Relatório australiano destaca crescentes desafios para a infância
Um estudo publicado neste mês sobre o bem-estar das crianças australianas aponta que, embora a geração atual cresça mais sadia e mais rica, existem problemas graves que as afetam.
O relatório Reparar o entorno social para as crianças e jovens australianos é do Australian Christian Lobby. O autor, Patrick Parkinson, é professor de direito na Universidade de Sydney e escreveu livros sobre direito de família e maus tratos contra menores.
O texto informa que a Austrália ocupa um lugar destacado no mundo em termos de desenvolvimento social, nível educativo e bem-estar econômico. Mesmo assim, esses níveis gerais escondem problemas cada vez mais graves para muitas crianças.
Houve “um aumento dramático” de casos de maus tratos e abandono infantil, além de um incremento significativo do número de crianças sob proteção do Estado nos últimos 15 anos. O crescimento demográfico e o aumento da informação disponível sobre maus tratos não são suficientes para explicar o incremento nos casos.
Os altos índices de maus tratos e abandono infantil atingem todas as classes sócio-econômicas, mas são especialmente evidentes na população indígena.
Os transtornos de saúde mental nas crianças também cresceram de modo notável, com grande aumento do número de crianças com medicação antidepressiva. “A velocidade da deterioração da saúde mental das crianças e dos jovens é muito preocupante.”
Lesões contra si próprios, abuso do álcool, delinquência juvenil, comportamento sexual de risco e gravidez de adolescentes são outras áreas em que as crianças de hoje estão em situação pior do que as dos anos noventa.
Saúde mental
O informe observa que os problemas não se limitam à Austrália e cita um estudo publicado nos Estados Unidos em 2010. O relatório americano retrata os estudantes universitários entre 1938 e 2007. Os pesquisadores descobriram que cada geração tem uma saúde mental pior que a anterior. Em 2007, os estudantes multiplicaram por cinco as possibilidades de sofrer problemas mentais, em comparação com os de 1938. Segundo o estudo, o reconhecimento mais preciso dos problemas de saúde mental nos últimos tempos não é uma explicação suficiente para o dramático aumento de casos.
Como explicar esta deterioração do bem-estar infanto-juvenil? O informe reconhece que é problemático achar as causas destas situações e que a correlação não é causal. Outros estudos sobre esta tendência apontam mudanças nas estruturas familiares, desemprego juvenil e um materialismo e individualismo maiores.
Parkinson, porém, destaca um dos fatores, os conflitos e as rupturas familiares, como uma causa especialmente importante. É suficientemente documentado que o fato de se viver numa família diferente daquela dos dois pais biológicos antes dos 16 anos tem ligação com uma ampla série de resultados negativos para o bem-estar das crianças.
Alguns analistas consideram que isto ocorre porque os adultos com casamentos estáveis tendem a ser mais equilibrados e ter uma situação econômica melhor; portanto, não seria uma questão de estruturas familiares, mas de características pessoais dos pais.
Se até certo ponto isto é verdadeiro, o informe cita, por outro lado, pesquisas que afirmam que a ruptura familiar é uma causa importante de problemas para as crianças, mais do que a qualidade dos adultos.
Impacto negativo
Na Escócia, um estudo concluiu que os jovens em 2006 declaravam ter relações familiares piores que os de 1987. Esse estudo visava encontrar a causa de um aumento notável de transtornos psicológicos em jovens de quinze anos.
Outro estudo, nos Estados Unidos, acompanhou as experiências de 2.000 pessoas casadas durante mais de 15 anos. Confirmou que, em casamentos com altos índices de conflito, a infelicidade conjugal tinha um impacto negativo no bem-estar das crianças. O divórcio também tinha efeito prejudicial.
Outros estudos mostram que o divórcio é um notável fator de risco para o estado emocional das crianças e para o seu rendimento acadêmico. Um estudo norte-americano também aponta uma conexão entre o divórcio dos pais e a duração da vida dos filhos. Pessoas criadas em famílias divorciadas morriam quase cinco anos antes que aquelas cujos pais permaneceram unidos.
Parkinson observa ainda que os conflitos e tensões dos pais não terminam necessariamente com a separação. Às vezes aumentam com a divisão dos bens, os acordos de custódia e o modo de relacionamento com os filhos.
Ao tratar das famílias monoparentais, Parkinson faz referência a um estudo australiano que encontrou maior grau de conflito nas famílias com padrasto ou madrasta do que nas famílias intactas.
Outro estudo australiano analisa as consequências do divórcio na vida adulta dos filhos de pais separados. Entre todos os resultados negativos, as crianças que sofreram o divórcio dos pais obtiveram as piores pontuações, desde na atividade sexual precoce até o fato de terem filhos antes dos 20 anos, passando pelo impacto negativo no rendimento escolar.
Uma das consequências do divórcio é a diminuição do contato dos filhos com o pai. Um estudo de 2001 indica que 36% dos pais não tinham visto os filhos menores nos últimos 12 meses.
A depressão e os maus resultados escolares, por outro lado, se associam aos adolescentes que têm contato frequente com o pai divorciado, independentemente do quanto as mães estejam próximas.
Fonte: Zenit