MIGRAR COMO AVES

Foto: Wallace Manhães de Andrade

Migrar como aves não é fácil para os homens. As aves migratórias já nascem com esse diferencial, por terem embutidos os fenômenos voluntários e com uma reta intenção de migrar por períodos de escacez de alimentos e melhores condições meteorológicas. Para o homem que migra, voltar às origens não significa que será reconhecido como parte dos familiares e amigos que deixou para trás. Nem sendo da família do Rei Davi, José teve facilidades assim. Para encontrar uma hospedaria, em que Maria pudesse dar à luz a Jesus, ele logo viu que não seria fácil. Voltar às origens por imposição de um decreto, ou por desejar voltar, onde se acreditava viver melhor, é uma decisão que gera incômo, desconforto e muitas dificuldades. Coisas que as aves parecem administrar melhor que os homens. Mas dá pra perceber que a obediência e a honestidade de um homem digno como José, abrem caminhos onde tudo parece estar trancado e fechado para ele e sua esposa, prestes à dar ao mundo o Salvador. Em nenhum momento de dificuldade, ele perde a paz e a esperança. E na última tentativa, que também terminou em negativa do dono da hospedaria, a única alternativa. Um presépio, que apesar da pobreza e simplicidade de um espaço feito para os animais, seria o lugar para o nascimento daquele que veio mudar nossas vidas para sempre.

“…um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra… todos iam se alistar, cada um na sua cidade… José subiu de Nazaré, à Judeia, a cidade de Davi, chamada Belém porque era da casa e da família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando ali, ela deu à luz seu filho primogênito, num presépio porque não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 2, 1-7)

A falta de higienização em um lugar assim, certamente causaria pânico em muitos. 2025 anos se passaram e o grande milagre da vida, ocorrido naquele lugar sujo e sem zelo, nem sempre está nas recordações de quem já não tem mais tempo para histórias bíblicas e sagradas. A obediência e temor a Deus, que levaram José a viajar, deixar a segurança do lugar que vivia, e sofrer humilhações com os vários “nãos” que recebeu nas hospedarias, hoje não tem valor entre os homens que desprezam a honestidade em troca de favorecimentos ilícitos e que não aceitam mais alguém que determine o que é preciso fazer por um bem comum. Se o bem comum o faz viver apertos, ele não aceita. Não quer regras e nem ordens sobre si. Só os que temem a Deus e obedecem os mandamentos, lutam contra as fraquezas da carne, são capazes de cair, descer degraus da vida material e carnal, sem perder a fé e a esperança de recomeçar. Pois a fé nos levará sempre a razão. E com a razão seremos conduzidos a fazer o que é correto, porque o Espírito Santo nos iluminará. Pois a esperança não nos levará às decepções mundanas porque sempre nos conduzirá à verdade. E com a verdade seremos sempre libertados das amarras do mundo, porque a verdade é Jesus e a vida aqui com Ele e Nele, será de fardos leves e suaves, porque Ele nos ajuda como o seu Pai, que ajudou José a encontrar o lugar certo para Maria dar à luz ao Salvador, ao Poderoso, ao Santo dos Santos. E a afirmação de Jesus Cristo, no evangelho escrito por Matheus confirma: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Mt 8,18-22). E que diferente das aves, não busquemos na migração e remanejamentos, mais conforto e comida. E usemos desse desinstalar humano para entender que somos estrangeiros aqui e que o lugar definitivo precisa ser o céu, onde seremos felizes pra sempre!

Deus abençoe!

Wallace Manhães de Andrade 
Comunidade Canção Nova
E-mail: wallace.andrade@cancaonova.com


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.