OPINIÃO

Likes, fama e a eternidade

Likes, fama e a eternidade: como construir um legado digital que permanece

Hoje, 10 de setembro, a Igreja celebra a memória de um santo cuja vida e mensagem ecoam com uma força em nossa era de notificações, métricas e conexões digitais: São Nicolau de Tolentino. A ele é atribuída uma advertência que serve como um poderoso farol para todos nós que navegamos no oceano, por vezes turbulento, do mundo digital e dos negócios: “Não ameis o mundo nem as coisas que estão no mundo… o mundo vai passar”.

Foto de Adrienn: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-usando-smartphone-1458283/

Essa frase, que espelha o ensinamento do apóstolo João em sua primeira carta — “Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. […] O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente” (I Jo 2, 15.17) —, nos convida a uma pausa estratégica. Em um ambiente onde tudo é desenhado para capturar nossa atenção e afeto, o que significa, na prática, “não amar o mundo”?

O mundo em nosso Feed: likes, vaidade e a ilusão do controle

Quando São Nicolau e o apóstolo João falam do “mundo”, eles não se referem à criação de Deus, que é boa. Eles apontam para um sistema de valores que se opõe ao propósito divino: a busca incessante por status, a vaidade, o materialismo e a auto-referência.

Quando nosso valor e o sucesso do nosso trabalho são medidos apenas por números que inflam o ego, mas não necessariamente refletem o impacto real, estamos amando “as coisas do mundo”.

Transportando para a nossa realidade de universo digital, esse “mundo” se manifesta de formas sutis e sedutoras:

  • A obsessão por métricas de vaidade: Aquele desejo ansioso por mais um like, mais um seguidor, mais uma visualização. Quando nosso valor e o sucesso do nosso trabalho são medidos apenas por números que inflam o ego, mas não necessariamente refletem o impacto real, estamos amando “as coisas do mundo”.
  • A cultura da comparação infinita: Rolar o feed do LinkedIn ou do Instagram pode se tornar um exercício de comparação, gerando ansiedade e a sensação de que estamos sempre para trás. Essa é a “concupiscência dos olhos” em sua versão 2.0, desejando o palco, o resultado ou a vida (aparentemente perfeita) do outro.
  • O propósito desconectado do serviço: Quando o objetivo principal do nosso conteúdo ou negócio se torna apenas vender a qualquer custo, construir uma imagem de autoridade vazia ou simplesmente “viralizar”, esquecemos a pergunta fundamental que deve guiar todo profissional: “Como eu posso servir a minha audiência hoje?”.

Receba conteúdos no seu e-mail

O mundo passa

A segunda parte da advertência é a mais libertadora: “…o mundo vai passar”. Nenhum lembrete é mais crucial para quem trabalha no ambiente digital. Tendências vêm e vão. Plataformas que hoje são dominantes, amanhã podem se tornar obsoletas. O algoritmo que hoje favorece seu conteúdo, amanhã pode mudar.

Construir nossa identidade profissional e nosso senso de realização sobre a areia movediça da fama digital ou do sucesso momentâneo é a receita para a frustração. Tudo isso vai passar.

O que, então, permanece? A resposta está no final do versículo de João: “…mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente”.

Construindo para a eternidade na Era Digital

Cumprir a vontade de Deus no nosso trabalho digital não é sobre criar apenas conteúdo religioso. É sobre infundir em nossa estratégia um propósito que transcende o lucro e o ego. É usar as ferramentas deste “mundo” para construir algo de valor eterno.

Como fazer isso?

Mude o foco de “Obter” para “Servir”: Antes de planejar um post, um vídeo ou um produto, pergunte-se: “Isso realmente ajuda? Isso resolve um problema? Isso inspira? Isso traz clareza?”. O engajamento autêntico nasce do serviço consistente.
Crie comunidade, não apenas uma audiência: Uma audiência observa. Uma comunidade participa, se apoia e cresce junta. Use suas plataformas para conectar pessoas, para criar espaços de diálogo e partilha, para ser um ponto de encontro de valor.
Sua identidade fora da rede: Seu valor não é determinado pelo seu número de seguidores ou pelo seu engajamento. Você tem um valor intrínseco. Cultive sua vida interior, seus relacionamentos reais e seus princípios. A solidez que você demonstra no online vem da força que você cultiva no offline.

Seja Consistentemente útil e genuino: A autenticidade é a moeda mais valiosa no longo prazo. Não tente ser quem você não é para agradar o algoritmo. A verdade conecta e cria laços de confiança que sobrevivem a qualquer mudança de tendência.

Neste dia de São Nicolau de Tolentino, que sua sabedoria nos inspire. Que possamos ser profissionais e criadores de conteúdo que usam o “mundo” digital com maestria, sem jamais entregar a ele o nosso coração. Que nosso objetivo seja construir negócios, projetos e legados que não apenas gerem resultados no trimestre, mas que ecoem na eternidade.

Porque, no final das contas, tudo o que é feito por amor e para servir, permanece.

Viva Cristo Rei.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.