De mãos vazias

“No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós de mãos vazias” – Teresa de Lisieux

Ao mergulharmos no conhecimento de nosso Carisma através do caminho da pequena flor de Lisieux, não poderíamos deixar de contemplar um traço de sua espiritualidade que é também tão essencial à nossa:   ser um Anawin (um pobre do Senhor).

Como ser pobre tendo ainda alguma coisa?

Teresa nos ensina que para ser verdadeiramente pobre e pequeno deve-se abrir mão de tudo, inclusive de nossos méritos e nossas boas ações.  Assim ela afirma:  “ Compreenda que, para amar Jesus, ser sua vítima de amor, quanto mais se é fraco, sem desejos, nem virtudes, tanto mais se está apropriado às operações desse Amor consumidor e transformador.  (CT.197)  Apenas o desejo de ser vítima é suficiente. Mas deve-se consentir em permanecer sempre pobre, sem força, e esta é exatamente a dificuldade”

Quantos de nós já não esbarramos em nós mesmos, em nossas limitações e fraquezas, no caminho da santidade!  Nossas imperfeições não pareceram, muitas vezes, montanhas intransponíveis aos nossos olhos?  Nossa inconsistência, impaciência, tibieza, ou fragilidade em praticar o bem, muitas vezes não parecem criar abismos entre nós e Jesus?  Diante disso Teresa nos responde:  “Apraz a Jesus mostrar-me o único caminho que leva à fornalha divina.  Esse caminho é o do abandono da criança que, sem medo, adormece nos braços de seu Pai. (CT 196)  É a CONFIANÇA e nada mais que nos deve levar até o Amor”.

O passarinho de Deus continua a nos ensinar o caminho do Kenosis (do esvaziamento), da pobreza que alcança o Reino: “Aceite ser uma criança assim:  levante sempre o seu pé para subir a escada da santidade.  Nem mesmo conseguirá subir esse primeiro degrau.  Mas Deus pede apenas a boa vontade.  Vencida pelas suas tentativas infrutíferas Ele descerá, toma-la-á nos braços e introduzi-la-á para sempre no Reino de Deus” (PA 1403).

Ela respondeu à Maria da Trindade, que gostava de ver sinais fortes (como muitos de nós):  “E se o bom Deus a quiser agora fraca e incapaz como uma criança?  Você acha que terá menos merecimento?  Consinta, pois, em tropeçar a cada passo e suportar sua cruz na fraqueza.  Ame sua incapacidade.  Sua alma lucrará mais do que se, sustentada pela graça, realizasse com entusiasmo coisas heróicas, que encheriam seu coração de auto-suficiência e orgulho” (PO 2192).

“Obras e confiança?”  Teresa oferece aqui um belo equilíbrio.  Ame quanto puder, tente provar isso com atos, mas não o conseguindo, confie-se à Misericórdia infinita.
Com o auxílio do Senhor, doe-se a si mesmo até atingir a sua boa vontade e, não podendo, entregue-se inteiramente à sua Misericórdia, que pode complementar, ajudar e curar” (De Mãos Vazias, pág.126,127).

“Escalar?  Deus quer ver você descer!  Adquirir?  Você deve, antes, perder (…)  Você sempre pensa que já chegou…  Você fica admirado ao cair.  Não, você sempre deve esperar cair (LG, 26).  “Você deve consentir em permanecer pobre e sem força, e aí exatamente está a dificuldade”. (Cr 197)

O pobre de espírito, na visão de Teresa, não visa preocupar-se com resultados brilhantes.  Ele não calcula ter êxito nos seus esforços.  Ele não deseja ter belos pensamentos.  Ele não quer entender e compreender tudo.  Ele vive da fé e da esperança.   Seu amor é abrir mão de si mesmo.  Ele não pergunta, preocupado, se fez muitos progressos.  Vive da providência divina numa atitude de oferecimento de si.  Está aberto a tudo o que Ele pede e dá, mesmo no sofrimento.  “Seu abandono é um contínuo ato de confiança:  um estado de contínua doação ao Amado (de alma hóstia) em que confia e espera na sua Misericórdia infinita”.

Terminemos com mais um ensinamento de nossa pequena doutora:  “A santidade não consiste em fazer isto ou aquilo. Consiste numa atitude do coração pela qual nos abandonamos, humildes e pequenos, nos braços de Deus, conscientes da nossa fraqueza e confiantes até o extremo na bondade do coração de nosso Pai”.

Érika Vilela – Anawin
Fundadora da Comunidade Filhos de Maria

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