Com frequência, vemos pessoas em busca de cura dos males físicos e materiais. Religiões se movem nessa direção. Promessas por vários líderes são feitas, em nome da fé e mesmo com interesses de vantagens materiais para si, usando da carência e da boa fé das pessoas. Muitas curas acontecem pela motivação psicológica. Outras, por verdadeira confiança em Deus. Milagres acontecem. Deus os pode fazer e faz com muita frequência. No entanto, a cura física, psíquica e de efeito ou vantagem material não significa necessariamente a solução dos maiores males. Um deles é justamente a fixação nos interesses pessoais e na pouca realização do projeto de Deus.
Jesus realizou inúmeros milagres para ajudar as pessoas necessitadas a confiar nele e seguir o seu caminho. Nem sempre o povo O seguia porque Ele era o Messias, e sim por interesses pessoais. Ele mesmo lembrou-lhes isso. Mesmo se o ser humano tiver boa saúde e tudo o que quiser na ordem material, mas não acumular tesouro para a vida eterna vai adiantar pouco. “O que adianta a pessoa ganhar o mundo inteiro se vier a perder a vida?”. O tempo presente é importante e deve ser desenvolvido com boa qualidade para todos. Na sociedade, elites privilegiadas têm demais, até com salários astronômicos e são insaciáveis, inclusive na coisa pública. Maiorias sofrem sem terem o necessário para viverem com dignidade. Mas tudo deve ser usado com relatividade e em vista do sentido pleno da vida, dando base à subida para a vida eterna feliz. Nessa direção, seguir o Mestre é fundamental.
A Teologia da Prosperidade assenta base no reverso do projeto divino a nosso respeito. Deus ficaria a mercê da realização humana, promovendo seu bem estar como finalidade de tudo na vida terrena. A riqueza significaria a bênção divina. Os pobres, os párias, os sem nada são os coitados e desprezados por Deus, além de desqualificados pelos seres humanos-desumanos. Ao contrário: a verdadeira prosperidade está na conquista de dignidade, através da doação de cada em bem do semelhante. A riqueza material, o desenvolvimento econômico, científico, cultural, psíquico, tecnológico e moral ajudam o ser humano a conquistar sua dignidade. Isso, bem usado como serviço ao bem comum, vale como mérito para a conquista da vida eterna feliz. Deus vem a nós, humilde, pobre, simples e cheio de amor, misericórdia e bondade, para nos elevar à dignidade de filhos de Deus.
Imitando-O na pobreza do ser, cheio da riqueza de Deus, cada pessoa humana vai usar de tudo para uma vida de qualidade, mas na posse do ter como relativo. Dessa forma, o ser humano, esvaziado do orgulho, não coloca o que é material o principal na vida. Usa disso para realizar o bem de todos, com uma vida simples, sem ostentação, vaidade e injustiça em relação aos que nada têm. Uma coisa é miséria, combatida por Deus. Outra é a pobreza, conforme o próprio Jesus fala no Evangelho. “Bem-aventurados os pobres em espírito”. A riqueza material é boa, mas usada com este sentido de pobreza do ser diante de Deus. Quem vive essa pobreza, usa das qualidades e riquezas para o serviço ao semelhante. O acúmulo de riquezas na prática egoísta tira o valor da dignidade de quem a usa desse modo.
Quem não quer a cura dos males? A maior delas é a cura da personalidade, para ela produzir vida de qualidade para cada um. A panaceia da cura, usada às vezes teatralmente para impressionar os outros, faz-nos ter compaixão das pessoas enganadas com a prática da sugestão psicológica e pressão moral como meio de extorsão material a muitos, a despeito da focalização da religiosidade. Mesmo na base bíblica, os dons, inclusive o da cura, estão sujeitos ao dom do amor. Este faz a pessoa tornar-se solidária com os outros (Cf. 1 Cor 13).
Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros