Desde domingo, 12 de dezembro de 2010, por iniciativa da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, acontece a chamada “campanha dos ônibus ateus” [1]. A campanha já passou por diversos países como Estados Unidos, Reino Unido e Espanha. Outras ações como esta têm acontecido no mundo.
Alguns ônibus em Salvador (BA) e Porto Alegre (RS) exibirão mensagens expondo o ponto de vista de ateus e agnósticos sobre temas como fé e moralidade. A campanha tem como slogan: “Diga não ao preconceito contra ateus”, com imagens e frases polêmicas. Uma delas afirma: “A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas”. Em outra, aparecem Adolf Hitler como crente e Charles Chaplin como ateu, ilustrando o texto “religião não define caráter”.
A iniciativa traz ainda a foto de um avião atingindo o World Trade Center, com os dizeres: “Se Deus existe, tudo é permitido” – em referência à famosa citação, de forma contrária, do romance “Irmãos Karamazov”, de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido” ou “Se Deus não existe, então, eu sou deus”.
Segundo o presidente da entidade, Daniel Sottomaior, a campanha é para chamar a atenção da sociedade e tirar 2% de ateus da invisibilidade, pois muitos têm medo de se manifestar por causa do preconceito contra eles.
O presidente da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência e responsável pelo ‘Blog das Religiões’, em zerohora.com, Guershon Kwasniewski, diz que “a manifestação é válida, desde que não haja ofensas. “Vivemos em uma sociedade com liberdade de expressão. Todo aquele que quer se manifestar, crente ou não em Deus, tem o direito sempre que não ofenda aquele que não pense do mesmo jeito”.
Direito de expressão
De fato, é fundamental que o direito de expressão seja garantido desde que não se desrespeite as pessoas e as crenças de cada um. Que o debate seja livre e respeitoso, conduzido pela razão e não pelo fanatismo ou emoção, a fim de que a verdade apareça.
Jesus disse que a verdade nos libertará (cf. João 8,32) e São Paulo afirmou que “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Nós católicos acreditamos que a verdade religiosa é aquela que a Igreja ensina, pois o apóstolo dos gentios também escreveu que “a Igreja é a coluna e o alicerce da verdade” (cf. I Tm 3,15); uma vez que ela aprendeu essa verdade com “Aquele que é a Verdade” (cf. João 14,6).
Por essa razão, defendemos a verdade ensinada pela nossa fé, mas fazemos isso sem discriminar, ofender ou menosprezar aqueles que discordam de nós. Acima de nossas divergências espirituais devem estar a nossa educação e o respeito por cada pessoa.
Sobre o ateísmo e essa campanha, temos o direito de rebater alguns pontos. Em primeiro lugar, nos parece muito perigoso uma generalização que está sendo feita no sentido de que grandes catástrofes provocadas pelo homem, como a queda das torres gêmeas dos EUA, seja culpa da crença em Deus. Pode ser que alguma religião possa se apoiar em Deus para usar da violência, mas a fé católica jamais aceita isso; pelo contrário; Jesus a proibiu terminantemente. O Cristianismo não pode ser acusado de usar hoje da violência. O Sermão da Montanha, que é a “Constituição do Reino de Cristo”, é a carta do amor e da mansidão, do perdão e da paz. A Igreja se empenha pela paz no mundo.
O Cristianismo se impôs ao mundo romano e o conquistou pela força da fé e da caridade, sem derramar sangue dos opositores. Diferentemente disso, durante quase três séculos o sangue de milhares de mártires foi derramado; até de mulheres e crianças. Tertuliano (†220) chegou a escrever ao imperador Antonino Pio para lhe dizer que não adiantava matar os cristãos, porque “o sangue dos mártires era semente de novos cristãos”.
Lamentavelmente, alguns filhos da Igreja, imperadores e reis, até papas e bispos que parecem não ter assimilado bem a doutrina do Mestre, lançaram mão da violência em alguns períodos da história passada, o que levou o Papa João Paulo II a pedir perdão ao mundo pelos pecados desses filhos da Igreja, no Jubileu do ano 2000. Mas há muito tempo a Igreja não aceita a violência, abomina todo tipo de guerra e de discriminação humana. Portanto, não se pode colocar a religião, de modo geral, como “causa” da violência atual. Líderes de várias religiões têm se reunido com o Santo Padre pela paz.
Por outro lado, não é verdade o que diz a campanha do ateísmo que “A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas”. A fé católica nos dá respostas às nossas perguntas, mesmo que os não católicos não as aceitem. O Catecismo da Igreja e o Compêndio do Catecismo são verdadeiros “catálogos de respostas” às questões mais angustiantes do ser humano. Basta lê-los.
Não é verdade também que a Igreja e a nossa fé “impedem perguntas”. Elas estão sempre prontas para respondê-las. No entanto, parece que a resistência da fé católica em manter intactos os princípios recebidos de Cristo faça com que alguns pensem errôneamente que ela impeça perguntas. Não, ela apenas não aceita mudar a verdade que Cristo nos ensinou, tanto no campo da fé quanto no da moral, pois a verdade não muda. O Teorema de Pitágoras já tem 2.400 anos e até hoje ninguém conseguiu desmenti-lo; porque é uma verdade.
A mensagem da campanha, que traz Adolf Hitler como crente e Charles Chaplin como ateu, dizendo que “religião não imprime caráter”, não é verdadeira. A fé católica imprime caráter, sim. Hitler estava havia anos luz de distância de ser cristão como querem alguns. O nazismo matou cerca de 2 mil padres. O ditador nazista queria assassinar o Papa Pio XII [2]. Portanto, usar Hitler como exemplo de “crente” não é coerente. Por outro lado, Stalin, Lenin, e outros comunistas russos ateus condenaram cerca de cem milhões à morte. [3]
A fé católica imprime caráter, seriedade, honradez, honestidade, pureza e santidade, mesmo que nem todos os católicos deem prova disso. Os Evangelhos e as Cartas dos Apóstolos não se cansam de lembrar aos fiéis sobre a busca da santidade. Falta espaço para relatar tudo. Não matar, não roubar, não desejar a mulher do próximo, não cobiçar as coisas alheias, amar o próximo como a ti mesmo… Todo o Evangelho e as Cartas dos Apóstolos são um compêndio de moral, pois condenam veementemente os pecados capitais: soberba, ganância, impureza, gula, ira, inveja, preguiça, maledicência, etc. Como negar isso? Milhares se santificaram nessa doutrina.
Sobre a campanha
Por isso, e por outras coisas, nos parece vazia a argumentação da campanha. Além do mais, Deus não é um mito nem um “delírio” como quer o Dr. Richard Dawkins. O Natal não é um mito. Deus é uma realidade. Sem Ele não existiria o universo e cada um de nós. O ateísmo jamais poderá explicar isso. O senhor “Acaso” não existe. Tudo o que existe fora do nada é parte de um plano.
Dr. Francis Collins, coordenador do maior projeto de biotecnologia desenvolvido até hoje – Projeto Genoma – disse à Revista Veja: “Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas” [4]. Alguns biólogos – Prêmios Nobel – ilustram isso, vejamos alguns exemplos [5]:
“Todo ser vivo possui o próprio programa gravado em fitas DNA, mediante a qual se autoconstrói e a seguir funciona. Desvenda-se assim o segredo da vida. Não existe maior maravilha.”
[Dr. Marshall W. Nirenberg, Prêmio Nobel de Fisiologia – Medicina em 1968 pela interpretação do código genético e sua função na síntese das proteínas].
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“As maravilhas de nossa técnica estão a nível de brinquedos infantis, se comparadas com as da natureza.”
[Dr. George Wald, Prêmio Nobel de Fisiologia – Medicina em 1967 pelas descobertas referentes aos processos visuais fisiológico e químico no olho.]
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“Se as fitas DNA de um homem – de um só – fossem unidas linearmente, poderiam circunscrever todo o Sistema Solar.”
[Dr. Francis Compton Crick, Prêmio Nobel de Fisiologia – Medicina em 1962, por suas descobertas referentes à estrutura molecular dos ácidos nucléicos e seu significado para a transferência de informação em material vivo].
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“Com o átomo de um bilhão de estrelas, o acaso cego não conseguiria produzir sequer uma proteína útil para a vida”.
[Dr. Adolf Butenandt, Prêmio Nobel em Química, em 1938, por seu trabalho sobre os hormônios sexuais.]
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“A programação nas fitas DNA ativa a célula como se fosse uma microscópica fábrica ultra-automatizada e cibernética. Movimenta-a de maneira inconcebivelmente exata, veloz e bem organizada.
[Dr. George Beadle, Prêmio Nobel de Fisiologia – Medicina, em 1958, por suas descobertas que os genes agem regulando definidos eventos químicos.]
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“Chegou-nos uma mensagem dos abismos do tempo”.
[Dr. Jacques Monod, Prêmio Nobel, em 1965 por suas pesquisas sobre as células da vida.]
Professor Felipe Aquino