O Santo Padre Bento XVI anunciou aos Cardeais reunidos em Consistório e à inteira Igreja sua intenção de renunciar ao Ministério Petrino a partir do próximo dia 28 às 20h.
Não é a primeira vez que um Papa renuncia. Alguns outros já o fizeram quando prisioneiros dos perseguidores da Igreja, pelo bem da paz ou por outros motivos. O último foi Gregório XII, em 1415.
Esta renúncia do Santo Padre certamente nos entristece muito, pelo grande que ele é, pela sabedoria do seu ensinamento, pela humildade doce e mansa de sua venerável pessoa. No entanto seu gesto dá-nos preciosas lições.
Primeiro: É Cristo o Pastor da Igreja. É Ele Quem a guia, Quem a conduz permanentemente na potência do Seu Santo Espírito. Quando se vai um Papa, que para nós é um pai amado, há uma sensação tremenda de perda, de vazio, de incerteza. Mas, se somos tomados por estas sensações tão humanas e compreensíveis, devemos, no entanto, iluminá-las com a certeza da fé: o Senhor, fundamento único da Igreja, continua a amar e conduzir Sua dileta Esposa. Vai-se o grande Bento XVI, a partir de 28 de fevereiro Papa Emérito; virá seu sucessor, cujo nome o Senhor já conhece, cujo rosto já tem bem presente! Agora é o momento de vivermos com intensa fé e espírito contemplativo esta quadra tão singular da história da Igreja.
Segundo: O gesto de Bento XVI tem aspectos admiráveis. Antes de tudo sua consciência límpida e reta diante do Senhor que o chamou. Após rezar, deliberar, escutar o Senhor, ele decidiu! Só o Senhor pode julgá-lo, só Aquele que perscruta os corações sabe do íntimo do Seu Vigário! Ninguém, com um mínimo de sensibilidade humana e espírito cristão, deve ousar julgar este ato do Sento Padre! Quem o fizer, fá-lo-á de modo leviano e arbitrário, arvorando-se em juiz e critério da consciência de um homem da estatura moral e espiritual de Bento XVI…
Terceiro: A decisão do Papa revela-nos uma vez mais um homem maduro, livre, desapegado, humilde, vale dizer profundamente consciente de si próprio. Que coragem, que liberdade! Só quem tem continuamente o Senhor diante de si é capaz de um passo assim! E nós sabemos da amizade de Joseph Ratzinger com o Senhor Jesus! Que lição do Papa, quando tantos somos tentados aos apegos, ao prestígio, à compreensão e aplauso dos demais! Bento XVI humilde, Bento XVI livre, Bento XVI tão cristão, tão humano! Que lição de homem evangélico! Pensando bem, poucos papas surpreenderam tanto no exercício do Ministério de Pedro como este homem manso e sereno, sempre tão incompreendido por tantos! Agora, Papa Emérito, poderá dedicar-se livremente à oração, ao estudo e à preparação para o Encontro com o seu Senhor. Contará sempre com a gratidão, o afeto e o profundo respeito de toda a Igreja de Cristo.
Quarto: Ninguém deveria avaliar a atitude de Bento XVI a partir da de João Paulo II, que, gravemente enfermo, permaneceu no ministério até a morte. Aqui não há regras: cada pessoa é única e deve, num caso desses, seguir a sua consciência diante de Cristo! Por obediência ao Senhor, João Paulo II permaneceu; por obediência ao Cristo, Bento XVI renunciou!
Quinto: O caminho da Igreja prossegue. A partir das 20h de 28 de fevereiro, a Sede Romana estará vacante. Com serenidade, serão dados os passos previstos pelas normas canônicas: convocação dos cardeais e realização do conclave que elegerá o novo legítimo e pleno Sucessor de Pedro. E nós, para aquele que for eleito, mais uma fez diremos, com o entusiasmo da fé: Viva o Papa!
Dom Henrique Soares
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