O Papa argentino não é superior à Igreja.
Por Luiza Sousa
Na sua edição do dia 31 de março de 2014, a Revista Carta Capital publicou uma matéria sobre o primeiro ano de pontificado do Papa Francisco. Naquela edição a revista fazia a pergunta: Papa Francisco Reformador. Ou Revolucionário? E a partir do questionamento seguiu levantando suposições sobre o pontificado do Argentino, como se ele fosse o super-herói de que os católicos estavam precisando para se livrarem de uma Igreja tradicional e retrógrada.
Assim como a Carta Capital, a The Advocate, principal revista pró-direitos dos gays, publicou, na capa, a foto do Papa Francisco e a frase:” Se alguém é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?” A edição salientava o fato de Francisco ter sido eleito a personalidade do ano pela Revista Time. Também a americana Rolling Stone teve Francisco na sua capa de fevereiro passado. Esta fez comparações entre o atual pontífice e Bento XVI, afirmando que o argentino é “mais flexível” que seu antecessor, em assuntos sobre o homossexualismo e “mais atuante” quanto à pedofilia.
Outros tantos veículos de renome, publicam, com frequência, notícias sobre o Papa, geralmente colocando sobre seus ombros o peso de que ele tem o dever de “construir” uma Igreja que agrade aos gregos e aos troianos.
Publicações como essas dão ao povo, em geral, a impressão de que Jorge Mário Bergóglio é mesmo o super-herói grafitado numa parede em Roma.
E o senso comum afirma e replica, com a superficialidade de quem só ouviu dizer. Opiniões, sem pesquisa, sem aprofundamento de ideias são disseminadas com a facilidade e a rapidez da internet. O que se vê nas redes sociais são comentários disparados como que vindos de especialistas que entendem tudo de Doutrina. E fica no ar a ideia, a impressão de que, de fato, o argentino veio para revolucionar a Igreja. E até quem não é católico fica na expectativa da transformação.
O fato de ter afirmando que não se pode julgar um gay, não significa que, a partir de agora, a Igreja aprove todas as atitudes homossexuais, como deu a entender a The Advocate. Mais do que uma opinião pessoal, essa questão está intrinsecamente ligada às Sagradas Escrituras, está no cerne do cristianismo. E o não julgar é muito mais do que um indício de mudança de posição da Igreja, é um princípio evangélico que alcança gays e héteros e que serve para todos.
Na mesma Carta Capital, o pagar a própria conta, andar de ônibus, usar carro popular, os sapatos pretos e morar na Casa Santa Marta, são tomados como sinais de uma eminente revolução eclesial. E quaisquer outras publicações importantes dão o mesmo peso a esses fatos. Mas esses são pontos secundários. Esses sim, são uma questão de opção pessoal.
Os luxos vividos por alguns membros da cúria romana não são a regra, e por isso foram denunciados. Mas a mídia cria com isso o mito da Igreja opulenta, que vivia imersa em ostentação e que agora vive um tempo de austeridade. Fala do palácio apostólico como se fosse o de Buckingham. Quando, na verdade, lá há acomodações simples para o pontífice e para o pessoal cuidará dele.
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A mesma edição da revista fala de uma eleição vencida de maneira arrasadora, pelo argentino. Mas como saber do número de votos, se a eleição no conclave é secreta? E pessoas seguem acreditando em falácias. Tratar Bento XVI, como um velho rígido e ultrapassado é uma forma de reforçar a chegada do Papa – super- herói. Como se Francisco tivesse deixado para traz tudo o que fez seu antecessor.
As reformas e as revoluções, que alguns interesses pretendem, não são coisas que acontecem num estalar de dedos. Sim, há coisas que poderão ser revistas, como afirma o próprio Francisco: “Isso não significa mudar a doutrina, que não poder ser alterada, embora ela não seja uma lagoa estagnada, mas um rio que flui…” Nessa afirmação ele deixa pistas do que pode ser mexido e o que vai continuar como está. A doutrina não se altera, mesmo que se ergam bandeiras pelo mundo todo.
Mas a mídia investe pesado. Alguns setores políticos, científicos, organizações mundiais, com intenções meramente econômicas, têm interesse na mudança de posição da Igreja. E por isso aplicam suas forças em divulgar seu pensamento como se fosse o de todos, de todo o mundo. Como se fosse a única verdade.
O Papa Francisco não pretende ser o salvador da pátria e nem é um reformador solitário, como disse o jornalista, Cláudio Bernabucci, da Carta Capital. Ele tem recorrido ao Papa Emérito, Bento XVI em questões mais delicadas. E a prova disso aconteceu depois de uma entrevista concedida à revista jesuíta Civiltá Católlica, justamente por ocasião do seu primeiro ano de pontificado.
Dom Ganswein, secretário do Papa Emérito, Bento XVI, afirmou: “quando o Padre Spadaro (diretor da revista) entregou o primeiro exemplar desta entrevista, Francisco me deu isso e me pediu que a levasse a Bento. E Francisco disse: “Olha, a primeira página depois do índice está vazia. Aqui o Papa (Bento XVI) deve escrever todas as críticas que lhe venham à mente, e depois você me devolve”. Três dias depois, Bento XVI devolvia quatro páginas digitadas, com as observações e críticas feitas sobre a entrevista à Civiltá Católlica, disse Dom Ganswein.
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Fazem parte das reformas pretendidas pelo Papa Argentino: A crítica à economia excludente que fere o mandamento do “não matar”; O papa reconhece que a mulher tem presença incisiva na Igreja, porém, não lhe concede o direito ao sacerdócio sem, com isso, ferir sua dignidade; E também afirma que a Instituição não mudará sua postura quanto ao aborto, afirmando que o assunto não está “sujeito a reformas ou modernizações […] “Não é progressista pretender resolver um problema eliminando uma vida humana” e lembrou que a defesa da vida por nascer está ligada a qualquer direito humano.
O “Super-herói” pode, mais cedo ou mais tarde, decepcionar muita gente que se deixou levar por notícias falaciosas de que Francisco reformaria a Igreja através de uma revolução.
O Papa argentino não é superior à Igreja. Certa vez ele afirmou: “O parecer da Igreja é conhecido de todos, e eu sou filho da Igreja…”
É importante que os meios de comunicação, portanto, antes de publicar qualquer notícia sobre a Igreja, busque conhecer como ela está internamente organizada, o que é possível acontecer e o que não. Ela tem suas próprias leis baseadas em argumentos milenares e não cederá à opinião pública em questões de doutrina, como já ficou claro.
É papel do comunicador informar, transmitir a verdade e fazer com que o seu leitor, espectador ou ouvinte seja capaz de formar sua própria opinião.
“Francisco já está mudando a Igreja de verdade, por meio de suas palavras e gestos simbólicos.[…] Ele poderia estar sentado num escritório estudando os cânones, e começar a mudar as leis e regulamentações . Mas não é isso que as pessoas comuns querem que ele faça”, afirmou o teólogo jesuíta e analista da Revista National Catholic Reporter, Thomas Reese.
Maria Luiza Sousa
Missionária Canção Nova