Dia do Senhor (Parte 1)

Partilho com você um pouco do que aprendi na leitura da Carta Apostólica Dies Domini do Sumo Pontífice João Paulo II. Ela é permeada de uma intensa motivação à redescoberta do sentido profundíssimo da celebração do Dia do Senhor.

O Papa inicia a carta apostólica assinalando que desde os tempos apostólicos o domingo possui uma estreita ligação com o próprio núcleo do mistério cristão. O Domingo é nada menos que a Páscoa semanal. Dia em que o cristão é convidado a alegrar-se com a ressurreição do seu Senhor, mistério nuclear de toda a fé cristã. Desse modo, o pontífice acentua a necessidade de recuperar as profundas motivações doutrinais que estão na base do preceito eclesial, para que apareça bem claro a todos os fiéis o valor imprescindível do domingo na vida cristã.

Em seguida, o pontífice faz memória da celebração da obra do Criador – o shabbat – e esclarece a passagem do dies Domine ao dies Christi. Ressuscitado como primícia dos que morreram, Jesus inaugura a nova criação e dá início ao processo que será concluído consigo mesmo no momento de Sua vinda gloriosa. O autor da narração sacerdotal do livro do Gênesis, ao narrar a criação dá ao sábado a característica de sinal da Aliança (a primeira) que, de algum modo, prenuncia o dia da nova e definitiva Aliança. A imagem de Deus trabalhador deve ser exemplo para o homem, chamado a colaborar com Deus na construção do mundo.

O antropomorfismo de um Deus que descansa deve orientar também o homem para o seu repouso (sobretudo, um repouso no Senhor) e não sugere um Deus que se detém na inatividade, mas sublinha a plenitude do que foi realizado. Deus após criar o ser humano – ponto culminante da criação – para diante da plenitude da obra criada num olhar contemplativo que se satisfaz diante da beleza de tudo quanto foi feito.

O preceito do sábado da primeira Aliança prepara o domingo da nova e eterna Aliança. É uma observância que vai além de conceitos culturais ou de uma simples norma disciplinar religiosa comunitária. Embora Deus ser o Senhor do tempo e a ele pertencer todos os dias, o shabbat é o dia do repouso por ser o dia abençoado e santificado por Deus, dia separado dos demais para lembrar a todos que a Ele pertencem o universo e a história. É o dia de primordial experiência relacional com o Senhor. Mais do que uma interrupção das atividades comuns, o Dia do Senhor deve ser encarado como um dia de celebração das maravilhas por Ele realizadas. Dia de recordar com repleta gratidão e louvor que fomos escravos na terra do Egito, e que o Senhor nos fez sair de lá com mão forte e braço poderoso.

Aquela alegria com que Deus contempla a criação no primeiro sábado da humanidade, exprime-se agora com a alegria com que Cristo apareceu aos seus no primeiro domingo de Páscoa. O domingo passa a ser o centro de todo o culto cristão. Afinal é unânime o testemunho evangélico de que Cristo ressuscitado apareceu aos seus no primeiro dia depois do sábado, bem como foi num domingo o dia de Pentecostes – epifania da Igreja manifestada como povo que congrega na unidade, mistério que anima perenemente a Igreja, de modo que a Páscoa da semana não deixa de ser Pentecostes da semana, dia do dom do Espírito. De igual modo, constatamos que desde os tempos apostólicos o domingo era o dia em que os cristãos se reuniam para o partir do pão. O dia da nova criação é o dia em que, mais do que qualquer outro, o cristão é chamado a lembrar a salvação que lhe foi oferecida.

Vivamos cada dia na esperança do Dia do Senhor que se aproxima!

Grande abraço,

Maranathá!!

Edmilson Dias

Seminarista – Canção Nova


JOÃO PAULO II. Carta apostólica “Dies Domini” do Sumo Pontífice João Paulo II sobre a santificação do domingo.

Comments

comments