O BERÇO E A CRUZ

 

Foto: Wallace Manhães de Andrade

“Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que fomos transladados da morte para a vida, porque amamos nossos irmãos. Quem odeia seu irmão é assassino.” (1Jo 3, 13-15).
Dizem que a chave que fecha a porta do coração para o ódio é a misericórdia. E só é capaz de usar de misericórdia quem tem o coração livre para amar.  Existem situações provocantes que são capazes de arrancar o indivíduo de sua essência. E um ser humano transtornado troca imediatamente o movimento dos lábios e da arcada dentária. O sorriso, que aponta os cantos da boca para o céu, é cruelmente expulso pela raiva, que trata de modificar o desenho da face e apontá-la para baixo, onde dizem que fica o inferno. E se o transtorno provocar feridas na afetividade ou sexualidade, na hombridade ou caráter, pode significar que o tempo de cura e restauração dessa criatura, vai ser mais longo. Perdoar quem nos fez mal é sempre uma árdua tarefa que não se realiza sozinho. Lembro bem do rosto e do ódio que senti de um adolescente, que andava de bicicleta na calçada de minha rua e me atropelou ao sair de um bar. Eu tinha apenas 7 anos de idade e tive fratura exposta nos dois ossos da canela esquerda. A diferença e a distância em perdoar situações assim, está no berço onde dormimos nossos primeiros anos de vida. Está naquilo que ouvimos de nossos pais. Minha querida e saudosa mãe, fez um exercício grande, para ela mesma perdoar o rapaz. Depois para me ensinar a perdoar sempre! E não levou mais do que um mês para que o jovem e seus pais entrassem em minha casa para receber o meu perdão e nos tornarmos pessoas sem mágoas ou ressentimentos. Foram dois anos em tratamento, sem poder andar, jogar bola e ir pra escola. Mas o maior trauma e a maior ferida que esse acidente poderia ter causado, era no coração. E isso já estava resolvido. Depois de uma experiência assim, todas as outras provações são enfrentadas com a mesma determinação. A de perdoar sem reservas. Mas o que realmente me faz acreditar no perdão e na restauração de corações? O berço! O mesmo onde ouvia cantigas da voz afinada de minha mãe, me fazendo acreditar que existe uma mãezinha do céu que nos ensina a amar. O mesmo berço onde ouvia o dedilhar do meu pai nas usadas cordas do seu velho violão. Pode acreditar, no coração de quem teve um berço onde o amor e o perdão foram sementes bem regadas todos os dias, não tem espaço para o ódio e o rancor. Isso significa retirar da morte, alguém que corria o risco de definhar-se em raiva, por falta de carinho, atenção e amor. Todos temos pessoas e momentos capazes de nos roubar do que somos. Mas o berço, que nem precisa ser de ouro, não nos permite viver o que não somos por muito tempo. Se somos gerados por amor, permanecemos na essência e no plano do Criador. Amando uns aos outros e até os que traíram o plano de amor divino. Esses fazem de tudo para que odiemos situações e pessoas pra sempre. São esses também que sempre saem perdedores na batalha do mau contra o bem. É possível vencer o ódio e o rancor em questão de minutos. Desde que não esqueçamos o berço de onde viemos e a cruz que levantou para o mundo,  o maior Amor que essa terra já  presenciou. Jesus Cristo esteja sempre em mim e em ti e assim nenhum mal vai resistir!

Deus abençoe!

Wallace Manhães de Andrade
Comunidade Canção Nova
e-mail: wallace.andrade@cancaonova.com


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.