“Dá-nos um pouco da tua água” (Jo 4,7)
Estamos diante do fato do crescimento da intolerância religiosa em diversos lugares do mundo. Continuamente, surgem e se desenvolvem conflitos locais ou regionais, onde se encontram questões políticas e religiosas. A intolerância é “intra-religiosa, quando praticada entre membros de uma mesma tradição religiosa”; é “inter-religiosa, se realizada entre pessoas de religiões diferentes”.
No Brasil, “Em 2012, foram denunciados 109 casos de discriminação religiosa, conforme a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Das 11.305 páginas de redes sociais denunciadas, 494 apresentavam conteúdo de intolerância religiosa. Esse é um dos crimes virtuais com maior número de denúncias”.
Não é incomum, também no Brasil, sobretudo nas famílias, mas também em outros ambientes públicos e coletivos, a pressão para que uma pessoa “se converta” para outra denominação religiosa. Algumas famílias, formadas por membros que participam de igrejas e religiões diferentes, passam por crises diante da dificuldade da convivência com o diferente.
A Semana de Oração pela Unidade Cristã, de 17 a 24 de maio, organizada no mundo pelo Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, e no Brasil pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, que reúne a Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, e a Igreja Presbiteriana Unida, tem o propósito de insistir “na pluralidade como algo sonhado por Deus e no diálogo como caminho permanente para o testemunho cristão.”
O lema proposto para a Semana de Oração pela Unidade Cristã-2015, “Dá-nos um pouco da tua água”(Jo 4,7), inspirado no encontro entre Jesus e a Samaritana, “leva em consideração o diálogo entre duas pessoas: Jesus e a mulher e, entre culturas e religiões diferentes: um judeu e uma samaritana. Trata-se de um encontro no qual uma pessoa necessita da outra, em relação de complementaridade.”
No texto do evangelho de São João, capítulo 4, versículos 1-42, “o estrangeiro é Jesus; chega cansado e com sede; ele precisa de ajuda e pede água. A mulher está em sua terra, o poço é de seu povo, de sua tradição. Ela tem o balde e primeiro acesso à água. Mas a mulher também tem sede. E Jesus não deixa de ser judeu ao beber da água da Samaritana. A Samaritana adere ao projeto de Jesus, mas não deixa de ser quem ela é. Quando se reconhece que existem necessidades recíprocas, a complementaridade pode se dar de forma mais enriquecedora.”
“A frase ‘Dá-me um pouco da tua água” pressupõe, portanto, tanto o pedido de Jesus, como o pedido da Samaritana. Essa frase nos impulsiona a reconhecer que, enquanto pessoas, comunidades, culturas, religiões e etnias, necessitamos uns dos outros, umas das outras. Também temos necessidades recíprocas na relação ser humano e natureza. A pluralidade deve ser reconhecida e apresentada como um patrimônio da humanidade.”
“O pedido por água, feito por Jesus à mulher samaritana, é também o testemunho ecumênico que oferecemos aos irmãos e irmãs das muitas igrejas que anunciam a boa-nova de Jesus, nos mais diferentes contextos do mundo. A fé em Jesus Cristo precisa expressar-se nessa abertura para encontros e conversas. Não devemos ver no outro um inimigo ou uma ameaça, mas sim, reconhecer nele uma expressão do amor de Deus. Complementamo-nos e crescemos quando nos abrimos para estes encontros. Este é o nosso testemunho ecumênico.”
“Em contextos de intolerância e perseguições religiosas, colocamos diante das nossas Igrejas o desafio de fazer a experiência do diálogo. Saiamos de nossas casas e até de nossos templos e vamos ao encontro de nossos irmãos, irmãs, vizinhos e vizinhas. Ouçamos o que eles ou elas têm a contar sobre sua fé, sua vida, suas experiências e dúvidas. Celebremos juntos esta vivência plural do único amor de Deus!”
(Observação: as citações são todas retiradas do subsídio oferecido pelo CONIC)
Bispo Diocesano de São José do Rio Preto/SP