Entre os dias 30 de novembro e 2 de dezembro, aconteceu em Brasília, DF, o Encontro Nacional de Assessores da Pastoral Juvenil – Comissão Pastoral para a Juventude, CNBB.
Padre Wagner Ferreira, Doutor em Teologia Moral e formador Geral da Comunidade Canção Nova, foi um dos pregadores do encontro.
De estimável riqueza foi a mensagem que padre Wagner trouxe sobre a fé no mundo da comunicação e a presença dos jovens na internet. O que é bom é preciso ser propagado! Por isso desejei partilhar aqui com vocês a mensagem na integra.
Saiba mais informações sobre o encontro no site do Jovens Conectados
“A realidade da fé no mundo da comunicação juvenil”
Padre Dr. Wagner Ferreira da Silva
Doutor em Teologia Moral
Formador Geral da Comunidade Canção Nova
Padre Wagner Ferreira da Silva
Padre Wagner Ferreira
O universo da comunicação social exerce sobre muitas pessoas um fascínio e uma atração impressionantes. Particularmente o fenômeno das redes sociais tem encontrado um número extraordinário de adeptos, os quais têm encontrado na net, não raramente, o espaço adequado para viver e conviver, cultivar relacionamentos, compartilhar ideias e ideais, expressar seus desejos mais profundos… A Igreja, justamente por ser sacramento universal de salvação, ou seja, por ter sido constituída por Cristo Jesus missionária, tornando possível a comunhão salvífica entre Deus e a humanidade, não poderia deixar de ser presença evangelizadora no vasto mundo da comunicação social, principalmente, o das redes sociais.
Há doze anos, por ocasião das comemorações do 36º dia mundial das comunicações sociais, cujo tema foi “Internet: um novo foro para a proclamação do Evangelho”, o Beato João Paulo II afirmou que “a história da evangelização não é apenas uma questão de expansão geográfica, dado que a Igreja teve de ultrapassar também muitos confins culturais, cada um dos quais exigiu renovadas energia e imaginação na proclamação do único Evangelho de Jesus Cristo. […] Atualmente, – continua o Papa João Paulo II – com a revolução das comunicações e da informática em pleno desenvolvimento, sem dúvida a Igreja encontra-se diante de outro limiar decisivo” (n. 1). A sociedade em rede se apresenta, portanto, à Igreja como um limiar decisivo, uma cultura na qual os cristãos são chamados a prestar o imprescindível testemunho da fé.
Sem dúvida, é preciso que os cristãos aproximem-se desta sociedade com realismo, ou seja, tendo clareza da existência desta nova cultura; além disso, é importante ter coragem para ocupar o espaço midiático como discípulos missionários. Na mensagem apenas citada, o Beato João Paulo II afirma que a internet, como os outros instrumentos de comunicação, não deve ser encarada como um fim em si mesmo, mas um meio, justamente porque ela “pode oferecer magníficas oportunidades de evangelização, se for usada com competência e uma clara consciência das suas forças e debilidades. Sobretudo, oferecendo informações e suscitando o interesse, ela torna possível um encontro inicial com a mensagem cristã, de maneira especial entre os jovens que, cada vez mais, consideram o espaço cibernético como uma janela para o mundo” (Ibidem, n. 3).
Aqui nós encontramos uma das razões pelas quais o vasto mundo das novas tecnologias no campo das comunicações sociais exerce, principalmente em relação aos jovens, uma quase irresistível atração: os jovens encontram ali uma janela para o mundo. Falar sobre juventude é falar sobre um cor inquietum, como confessava Santo Agostinho; jovem é inquietude radical, prontidão constante à aventura de romper as barreiras do próprio eu para celebrar com seus semelhantes a festa da vida, do amor, da paz, da esperança, e nesta festa encontrar-se consigo mesmo.
A quantidade indescritível de jovens conectados em rede é sinal de que a internet possibilita esta aventura do encontro. No entanto, este cor inquietum só encontrará repouso no festivo encontro com Cristo; ninguém poderá encontrar-se consigo mesmo a não ser no encontro com Jesus Cristo: “Na realidade, o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado”. É Cristo quem manifesta plenamente o homem ao próprio homem, revelando-lhe a sua sublime vocação (Cf. Gaudium et spes, n. 22).
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, em sua mensagem para a 28ª Jornada Mundial da Juventude, que se dará em julho de 2013 no Rio de Janeiro, destacou 02 campos nos quais os jovens cristãos são chamados a desempenhar com solicitude o empenho missionário: o primeiro campo é o das comunicações sociais, em particular o mundo da internet; e o segundo, o da mobilidade humana.
Por causa do tema que me foi dado refletir nesta noite, gostaria de evidenciar as palavras do Santo Padre em relação à importância dos jovens se comprometerem com a evangelização na internet: “Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos jovens, ‘senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! […] A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital”’ (Mensagem para o 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2009). Aprendei, portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos na rede” (n. 4).
Apesar dos perigos apontados pelo Santo Padre, e que os jovens cristãos conectados em rede deverão estar sempre atentos, impressiona-nos o modo com o qual o Papa motiva os fiéis católicos, particularmente os jovens, para o empenho evangelizador no ‘continente digital’, como se observa em sua mensagem por ocasião do 45º dia mundial das comunicações sociais (05 de junho de 2011): “Os crentes, testemunhando as suas convicções mais profundas, prestam uma preciosa contribuição para que a web não se torne um instrumento que reduza as pessoas a categorias, que procure manipulá-las emotivamente ou que permita aos poderosos monopolizar a opinião alheia. Pelo contrário, os crentes encorajam todos a manterem vivas as eternas questões do homem, que testemunham o seu desejo de transcendência e o anseio por formas de vida autêntica, digna de ser vivida. Precisamente esta tensão espiritual própria do ser humano é que está por detrás da nossa sede de verdade e comunhão e nos estimula a comunicar com integridade e honestidade”.
Compartilho com vocês, caros irmãos e irmãs, a minha experiência como membro de uma comunidade cuja missão evangelizadora se desenvolve de forma preferencial, mas não exclusiva, através dos meios sociais de comunicação: a Comunidade Canção Nova. Fundada no dia 02 de fevereiro de 1978 pelo então sacerdote salesiano Padre Jonas Abib, a Comunidade Canção Nova compromete-se dia após dia com o anúncio do Reino de Jesus Cristo, em comunhão com toda a Igreja, buscando favorecer a experiência da fé cristã a todos os que dela se aproximam, bem como daqueles aos quais ela se aproxima. Eu poderia ampliar este breve testemunho discorrendo sobre os diversos meios utilizados pelos membros da Comunidade Canção Nova no âmbito da evangelização e da promoção humana: a música, a dança, as pregações e catequeses, os encontros de formação para pequenos grupos, os grandes eventos de evangelização para crianças, jovens, famílias etc.; o atendimento a pessoas carentes no campo da saúde, da formação humana, cultural, profissional.
Há 02 anos, por exemplo, demos início às atividades da Faculdade Canção Nova, com seus cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação e da Cultura, objetivando a formação de homens novos para um mundo novo.
Como o meu tema diz respeito à realidade da fé no mundo da comunicação juvenil, gostaria de destacar o testemunho da criatividade e da coragem dos inúmeros jovens, membros da Canção Nova, que incansavelmente se comprometem com a evangelização midiática, em especial no complexo mundo da internet. No entanto, isso só tem sido possível porque a formação salesiana de Padre Jonas Abib contribuiu para que os jovens católicos fossem valorizados em seu protagonismo evangelizador.
Em sua carta aos jovens de todos os tempos, São João Bosco afirmava: “Meus caros jovens: eu vos amo de todo o meu coração; basta-me que sejais ainda jovens para que vos ame com ardor”. Aos salesianos, Dom Bosco ainda dizia: “Não basta que os jovens saibam que são amados; eles precisam se sentir amados”. Eu sempre admirei em Padre Jonas Abib a salesianidade, ou seja, a coragem de confiar nos jovens, sendo um com eles, tendo a paciência de ensinar-lhes a vivência comunitária do Evangelho e o modo de comunicar aos outros a vida nova que Cristo nos concedeu pelo dom de sua Páscoa.
A Comunidade Canção Nova surgiu por causa das motivações evangelizadoras do servo de Deus, o Papa Paulo VI, em sua exortação apostólica pós-sinodal Evangelii Nuntiandi. Em dezembro de 1975, o então bispo da diocese de Lorena, Dom Antônio Afonso de Miranda, pediu a Padre Jonas Abib, que realizasse um catecumenato com os jovens católicos daquela diocese. Por 02 anos consecutivamente, Padre Jonas realizou o catecumenato, oferecendo aos jovens uma formação cristã baseada no Evangelho e na doutrina cristã.
Com isso, Padre Jonas procurou colocar em prática o que o Papa Paulo VI afirma no n. 72 do documento apenas citado: “É necessário que os jovens, bem formados na fé e na oração, se tornem cada vez mais os apóstolos da juventude. A Igreja põe grandes esperanças na sua generosa contribuição nesse sentido; e nós próprios, em muitas ocasiões, temos manifestado a plena confiança que nutrimos em relação aos mesmos jovens”.
A partir desta breve reflexão, permitam-me apresentar-lhes algumas conclusões. Promover a comunhão eclesial de tal forma que os jovens sintam que a Igreja é também sua casa, pois, em um mundo onde o individualismo procura se afirmar, a Igreja deverá ser, também para os jovens, casa e escola de comunhão, onde eles se sintam amados. Como bem precisou o Papa Bento XVI na mensagem para a próxima JMJ, a comunhão eclesial é o ponto de partida para a evangelização, uma vez que “ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato ‘fazei discípulos’ é formulado no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja: seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos uns com os outros” (cf. Jo 13,35)”.
É certo que não basta boa vontade para promover a evangelização no continente digital; é preciso capacitação profissional, além de muita criatividade. No entanto, a capacitação técnica para lidar com as ferramentas próprias do mundo midiático, bem como o conhecimento da comunicação específica das redes sociais, deverão ser acompanhados da formação cristã da nossa juventude.
A capacitação técnica e a formação cristã dos jovens evangelizadores poderiam ser articuladas pela Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, criando talvez até mesmo uma webpastoral que, em sintonia com a Pascom, contribuísse para que nossos jovens tornem-se cada vez mais discípulos missionários no vasto campo das comunicações, particularmente das redes sociais.
Penso que seria também imprescindível termos uma atenção à inclusão digital dos jovens pertencentes às classes sociais mais pobres, antes ainda de pensarmos no desafio da evangelização no mundo da comunicação.
Independentemente do campo em que se dá a ação evangelizadora, os agentes deverão ser testemunhas de Cristo por uma vida comprometida como os valores evangélicos, como muito bem nos exorta o servo de Deus, o Papa Paulo VI: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, […] ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi, n. 41).
Ainda no n. 76 de EN, ao fazer uma breve consideração sobre a pessoa do evangelizador, afirma o Papa Paulo VI:
Ouve-se repetir, com frequência hoje em dia, que este nosso século tem sede de autenticidade. A propósito dos jovens, sobretudo, afirma-se que eles têm horror ao fictício, aquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade e a transparência. […] O mundo reclama evangelizadores que lhe falem de um Deus que eles conheçam e lhes seja familiar como se eles vissem o invisível. O mundo reclama e espera de nós simplicidade de vida, espírito de oração, caridade para com todos, especialmente para com os pequeninos e os pobres, obediência e humildade, desapego de nós mesmos e renúncia. Sem esta marca de santidade, dificilmente a nossa palavra fará a sua caminhada até atingir o coração do homem dos nossos tempos; ela corre o risco de permanecer vã e infecunda”.
Por fim, acreditemos no jovem, em sua capacidade de anunciar o amor redentor de Jesus Cristo, não só com os modernos instrumentos de comunicação; acreditemos sim nos jovens apesar das amargas experiências que muitos deles vivem por serem vítimas da cultura de morte, da cultura que não lhes oportuniza a formação integral, que os rejeita em sua capacidade de contribuir com o bem comum da sociedade, de uma cultura cuja noção de amor geralmente é fugaz, descartável, simples mercadoria destinada à fruição de um prazer momentâneo; acreditemos que os jovens não são simplesmente o futuro, mas o presente de uma Igreja jamais ultrapassada, mas sempre rejuvenescida pelo Espírito de Deus que garante fazer novas todas as coisas.
Que neste Ano da Fé a nossa juventude encontre na jovem Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus, o modelo de uma pessoa feliz porque acreditou e na fé ousou comprometer-se inteiramente com o projeto do Reino de seu amado Filho.
Brasília, 29 de novembro de 2012.
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