Preocupação com a verdade histórica na vida dos santos

O trabalho desenvolvido pela Congregação das Causas dos Santos é meticuloso, profundo, de elevado nível científico; nele estão envolvidas diversas disciplinas como a teologia, a história, o direito, a medicina, a psicologia, entre outras.

A preocupação com a verdade histórica sempre esteve presente no trabalho da Congregação,desde o seu início. Podemos encontrar uma elucidação concreta no decreto de Pio X, de 26 de agosto de 1913 – depois integrado ao Código de Direito Canônico de 1917 –, que estabelecia o recolhimento e o estudo de todos os documentos históricos relativos às causas. Mas a novidade fundamental foi introduzida pelo documento ‘Giá da qualche tempo’, de 6 de fevereiro de 1930, com o qual Pio XI instituiu, no seio da Congregação dos Ritos – assim era chamada a nossa Congregação – a ‘Seção Histórica,’ com a função de contribuir eficazmente para o tratamento das causas históricas, isto é, daquelas que não dispõem de testemunhas contemporâneas dis factos em questão.


O serviço prestado pela Seção Histórica, a partir de 1969, denominada Departamento Histórico-Hagiográfico, foi alargado a todas as causas, mesmo as recentes, aumentando a sensibilidade histórico-crítica em todas as fases do processo. Mais recentemente, a constituição apostólica Divinus Perfectionis Magister, de 25 de janeiro de 1983, seguida das Normae Servandae de 7 de fevereiro de 1983, estabeleceu definitivamente a contribuição determinante do método e da qualidade histórica no tratamento das causas dos santos.

A verdade histórica, tão diligentemente procurada por motivos ideológicos e pastorais, traz muitos benefícios nomeadamente à apresentação cultural dos santos. Os novos beatos e santos “saíram da sacristia” para serem estudados e apresentados também como personagens historicamente significativas, bem dentro da vida da sua Igreja, da sua sociedade, do seu tempo. Assim, já não dizem respeito apenas à Igreja e aos crentes, mas a todos aqueles que se interessam por história, cultura, vida civil, política, pedagogia entre outros. Deste modo, a missão destes extraordinários homens de Deus continua de outra maneira, e, ainda assim eficaz, para o bem de toda a sociedade.  É significativo, nesse propósito, o fato de o arquivo da Congregação para as Causas dos Santos ser hoje frequentado também, além pelos responsáveis eclesiásticos, por estudiosos leigos que aí se dirigem para teses de licenciatura, para estudos de história, de pedagogia, de sociologia etc. Precisamente porque aí encontram material em abundância e historicamente fiável.

(Trecho extraído do livro “Como se faz um santo”,
página 28-29 de Cardeal Saraiva Martins)

Sobre o Cardeal

José Saraiva Martins nasceu a 6 de janeiro de 1932 em Gagos de Jarmelo, Portugal. Tendo entrado ainda jovem para a Congregação dos Missionários Filhos do Coração Imaculado de Maria, foi ordenado sacerdote a 16 de março de 1975. Docente de Teologia e Reitor da Pontifícia Universidade Urbaniana, durante o período da sua atividade acadêmica publicou vasta e notória obra de Teologia. Em 1988 foi nomeado arcebispo secretário da Congregação para a Educação Católica. Foi de 30 de maio de 1998 até 9 de julho de 2008 Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Elevado a cardeal pelo Papa João Paulo II em 21 de fevereiro de 2001, foi-lhe atribuído o título da basílica de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

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