Sempre comovi-me ao ler notícias de cristãos perseguidos. Tentava colocar-me em seus lugares e pensava sobre como era, para eles, adaptar-se diante daquela situação e reunir-se, celebrar o rito e viver o Evangelho no dia-a-dia; no quanto preservavam-se mas, também, na coragem de não negar a fé caso fossem pegos.
Desistia desse exercício em pouquíssimos minutos. Não podia conceber o fato de que mutilações e martírios continuassem existindo passados milhares de anos após a vinda de Jesus a esta terra. É difícil imaginarmo-nos em uma situação estando longe, em algo que não faça parte da nossa realidade! Rezava por estes irmãos mas, a cada tentativa de colocar-me em seus sofrimentos, gritava em pensamento “Deus me livre!” e desviava minhas ideias.
Eis que chegou, então, o coronavírus. Com ele, vieram também a recomendação do isolamento, por conta de sua alta capacidade de transmissão e, acima de tudo, o medo, diante de sua alta taxa de letalidade verificada em países como China, Itália, Espanha e Estados Unidos. Atentas às orientações das autoridades de saúde quanto ao “perigo” das aglomerações, até as igrejas fecharam suas portas; agora temos de louvar a Deus por ainda podermos participar das missas pelos meios de comunicação e pelas mídias sociais.
Diante de tal circunstância, tenho lembrado mais destes irmãos perseguidos e, talvez, compreendido mais sua realidade a partir da “saudade de Jesus” que tenho sentido; desta quebra de paradigma que, por ora, me priva da Eucaristia e faz contentar-me com a comunhão espiritual. Acima de tudo, minha admiração a eles agora é maior, por assimilarem hoje a inspiração do apóstolo Paulo no início do cristianismo, de que a Vida é Cristo e a morte é lucro; tudo é para que Deus seja engrandecido (cf. Fl 1, 20-21). Pelo Senhor, estas pessoas se arriscam e, em algum momento, padecem heroicamente.
Sim, estamos em guerra. O momento exige atenção de nossa parte, não apenas nas práticas de asseio, lavar as mãos é a principal delas e de sociabilidade, mas também no que diz respeito à espiritualidade. Afinal, é certo que só iremos perseverar e vencer este tempo de reclusão na vida de oração. Só por ela compreendemos que Deus nos ama e fortalecemos nossa intimidade com Ele. E é nesta relação estreita que a comunhão espiritual nos fará sentido.
Estas são as armas contra o medo. No “Momento Extraordinário de Oração em Tempo de Epidemia” do dia 27 de março último, ao refletir o Evangelho de Marcos (cf. Mc 4, 35-41), o papa Francisco apresentou a Deus a confiança que deve ser nossa também: “Pede-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: ‘Não tenhais medo!’ (cf. Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, ‘confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós’ (cf. 1 Pd 5, 7)”.
É nossa missão, ainda, animar os irmãos que temem sempre o pior, pois nossa fé é fortalecida também na união. O que seria dos cristãos perseguidos se não cultivassem entre si a unidade? Para isso, devemos nós, primeiramente, permitir que Deus nos encoraje. No mesmo ato, o pontífice recordou-nos, em sua homilia, de que “perante o sofrimento, no qual se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: ‘Que todos sejam um só’ (cf. Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! […] A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras”.
Sabemos como este tempo pode ser vencido. Ou melhor: temos a certeza de que, em Deus, a vitória neste combate é nossa! Entretanto, precisamos cumprir com o que é de nossa obrigação e pedir a Deus para que olhe com misericórdia para nós e cesse todo o mal, sem deixar de nos formar com toda esta situação. Perseveremos!
* Lucas Vieira é jornalista e apresenta, de segunda a sexta-feira, das 18 às 19h, o programa “Fim de Tarde”, na Rádio América Canção Nova – AM 780, em São Paulo (SP)