No encontro com as famílias e os jovens, sobretudo adolescentes, respira-se hoje um ambiente emocional difícil: se tivesse de escolher uma só palavra para o definir falaria de um profundo “desalento”. Há desalento quando se deixa de conseguir envolver o coração nas coisas: passam então a faltar a confiança e a esperança necessárias para colocar paixão naquilo que se faz, e as energias que servem para projetar o futuro.
A adolescência é aquele desatar crucial do crescimento em que a própria vida se encarrega de fazer circular energias novas; é uma espécie de primavera, que se representa como um pequeno milagre geração após geração: jovens homens e mulheres que se movem inquietos em busca de si, da sua identidade e do seu lugar no mundo, gerando a disrupção, mas também a vitalidade que cada coisa nova comporta.
Por isso, o silêncio ensurdecedor das novas gerações é algo que inquieta e sobressalta; à explosão caótica e vital que deveríamos esperar vai se substituindo alguma coisa que se assemelha a uma implosão; jovens que se tornam cada vez mais passivos, retirados nos seus quartos, adaptados a relações virtuais, desinteressados da dimensão política, cultural e social da vida.
Esta implosão traz muitas vezes consigo um cortejo preocupante de sintomas, o autoinfligir: jovens que se cortam, que não comem, que não estudam, que deixam de sair de casa. Toda a energia do crescimento, que deveria impeli-los à conquista do mundo, transforma-se numa raiva impotente dirigida principalmente contra si próprios, enquanto o mundo adulto vai catalogando este imponente mal-estar sobretudo como distúrbio psíquico. Numa espiral preocupante, limitamo-nos a aumentar intervenções “de cura” de curto alcance, sem colher a mensagem que os comportamentos dos adolescentes tentam transmitir.
Mas porque é que os nossos jovens deveriam lutar para viver, quando recebem de nós apenas mensagens de morte? De maneira direta ou indireta, o mundo adulto está fechado à esperança: crianças que é melhor não fazer nascer, idosos e frágeis que é melhor fazer morrer, atenção espasmódica a tudo aquilo que pode fazer-nos esquecer (com drogas, divertimentos, consumismo desenfreado) que a vida é breve e destinada a acabar. A pandemia deu o golpe de misericórdia, abrindo ao medo de perigos cada vez mais insidiosos e dominantes, a que se pode fugir apenas encerrando-se em âmbitos vitais cada vez mais restritos. Os nossos jovens, com a sua terrível passividade, estão a atacar a geração dos adultos, culpados de um grave vazio de esperança.
Se, portanto, queremos “dar ânimo” aos nossos filhos e voltar a colocar em marcha um futuro que parece desaparecer velozmente, temos de nos perguntar sobre o que é que acende o coração e torna a vida apaixonante e digna de ser vivida. Quem está à procura de si mesmo não pode suportar anonimato e invisibilidade; quem sente pulsar as emoções que o crescimento oferece precisa de as investir, sob pena de um curto-circuito implosivo ou explosivo.
O que torna a vida interessante não é uma virtualidade omnipotente e que se esgota em si mesma, mas a possibilidade de deixar uma marca capaz de incidir sobre a realidade e de a transformar.
Creio que está na hora de fazer compreender aos nossos jovens que hoje somos nós que precisamos deles, da sua fantasia, da sua energia, da sua alegria; somos nós que precisamos do seu olhar novo, verdadeiramente capaz de transformar o mundo.
Mariolina Ceriotti Migliarese
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicação original em: https://snpcultura.org/facamos_compreender_aos_jovens_que_precisamos_deles.html