Um dos locais preferidos das águias são os penhascos. Ali numa fenda mais trabalhada pela natureza, elas conseguem fazer seus ninhos e viver o processo de continuidade da espécie. Diz a tradição que as águias, ao alcançarem os 40 anos de vida, se infiltram numa dessas fendas e iniciam um doloroso processo que precisam vencer para continuar a vida. Primeiro elas usam o bico e arrancam as velhas e desgastadas penas das duas asas. Depois com o mesmo bico, arrancam todas as desenvolvidas e encurvadas garras, que já não conseguem mais capturar pequenos mamíferos, como coelhos e roedores. Por fim metem o bico, já muito envergado pela ação do tempo, na parede até quebrá-lo por completo. Totalmente incapaz de sobreviver sem suas três “ferramentas”, ela enfrenta um período de dor, fome e sede, até que novas asas, garras e bicos ressurjam. Quando esse milagre da natureza acontece, as águias ganham mais 40 anos de vida. Usei essa história pra falar de alguém, que nas devidas proporções, também chegou a metade da vida em frangalhos. E que também teve forças pra arrancar suas velhas marcas desgastadas por decepções, maus tratos, insegurança e medo, pra recomeçar. E depois de 91 anos muito lindamente vividos ela nos deixou. O interessante que ela também trás no nome um derivado de penhasco. Penhasco é uma penha de grande tamanho, com determinada altura. As penhas são rochas muito pesadas com elevações de tipo pedregoso. Os penhascos formam-se a partir de procedimentos da natureza, como um movimento terrestre, a ação da água ou a força gravitacional quando se aplica sobre ladeiras de grande inclinação. Tanto termo técnico não consegue nos levar as experiências que só as águias e os alpinistas conhecem com riquezas de detalhes. Mas eles me ajudam a recolher fragmentos de alguém que me ensinou muito com seu silêncio, com seu sorriso fácil, com sua doçura e simplicidade no falar e principalmente com sua determinação de amar sem medidas. Desde sua total entrega e dedicação ao filho especial que marcou nossas vidas e que tinha como marca de sua comunicação a palavra “Mãããee”. Aquele olhar distante ao sepultar seu menino de 23 anos, também era o mesmo quando teve que entregar ao Criador, sua filha de 49 anos. A filha que por seis anos lutou bravamente em favor da vida e da família, contra um invencível câncer. Sempre a filha mostrou que nesse penhasco onde nasceu, aprendeu a ser guerreira até o fim. Caminhar nesse penhasco, pra poucos, me faz embaçar os olhos e deixar que a dor me revele uma saudade que só se tem quando se ama. Como queria que meu filho tivesse tido a chance de estar mais tempo desse penhasco! Como queria eu mesmo poder escalar um pouco mais essa penha que suportou tantas tempestades e venceu todas sem perder a esperança. Como queria voltar a sua sala, onde namorava sua neta e sentir aquela paz e maternidade cada vez mais raras nas terras por onde ando. Como queria ter podido estar em sua despedida desse mundo, como estive na despedida de sua filha e presenciei seu último suspiro. Meu consolo veio do seu bisneto. Enquanto o velório acontecia, meu filho me confortava, a 550 km de distância, ao dizer que ele estava vendo a bisavó. “Olha pro céu papai, ela é aquele pontinho lá no alto igual uma estrelinha!”. Que o Senhor nos dê a pureza de um menino pra entender que os bicos, as asas e as garras passam… mas a Penha .. o Penhasco…permanecerá para sempre… em nossos corações e na presença do Senhor!.
Vovó Maria da Penha … nós te amaremos pra sempre!
Deus abençoe!
Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova
@WallaceAndrad9
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