Quando recebi o convite para escrever ao Blog da missão de São Paulo, pensei em diversos assuntos pertinentes aos que vivem em uma cidade como São Paulo. Mas no meu coração conservava o desejo de falar sobre a figura do pastor nos dias de hoje. Providencialmente, o tema é bem atual, pois em Roma iniciou hoje e se estende até sexta-feira o Encontro Internacional dos Sacerdotes, na Basílica São Paulo Fora dos Muros, com a meditação do Arcebispo de Colônia (Alemanha), Card. Joachim Meisner, sobre o tema “Conversão e Missão”.
Todos conhecemos o tema do Ano Sacerdotal que estamos celebrando: “Fidelidade de Cristo, Fidelidade do Sacerdote.” É comum ficarmos aterrorizados diante de um pecado praticado por um sacerdote, ainda mais quando estampado nas principais páginas dos jornais. Há sempre um problema com o qual somos todos confrontados: o conflito entre a lei e a liberdade do homem. A lei pode ser aquela que escolhemos entrando numa comunidade religiosa, ou nos casando, ou nos engajando na constituição de uma família, ou mesmo nas leis de um país. Há conflito quando olhamos os fatos e vimos que alguém que jamais esperávamos se envolveu em um ato de violência e imoral, mas também existe conflito quando olhamos o mesmo ato de um ponto de vista diferente: o conflito entre aquele que tenta compreender a violência de um homem e aquele que defende a propriedade, o respeito à lei e à ordem. Há conflito entre a lei e a ordem, entre a lei e a nossa liberdade pessoal.
A solução para este conflito acredito que seja tomar consciência da nossa própria infidelidade, descobrir quanto estamos longe de seguir verdadeiramente o príncipe das bem-aventuranças, independente de quem somos: leigos, padres, pais de família, trabalhadores. Devemos sentir quanto estamos distantes destas palavras de Jesus: “Bem aventurados os pobres de espírito; bem aventurados os mansos; … os puros de coração;… os artesãos da paz;… aqueles que são perseguidos por causa do nome de Jesus”. Estamos longe de ter o dinamismo e a energia necessários para levar a paz e criar novos caminhos, ao invés de divisão.
E por falar em caminhos, o evangelista Marcos fala da tristeza do jovem rico quando recebeu o chamado de Jesus para seguí-lo, mas não diz da tristeza de Jesus, que o amou. Jesus o olhou e o amou. O coração de Jesus ama, e quando chama alguém para o serviço, para o sacerdócio, por exemplo, não é para dar-lhe um trabalho, mas porque o ama. E eis que, por fruto do pecado, do “não” de Adão, a morte está no coração do universo, o pecado, no coração de cada um de nós: eis nossa angústia e pobreza.
Há grande ternura em Jesus. Gandhi era um grande discípulo de Jesus das bem-aventuranças. Fez tudo o que pôde para mudar a mentalidade que classificava homens como “intocáveis”, chamados “haryhan”. Ia viver no bairro deles e, para vê-lo, as pessoas tinham de ir à parte da cidade reservada aos excluídos. JComo Jesus, Gandhi se identifica com os pequenos. As pessoas seguiam a Jesus pois moravam num país ocupado, onde há muitos partidos e facções e Jesus aparece como um homem dotado de poder, que seria um bom chefe e expulsaria os ocupantes. Mas Ele não quis se tornar o “rei da terra”. E hoje, não vamos atrás de um sábio, de um filósofo que estabeleceu um pensamento, de um homem que fundou uma ideologia, um pacifista. Jesus não se impõe: ele não tenta reter as pessoas. Mas também não tenta diminuir o que disse e atenuar através de acordos. Ele não coloca água no vinho pra diluir sua mensagem.
É importante observar que pastor é Jesus, para descobrir como devemos ser pastores. Não são somente os padres que são os pastores. Cada um de nós, de uma maneira ou de outra, é um pastor. Há falsos amigos que riem conosco, mas não choram quando choramos. São falsos amigos. Mas amigos são chamados a ser pastores uns dos outros. Os pais também são pastores de seus filhos. Eles se preocupam quando um filho começa a se drogar, mas também se preocupa quando um deles faz parte de um grupo de oração, especialmente se é carismático. Quando entra para o seminário então, dizem estar obstinado.
Ao longo da minha vida sempre participei da Igreja, de oratórios salesianos, de grupo de coroinhas, tocava nas missas, frequentava assiduamente a catequese, e assim aprendi a amar os pastores da Igreja, os nossos sacerdotes. Neles eu encontrei as palavras de Madre Teresa de Calcutá: “Meu povo tem fome”. “Meu povo”. Não há repouso quando se diz “meu povo”. Estes são os bons pastores, comprometidos com o seu povo. E assim os encontrei. Hoje eu não reduzo a minha visão ao que os meios de comunicação “jogam no ventilador” contra os nossos padres. Boa parte dos que conheci testmunham o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas.
Parabéns aos sacerdotes que dedicam a sua vida pela causa da evangelização. Rezemos pelos nossos padres do mundo inteiro, e por aqueles que estão reunidos hoje em Roma.
Termino com um convite: todos nós aprendamos, onde quer que estejamos hoje, a crescer na arte de ser pastores – discípulos e missionários de Cristo Jesus.
Vanessa Lacquaneti
(Dpto. Eventos – Missão Canção Nova de São Paulo)