É possível continuar vivendo “normalmente” em isolamento social?
Ser missionário é vocação, chamado de Deus. Aliás, não só para aqueles que aceitam entregar a vida a uma determinada ordem, congregação, ou a um estado de vida, mas também hoje, como podemos ver, dentro dos vários carismas que Deus suscitou no seio da Igreja para estes tempos. Isto quer dizer que a missionariedade é dom e compromisso de todo batizado, membro da Igreja de Jesus, anunciadora e portadora da Verdade.
Ser missionário na Comunidade Canção Nova não é diferente. É nosso objetivo proclamar, aos quatro ventos e por todos os meios que Deus nos deu, a beleza que não envelhece do Senhorio de Nosso Senhor Jesus Cristo e da sua Boa-nova. Estamos habituados a empregar o nosso tempo, as nossas habilidades, o nosso ardor de evangelizar e fazemos isso nas escalas dos nossos eventos, sejam eles Missas, tardes ou noites oracionais, cursos, ou mesmo na simples oração dos Terços. Gostamos de estar com o povo, à frente das equipes ou no meio delas, fazendo o que for preciso para que a nossa missão tenha êxito. Para nós não há diferença de local cheio ou menos cheio, se há muitas pessoas ou só umas poucas; ainda que uma pessoa apenas tenha vindo, trabalhamos com a mesma disposição e alegria.
Eis que chegou um inimigo invisível, silencioso, altamente perigoso e muitas vezes letal: o tal do Coronavírus, ou Covid-19. Primeiro ele fez seu estrago na China e, num mundo globalizado, chegou oportunista aos outros países da Europa, depois às Américas. E nós, que estávamos levando nossa vida achando que não seríamos afetados, eis que somos surpreendidos pela necessidade do isolamento social, a ponto de não podermos nem mais ir às nossas igrejas, nossas capelas e, no meu caso, também à minha comunidade Canção Nova.
A partir de agora quero relatar como isso tem sido para mim um desafio e uma oportunidade. Desafio porque tive que, de um dia para outro, ao invés de fechar a minha porta e sair, fazer o contrário: fechar a porta e tomar o caminho inverso para o interior da minha casa. Ao invés de encontrar as pessoas, sou obrigada a falar com elas pelos meios tecnológicos, que são muitos, mas que não substituem o olho no olho e o abraço apertado. Ao invés de resolver eu mesma minhas necessidades tais como supermercados, lojas, farmácias, dependo da boa vontade e generosidade do filho. Aí você já está querendo me perguntar: mas onde está a oportunidade?
Ah, meus queridos que agora me leem: elas são criadas por mim a partir da situação que se me apresenta, ou seja, posso ler, escrever, costurar e outras atividades parecidas, cuidar da casa, das plantas e de mim mesma… até chegar ao ponto de perceber que o tempo acaba ficando curto da mesma forma. Talvez você esteja pensando aí com seus botões: eu não gosto de ler, nem sei costurar, não tenho paciência para isso. A minha resposta é: a paciência vem pelo exercício. Eu sempre me achei impaciente… mas ninguém me supera em paciência quando eu decido aprender alguma coisa. Já percebeu o quanto a internet pode ser fonte de aprendizado? Eu aprendi a fazer terços, aprendi a fazer máscaras de tecido, aprendi a fazer pães, a juntar produtos e fazer misturinhas mágicas para limpar o box do banheiro… O meu dia sempre se torna um espaço de novidades e crescimento.
Mas o que é mais importante: estar na presença de Deus. Que pena ter que ver Missa pela TV, não poder receber Jesus na Eucaristia… então aproveito esta impossibilidade para ler textos que aumentem a minha necessidade e o meu amor por Jesus Eucarístico; para conhecer a vida de santo que antes só ficava na curiosidade, para ler o Catecismo, para estudar com mais empenho a Palavra de Deus. Ah, e para rezar… rezar… e rezar. Se antes não havia tempo para rezar, agora não há mais desculpa.
Nós, da Comunidade Canção Nova, temos a criatividade que o próprio Deus nos deu. Até onde é possível, usamos os meios de comunicação social para chegar às pessoas. Nossas atividades internas não cessaram. Da minha parte, além das nossas obrigações costumeiras, faço “lives” no facebook diariamente (menos nas sextas) e até ouso escrever textos como esse. O que nós queremos é que você saiba que é possível, com a ajuda de Deus, tirar coisas boas de circunstâncias não tão boas. Pense nisto!
Maria Helena
Missionária da Comunidade Canção Nova