A Quaresma 2023 tem seu início hoje, 22 de fevereiro, na Quarta-feira de Cinzas. A abertura da Quaresma na Arquidiocese de São Paulo aconteceu com coletiva de imprensa e Missa de Cinzas, às 15h, na Catedral da Sé. Na ocasião, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, o bispo auxiliar da Região Episcopal Sé, Dom Rogério Augusto, e Pe. Andrés Gustavo Marengo, coordenador da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de São Paulo, refletiram sobre o tema da CF 2023, que, neste ano, traz a seguinte ordem de Cristo aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (cf. Mt 14,16).
Não é possível que, em nosso meio, ainda aconteça a fome e a miséria, sem, como cristãos, nos interpelarmos para a seguinte pergunta: o que podemos fazer para que não haja mais fome? Sobre isso, Dom Odilo Scherer ressaltou:
“A fome existe. Basta olharmos ao nosso redor para percebermos que a fome é uma realidade. Ela é uma consequência de problemas climáticos, ambientais, mas também sociais, como a desigualdade social, as guerras e a falta de políticas adequadas para a produção de alimentos e de preços que permitam que todas as pessoas possam ter uma alimentação de qualidade. Além disso, do desemprego.
Não é hora de dizer: o problema da fome não tem nada a ver comigo”, destacou Dom Odilo. “O problema da fome questiona: porque existe fome? Como podem ser superadas as causas da fome?”
O Arcebispo de São Paulo também apontou como parte do problema o desperdício e o mal aproveitamento dos alimentos, a insuficiente qualidade da alimentação. Para ele, é preciso sair da esfera das idéias, e partir para uma atitude mais concreta, em especial, diante das calamidades que enfrentamos: “Não se constrói a fraternidade no nível das idéias. É preciso sair do mundo das ideias e ir para a realidade, para as ações. Estamos diante de catástrofes climáticas e ambientais, como esta que aconteceu neste fim de semana no litoral norte de São Paulo, ocasionada pelas chuvas, o que agrava o problema. No Brasil, há alguns anos – recordou Dom Odilo – já tem se percebido o número crescente de pessoas passando fome, seja em áreas rurais, reservas indígenas ou mesmo nos grandes centros urbanos, como se verifica na capital paulista, onde a fome afeta não só aqueles em situação de rua, mas também as famílias mais pobres que convivem com o desemprego.
Precisamos não apenas esperar que os governantes resolvam a questão da fome. Fazer a nossa parte. Mas é claro, que este tema da fome interpele os governantes, os poderes públicos, quanto as políticas públicas adequadas para o combate à fome e quanto aos investimentos necessários que devem ser feitos para a superação da fome.”
Dom Odilo destacou também que a Campanha da Fraternidade é uma campanha de evangelização que visa promover aos cristãos uma revisão de vida. “E um dos princípios básicos é este: o amor a Deus e o amor ao próximo caminham juntos. Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade é um chamado para vermos se nosso amor ao próximo está sendo verdadeiro, efetivo, mediante os desafios e urgências vividas por tantas pessoas, como no caso da fome”, diz ele.
Dom Rogério Augusto das Neves, bispo auxiliar da região episcopal Sé, afirmou que há uma exigência em meio a realidade da fome que vive a sociedade: “A escassez não é desculpa para não repartir. Ao contrário, ela é exigência para que haja partilha. Na abundância, a exigência é não desperdiçar”.
Para o Pe. Andrés Gustavo, é preciso aprofundar os trabalhos e obras de combate à fome que já existem na Igreja. “É preciso aprofundar e organizar o que já existe. É preciso que os cristãos atuem cada vez mais, como já atuam, nas áreas sociais e políticas, em prol do bem comum e do combate à fome. A Quaresma é um tempo de olhar para o nosso estilo de vida e questioná-lo”.
O que esperamos deste tempo de Quaresma que se inicia são frutos abundantes. Frutos espirituais, mas frutos que também possam ser sentidos em nossa sociedade. Que possamos encontrar no apelo de Cristo aos seus discípulos, o impulso missionário para alcançar, com a partilha e a caridade, os mais pobres e desvalidos de nossa sociedade.
Reportagem: Vanessa Rossi Lacquaneti
(Canção Nova São Paulo)