(capítulo 7 do livro “Repensando o Matrimônio” de Dom Cipriano Chagas – osb.)
O que significa ser homem? O que significa ser mulher? Não há perguntas mais importantes. E observem que são perguntas inerentemente sexuais, perguntas sobre “ser um corpo.
Naturalmente, a capacidade mesma de questionar e de maravilhar-se flui de nossa dimensão mais profunda, espiritual. Mas, a anomalia humana é que nossa dimensão espiritual é manifestada em nossa dimensão física.
Foi em seu corpo que Adão deu-se conta de que estava “sozinho” no mundo e que não era bom estar só. Fomos feitos para o amor, para a comunhão com um “outro”. Isto é que o corpo nos ensina: somos feitos para o amor. O homem não pode viver sem amor. Ele permanece um ser que é incompreensível para si mesmo; sua vida não tem sentido se o amor não lhe é revelado, se não encontra o amor, se não o experimenta e se apropria dele, se não ousa participar intimamente nele. É por isso que Cristo Redentor revela plenamente o homem a si mesmo, porque seu corpo “entregue por nós” (Mt 26,26; Lc 22.19) revela a verdade sobre o amor encarnado.
A vocação a “encarnar o amor” não é abstrata. Mesmo que o pecado nos tenha distanciado da beleza e da pureza do plano original de Deus, todos conhecem a “dor” da solidão e o desejo de comunhão. Todos conhecem a “atração magnética” do desejo erótico.
Este desejo humano básico de união, na verdade, é a ligação mais concreta em todo coração humano com “aquele homem que viveu há dois mil anos.” Pois todo desejo humano, quando purificado, leva-nos a Cristo, e nenhum é mais forte do que o desejo de unir-se com um “outro” no abraço sexual. “Por esta razão… os dois se tornam uma só carne.” Por que razão? Pra revelar , proclamar e antecipar a união de Cristo com a Igreja (Ef 5, 31-32).
Somente a eterna, extática comunhão nupcial com o Cristo e toda a comunhão dos santos – tão superior a qualquer coisa própria da vida na terra que ultrapassa nossa capacidade de examiná-la – pode satisfazer a “dor” da solidão humana. Este é o Polo Norte para o qual se orienta a atração magnética do desejo erótico. Imitando Santo Agostinho podemos dizer que fomos feitos para a comunhão com Cristo, e nossos corações estarão inquietos enquanto não descansarmos no abraço eterno.
(Dom Cipriano Chagas – Comunidade Emanuel – Texto encaminhado por Mauro Moutinho Malta)