Eu sou um milagre de Deus
Todas as leituras deste tempo até Pentecostes nos levam ao derramamento do Espírito Santo. Propositadamente, a Igreja faz isso, porque ela quer nos preparar para uma efusão do Espírito. A palavra “efusão” é forte, porque tem um peso. Não é receber algo simples, mas uma efusão do Espírito Santo; e foi isso que nos falou o Evangelho de hoje: “Vós deveis nascer de novo”. E nós vimos que resultado disso está na Primeira Leitura.
Meus irmãos, é a nova sociedade, tremendamente competitiva, que quer “derrubar o outro”; e isso é totalmente oposto à sociedade de Pentecostes. Só teremos uma sociedade perfeita, de igualdade entre os irmãos, com a efusão do Espírito. É por isso que o Senhor quer que a face da Terra seja inundada pelo Paráclito, possuída por Ele. Assim, teremos uma sociedade nova.
Com grandes sinais e poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Esses sinais eram curas e milagres.
Eu sou um milagre de Deus. Tudo corria bem para o meu nascimento, mas, no momento do parto, eu não conseguia nascer. Como se costumava dizer, “o menino coroou, mas não nasceu”. Mamãe sofreu muito.
Chamaram o médico, e ele também fez tudo o que pôde. Então, deu a sentença final para meu avô: “Vamos salvar a mãe, porque a criança já se foi”. Como o parto estava sendo feito em casa, ouvia-se a conversa na sala, onde as pessoas estavam conversando. Entre eles havia um rapaz chamado Bosco, que começou a falar a respeito do Santo Dom Bosco.
Eu nasci em 1936; Dom Bosco foi canonizado em 1934. Aquele rapaz, presente na sala, estava contando quem era Dom Bosco. O pessoal começou a gozar dele, mas quanto mais gozavam, mais ele buscava argumentos para falar quem era Dom Bosco e o trabalho que este fazia com os jovens. Mamãe ouvia tudo no quarto.
Ela não havia ouvido a conversa do médico com meu avô, mas, muito esperta, percebeu que o doutor havia desistido do parto. Naquela hora, Deus lhe deu uma inspiração e ela rezou: “Dom Bosco, eu não conheço o Senhor, mas entrego aos seus cuidados este menino; entrego-o em sua mãos. Cuide dele”.
Foi maravilhoso! As parteiras vieram correndo, porque eu estava nascendo. Eu sei que isso aconteceu por causa da consagração que minha mãe fez a Dom Bosco. Consagrando-me ao santo, minha mãe estava consagrando-me a Deus.
Quando conto aos médicos o que aconteceu comigo, eles dizem que é impossível! Inclusive, fui tirado com fórceps. Os médicos dizem: “O fórceps age dos dois lados: Tira a criança, mas aperta a cabeça dela. Ou você morreria ou ficaria louco. Não morri. Sou “louco”, mas de outro jeito, e você está contemplando essa loucura, que é o Santuário do Pai das Misericórdias e a própria Canção Nova, pois só por “loucura” de Deus para eu fazer tudo isso.
Aos dois anos, minha família teve de vir para São Paulo. Papai era pedreiro, e no interior já estava difícil encontrar trabalho. Foi uma aventura! Mas em tudo Dom Bosco cuidou de mim.
Havia uma escola em frente de casa, mas, mesmo com toda as dificuldades que passávamos, minha mãe não quis me matricular lá. Ela fez um esforço sobre-humano e, com suas costuras, colocou-me no Colégio das Irmãs da Providência de Gap, onde as irmãs maravilhosamente cuidaram de mim. Quando terminei o curso primário, elas me encaminharam para os Salesianos. Elas explicaram ao meu pai que eu iria estudar cedo e, à tarde, fazer oficina. Lá, eu fazia artes gráficas. E Deus sempre indo à minha frente!
Depois, fui coroinha, e mil outras coisas foram acontecendo. Logo, fui encaminhado para o seminário; outro milagre da parte de Deus.
Mamãe, por muito tempo, sofreu de tuberculose. Ela foi ao médico e ele quis falar a sós com meu pai. O médico lhe disse: “A sua senhora está tão mal que, a qualquer hora, ela pode falecer, pois o pulmão dela está todo infeccionado”.
Meus pais tinham dois filhos: meu irmão e eu. Imagine a situação dele! Ela não sabia o que o médico havia dito, mas, sempre muito esperta, mamãe entendeu tudo. Então, passou na Igreja de Santo Antônio do Patriarca, onde há uma imagem do Senhor Morto na entrada, ajoelhou-se e pediu a Deus: “Senhor, misericórdia! Eu não faço questão de viver, mas me deixe, pelo menos, criar meus filhos; deixe-me viver para criar os meus filhos”. Na mente dela estava José Carlos e eu, porque ela não sabia que teria mais filhos.
Logo, ela foi para a casa e teve hemoptise (vomitou sangue). Chamaram um acadêmico de medicina e ele ficou espantado; então, ligou para o médico e este disse: “Que bom que ela pôs para fora!”. Naquele momento, Deus estava atendendo ao pedido da minha mãe.
Ela continuou o tratamento e o médico lhe disse: “A senhora não deve engravidar. Mamãe fez de tudo para isso não acontecer, mas engravidou. O médico ficou muito bravo, e disse que ela teria de tirar a criança. Ele dizia: “Venha, vamos tirar esta criança. Se não, você não será mais a minha paciente!”.
Ela foi, então, a outra clínica. Lá, o médico disse que ela conseguiria cuidar da criança, e ainda acrescentou: “Você vai conseguir dar à luz essa criança e ela vai lhe devolver a saúde!”. Assim veio minha irmã, que foi a alegria para a nossa família. E o mais lindo: logo que a Maria veio, mamãe curou-se completamente, por dádiva de Deus, e ficou com o pulmão melhor que o meu. Após Maria ainda vieram mais três meninas. Hoje, somos seis: dois rapazes e as minhas quatros irmãs muito amadas e queridas. Deus é Deus e Ele age em nossa vida.
Estou vestido com este paramento, que é bem semelhante ao da minha ordenação sacerdotal. Como eu fui ordenado, mamãe me pegou pelo braço e disse: “Meu filho, você escolheu uma missão muito difícil!”. Ela só não disse: “Aguenta firme, meu filho!”. Mas falou: “Deus vai ajudar você”.
Estar com minha mãe era onde eu recebia a minha formação para a ordenação sacerdotal. Ela pediu a Deus para viver e cuidar dos dois filhos. Mas, no desígnio do Senhor, eram seis.
Quando minha irmã mais nova, Maria José, se casou, surgiu na minha mãe um câncer agressivo. Mamãe aceitou fazer a cirurgia com o doutor Martinho rapidamente. Graças a Deus, tudo foi bem. Então, ela foi morar na casa da Canção Nova em Queluz (SP). Lá, ela permaneceu um ano inteiro. Naquele ano, quando fizemos um compromisso, mamãe pediu-me para fazê-lo também. Ela fez parte da comunidade.
Nas férias do fim de ano, minha mãe voltou para São Paulo. Lá, o câncer voltou violento. Eu via o sofrimento dela. Por graça de Deus, eu contei a situação ao doutor Martinho e ele me disse: “Traga ela para cá!”.
Luzia Santiago conseguiu uma ambulância para Lorena. Era 24 de maio. O médico dizia: “Eu não sei como sua mãe aguenta, porque câncer de pulmão dói muito. Outras pessoas usam morfina!”. Eu não sei explicar a ausência da morfina, mas ou ela suportava a dor ou, pela graça de Deus, não sentia nada.
Em uma tarde, diácono Nelsinho, Luzia e eu estávamos com ela por volta das 15h. Então, eu me despedi dela, pois tinha de celebrar uma Missa. Quando voltei, eles me disseram: “A sua mãe, quando saiu, insistiu que chamássemos o senhor, mas já não o encontramos mais. Ele nos pediu para cantarmos ‘Maria de Nazaré’; depois, pediu para cantarmos a música de ‘São Francisco’”. E quando eles cantaram a canção de São Francisco, ela lhes disse: “Quando vocês cantaram a oração de São Francisco, ela saiu! Eu pedi que cantassem a ‘Maria de Nazaré’, porque assim que o Jonas saiu, ela entrou no quarto”. A Luzia e o Nelsinho disseram: “Ela quem, mãe?”. “Nossa Senhora”. Então, eu pensei: “Nossa Senhora veio visitar a minha mãe no dia da visitação”. Às 18h, ela, suspirando, pediu para eu ligar o rádio, porque queria ouvir o terço. Percebi o que estava acontecendo e lhe disse: “Mãe, entregue-se a Deus”. E ela se foi.
No enterro dela, em São Paulo, encontrei-me com meu tio Santos. Ele me perguntou: “Que história é essa?”. Foi quando eu lhe contei sobre a visita de Nossa Senhora. Ele disse: “Que bom que ela viu! Quando sua mãe estava aqui, em São Paulo, ela me contou que, quando estava com muita dor, vinha até ela uma senhora de veste branca. Sua mãe olhava para ela, mas não conseguia ver quem era. E ele concluiu: “Que bom que ela viu quem era!”. Realmente, Nossa Senhora visitou minha mãe, e foi Ela que a levou!”
Minha mãe, que hoje está no céu e comemora 101 anos, foi a presença de Deus na minha vida. E eu lhe agradeço muito. E por ela eu ofereço, junto de vocês, o que de mais precioso eu posso oferecer: a Santa Missa.
Saibam: a minha mãe teve a graça de ver Nossa Senhora. E a Mãe de Jesus faz assim com todos os seus filhos que, realmente, estão no caminho de Deus. Nós não a vemos como os nossos parentes que já faleceram. Mas creiamos, pois um dia veremos esse ente querido no céu. Mais do que isso, nós veremos Nossa Senhora, assim como minha mãe teve a graça de vê-la.
Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio.
Pregação ‘O milagre nosso de cada dia’, de monsenhor Jonas, em 14 de abril de 2015.