Primeiro domingo de junho de 2016. Capelinha de Santo Antônio de Caninhas, Canas-SP. O canto de entrada
anuncia que a santa missa começou. No canto do altar a cortinha de pano se abre e os passos experientes abrem espaço para o celebrante. Um jovem senhor de 84 anos de vida e 55 de sacerdócio. Padre Mário Bonatti em plena atividade sacerdotal nem precisa de microfone. A potente voz se espalha por todos os cantos da pequena capela. Talvez 15 ou 20 fiéis felizardos têm a graça de participar desse momento tão intimista com Cristo na Eucaristia e com o amor de quem sabe a cor certa pra pintar a própria vida. Enquanto as leituras eram
proferidas, o padre grifava trechos importantes a serem usados na homilia. Depois de cinco décadas e meia de missas, ele ainda consegue fazer desse “sacrifício” algo único e original que o atualiza todos os dias. Na consagração eucarística, amor e admiração se misturam como raios misericordiosos que brotam do olhar contemplativo do religioso. O zelo com corpo e sangue de Cristo, é o mesmo daquele neo-sacerdote ordenado em Turin, na Itália. E depois de todo o empenho o ponto alto pra quem distribui Jesus na Eucaristia e pra quem recebe de suas mãos o fragmento que renova a vida e a alegria de ser católico. As vezes nem chegamos a metade do caminho de nosso ofício e já estamos cansados…esgotados… desbotados com tudo que enfrentamos. Mas olhar o padre Mário com a mesma alegria de quem está começando seu oficio, depois de mais de meio século de sacerdócio, me faz parar e perceber que na vida não é preciso muito detalhe pra
prosseguir no exercício do dom que Deus nos confia. É preciso apenas celebrar, comemorar, festejar a graça de ser e estar ativo… ser e se sentir útil num mundo onde tantos se esforçam pra não viver de esforço. A cultura do menor esforço continua a apagar talentos e provocar trocas desleais, onde se deixa de fazer o que gosta para fazer o que rende mais dinheiro e descanso. E o que será de nós se num futuro bem próximo, faltar disposição sacerdotal para celebrar missas? Faltar inspiração pra catar palavras e sentimentos, formar frases e versos nesta poesia da vida? Afinal a vida sem Deus e sem poesia será sempre mais fria e vazia. E sem padres e poetas como vão ficar os que ainda querem trilhar o caminho de quem é feliz com o que faz? O dinheiro será sempre uma necessidade, mas nunca será capaz de substituir a felicidade de quem entendeu que “a vida tem a cor que você pinta.”
Deus abençoe!
Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova
@WallaceAndrade9