O amor tem me revelado muito de si mesmo em Bethânia. Das muitas facetas que dele aprendo a que tem mais me ensinado é a do amor feito espera. Aquele jeito de amar onde o amante é impotente diante das escolhas e decisões do amado. Sim! O verdadeiro amor é feito de espera silenciosa macerada na dor de quem é chamado a respeitar a liberdade do amado.
Explico-me. Quantas são as situações onde você, por mais que veja adiante, nada pode fazer? Quantas são as situações onde, se dependesse de você, tudo seria feito para evitar que o amado se machucasse ou se perdesse no caminho? Mas, eu e você sabemos por força do próprio amor, que situações existem em que você nada pode fazer. Resta-nos esperar. Espera silenciosa, dura, difícil como a do pai misericordioso que diante da decisão do filho que vai, se contenta em esperar na janela a hora do retorno. E o mais aterrador: Deus nos ama assim, pois sabe das tantas vezes em que contra sua vontade lhe dizemos não. Não há escapatória, compreender o amor feito espera é sinal de maturidade de quem ama.
Certa vez, me contaram da dor de um pai, médico, pediatra dos mais renomados. O doutor já ajudara inúmeras crianças. Perdeu a conta dos pequenos que tiveram seus males e enfermidades curados na boa medicina por ele exercida. Com o tempo passou a achar-se capaz de atender a qualquer caso e a qualquer criança. Até que chegou o dia em que seu próprio filho, de cinco anos, caiu enfermo. O pai pediatra por mais que fizesse, por mais tentasse, por mais que estudasse, não conseguia encontrar a cura para o filho. Restou-lhe amar, esperar, confiar.
Com pesar, entregou o filho nas mãos de outro especialista. E ele? Ah! Ele rezou. Esperou. Confiou. Amou. Graças a Deus o especialista era bom. Depois de meses de angústia e luta interior o pai viu o resultado. O colega especialista conseguira. A sua felicidade foi imensa, agradeceu o companheiro, tomou o filho nos braços e louvou a Deus. Colheu os frutos do amor feito espera.
Às vezes, muitas e muitas vezes nos sentimos exatamente assim. Somos médicos, mas não será o nosso remédio que curará. Temos aqui o dinamismo do verdadeiro amor.
Daquele amor do tema paulino de 1Cor 13. Amor que tudo crê. Tudo espera. Tudo suporta. Amor que jamais acabará. Amor que nos impele, na fé, a pedir ao Senhor que ascenda uma vela para iluminar a sombra inconsciente que não permite ver a luz de Deus, nessa hora de escuridão.
O amor que amadurece está em aceitar a impotência de quem ama diante do amado que escolhe. O amor que cresce e floresce está em aceitar nossa suposta fraqueza. Sim! Pois é como nos sentimos: fracos. É como fracos, que ao amar visando o bem do amado, nos curvamos diante da liberdade de quem fez suas escolhas boas ou ruins.
Fracos? Não! Fortes! Fortes porque nos tornamos capazes de esperar na janela da fé e da confiança. Isso também é escolha. Somos nossas escolhas e o resultado será de acordo com o que fizermos com as escolhas feitas.
Desejo a você um amor feito de escolhas. Desejo a você um amor feito de espera. Ame. Espere. Confie.