Igreja se mostra preocupada com o tráfico humano

CNBB lançará a Campanha da Fraternidade sobre esse assunto em 2014

Por Alessandra Borges
Da redação

O tráfico de pessoas tornou-se um problema mundial que vem se agravando, com o tempo, devido ao grande número de vítimas. Este tipo de crime viola os direitos humanos e ameaça a vida e a dignidade das pessoas.

Não há dados concretos sobre o tráfico humano no território brasileiro, mas estima-se que, nos países da América Latina, cerca de 250 mil pessoas são vítimas desse crime todos os anos, segundo pesquisas da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2008. Conforme dados, na América Latina e no Caribe há pelo menos 1,3 milhões de pessoas em situação de trabalho forçado. Dados fornecidos pelas Nações Unidas apontam que cerca de 700 mil mulheres e um milhão de crianças são traficadas todos os anos no mundo (ONU, 2008).

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No Brasil, os Estados mais atingidos por esse crime são Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além dos estados brasileiros que fazem fronteira com outros países.

O resultado do “Relatório nacional sobre tráfico de pessoas: consolidação dos dados de 2005 a 2011”, elaborado pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça (SNJ/MJ), em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNDOC), aponta que dos 514 inquéritos instaurados pela Polícia Federal, durante esse período, 344 são referentes ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas, 157 são internacionais e os outros 13 são internos. As pesquisas também revelam que a maioria das pessoas traficadas são mulheres entre 18 e 29 anos e adolescentes.

Em razão dessa situação alarmante, no início do mês de novembro, a Igreja promoveu um encontro internacional sobre esse tema no Vaticano, de forma a fortificar o apoio dessa instituição na luta contra esse crime e conscientizar os cristãos sobre esse problema mundial.

Ouça, na íntegra, a entrevista realizada com a Irmã Eurídes:

Em 2014, a Igreja no Brasil abordará essa questão, unida a todas as arquidioceses e dioceses, durante a Campanha da Fraternidade, cujo tema será “Fraternidade e Tráfico Humano”; e o lema: “É para liberdade que Cristo nos libertou” (GI 5,1).

De acordo com a religiosa, Irmã Eurídes Alves de Oliveira (Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, mestra em Ciências da religião, pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp –, coordenadora da rede ”Um Grito Pela Vida” e integrante da coordenação do GT de Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB), a temática da Campanha da Fraternidade 2014 vem para intensificar, ainda mais, as ações pastorais desenvolvidas com a sociedade para diminuir o número de vítimas do tráfico.

“A multiplicação do tema torna, de fato, o assunto e a problemática visíveis para, de certa forma, sensibilizar e envolver a sociedade, o Estado e a Igreja nessa luta. Nós temos informações de que o tráfico de pessoas está entre as três vendas ilícitas mundiais, sendo, hoje, o crime que mais ceifa vidas inocentes”, denunciou Irmã Eurídes.

Hoje, as duas formas mais visíveis de tráfico humano estão ligadas ao trabalho escravo urbano e rural. Além destes, a exploração sexual faz parte das estatísticas, pois o número de pessoas induzidas à prática de prostituição é grande. De acordo com a religiosa, 15% das mulheres traficadas para a escravidão sexual na Europa são brasileiras.

“O Brasil é um país que, pela sua extensão, pela sua cultura, por seu turismo e por toda herança escravocrata e origem colonizadora, carrega em si a marca da escravidão, é uma grande expressão no tráfico de pessoas. No Brasil, são poucas as pesquisas e os dados são muito embrionários, às vezes, defasados, mas podem comprovar e constatar um elevado índice de tráfico para o trabalho escravo e também para a exploração sexual”, ressaltou a religiosa.

As mulheres e as adolescentes fazem parte do grupo mais atingido por esta prática ilegal, pois os criminosos induzem as vítimas com falsas promessas de um futuro melhor. Um fator agravante são as inúmeras desigualdades sociais encontradas em muitos países.

“A exploração sexual é 70% de mulheres e adolescentes, sobretudo meninas. Os dados que possuímos e os fatos comprovam que o fato acontece por meio de aliciamento com falsas promessas e enganos. São as pessoas das regiões mais vulneráveis e empobrecidas que, seduzidas por promessas de melhoria de vida, de realização de um sonho para elas e para a família, acabam se deixando levar e caem nas malhas dos traficantes”, explicou a Irmã Eurides.

Diante dessa realidade, a preocupação da Igreja é crescente. Os trabalhos nas comunidades e na sociedade têm se intensificado nos movimentos pastorais e também nas ações do grupo “Um grito pela vida”; além da realização de seminários e simpósios sobre o assunto, contando sempre com o apoio da CNBB.

“Tem crescido uma grande rede de articulação com outros organismos da sociedade civil. A CNBB realizou dois seminários sobre o tráfico de pessoas fazendo uma parceria também com o Ministério da Justiça. É uma ação pastoral, mas também política. A vida humana é sagrada e a violação do direito precisa ser pensado e combatido, porque isso fere a dignidade do próprio ser”, destacou a religiosa.

A rede “Um Grito pela Vida” pretende lançar uma campanha intitulada “Jogue a favor da vida”, antes e durante a Copa do Mundo 2014, que será realizada no Brasil, com o propósito de conscientizar e também realizar uma prevenção ao tráfico de pessoas nesse período, quando o fluxo de visitantes brasileiros e estrangeiros circulando pelo país será grande.

Com informações do site Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) e do blog da rede “Um Grito Pela Vida”.

Créditos fotografia: Wesley Almeida

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