envolvidas com cobertores ou papelões, nas calçadas, nas escadas. Lembro do dia em que resolvi parar e conversar com alguns. “Amigo, a Praça da Sé foi meu jardim de infância e hoje é a minha faculdade da vida”, revela o Luís, que desde os 12 anos saiu de Minas Gerais, para morar na Sé. Hoje tem 27 e entra todos os dias na Catedral para adorar Jesus Eucarístico e renovar suas esperanças de alcançar o céu. Perto do Luís, encontrei o pequeno Caíque, de 5 anos. Abraçado a um violão e com as mãos pequenas, dedilhava uns acordes só entendidos por ele. Mas conseguia experessar o desejo de dias e noites melhores. Sua mãe e seus avós dormiam ao lado, envoltos em uma mistura de jornais e restos de cobertores. Perguntei ao Caíque qual era o seu sonho. “Crescer, estudar, trabalhar e comprar uma casa para minha mãe”, respondeu o menino. “… MADRUGADA FRIA… NAS ESCADARIAS… BUSCO ME AQUECER NO AMOR DO MEU SENHOR E SALVADOR…MINHAS MÃOS PEQUENAS… SE JUNTAM EM ORAÇÃO… VEM SENHOR FICAR AQUI…COBRIR-ME COM O CALOR DO TEU AMOR… POIS EU ESTOU ABANDONADO E ESQUECIDO POR AQUELES QUE UM DIA SE PERDERAM DE TI … SUA COMPANHIA… ME TRÁS SEGURANÇA …. QUANDO ASSUSTADO ACORDO… DE MEUS PESADÊLOS SENHOR … VEM MATAR MINHA FOME E SEDE.. DE JUSTIÇA E FRATERNIDADE …. POIS HÁ TANTOS QUE SE ESQUECERAM ..DE AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO…” No texto que escrevi naquela mesma madrugada, tentava traduzir, aquilo que Luís e Caíque viviam e certamente, ainda vivem na “Mega” cidade brasileira. São vencedores, capazes de superar a indiferença, o descaso e a humilhação de serem acordados no fim da madrugada com jatos de água vindos de um caminhão pipa usados por quem quer lavar das calçadas a realidade de quem foi esquecido no meio do caminho por quem só quer correr atrás do ouro que perece. O pior é que esse é um “Mega” problema desse país de tantas desigualdades sociais. Ainda lembro daqueles dois e de tantas outras figuras que cruzei pelas calçadas do Centro de São Paulo. Depois daquela noite gelada, meus outonos e invernos não serão como antes. Sempre vou lembrar dos que fizeram a opção mais difícil ou foram forçados a optarem por esse caminho. Sob as cobertas quentes que te envolve agora, te convido a louvar e agradecer ao Pai, a chance que Ele te deu de ter o necessário. Te convido a suplicar por aqueles que nem o necessário têm. Te convido a não deixar que mais um outono e inverno sejam capazes de congelar seus sentimentos de compaixão e gratidão.
Deus abençoe!
Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova